Souls and Smiles

Planos

O clima na sala estava pesado, ninguém ousava dizer absolutamente nada, Muzan encarava Ume de forma assustadora, e a garota apenas se mantinha encolhida em sua cadeira.

Ume e Gyutaro eram antigos criados da família Kibutsuji, mas com o surgimento de um plano específico, foram infiltrados na casa Agatsuma há mais de três anos. Com as recentes falhas cometidas pela mais nova, Gyutaro acabou recebendo a punição no lugar dela, fazia quase um mês que o pobre alfa estava preso no sótão da mansão. Muzan não admitiria outra falha, não justo quando um possível ultimato estava nas mãos da beta.

- Você fez o que eu mandei? - Muzan perguntou cruzando as pernas. Todos voltaram seus olhares para Ume.

- F-fiz....

- Ele está morto? - Os olhos vermelhos como sangue se estreitaram, Ume engoliu em seco buscando forças para responder.

- M-morrerá em b-breve.- Ela respondeu sentindo os olhos lacrimejarem em desespero.

Todos arregaralam os olhos quando Muzan se levantou abruptamente da poltrona, Enmu e Daki se encolheram em seus lugares, Douma soltou um suspiro nervoso, Kokushibo havia cochilado com a cara enfiada num travesseiro sob o colo. Ume estremecia em sua cadeira, seus desespero era tamanho que não se sentia capaz de sequer falar absolutamente nada, pensava em seu irmão e o que seria dele graças a sua falha.

- O veneno que eu mandei fazer, era forte o suficiente para matá-lo instantaneamente!!- O mais velho ergueu sua voz exibindo toda sua indignação e fúria. - O QUE VOCÊ FEZ DE ERRADO?

- E-EU FIZ CERTO!! EU, E-EU JURO!!- Ume gritou de volta sem pensar direito, todo seu corpo tremia e as lágrimas agora desciam pelo rosto livremente, sua face tomando tons cada vez mais vermelhos de nervosismo.

- Está gritando comigo?- Muzan sibilou aproximando seus rostos até que tudo que Ume podia ver, eram as grandes íris vermelhas encarando sua alma. 

-N-não! Muzan-sama, eu--

Sua frase foi interrompida por um estalo alto, do qual ecoou pelo cômodo quando sua face vermelha foi atingida por um tapa. O corpo pequeno da platinada foi lançado para longe da cadeira, indo cair de forma desajeitada perto da parede, ao lado de Kokushibo, que acordou no susto erguendo o rosto do travesseiro rapidamente.

-ERA PARA TODA ESSA PORCARIA TER ACABADO HOJE, COM A MORTE DO MALDITO VELHO!! KAIGAKU ESTARIA SOB A POSSE DOS BENS AGATSUMA E TODA AQUELA FAMÍLIA RIDÍCULA ESTARIA FORA DO NOSSO CAMINHO!!!- Muzan ergueu a mais nova do chão pela gola do vestido. - GRAÇAS A VOCÊ, O CASAMENTO DO PIRRALHO COM O UZUI SEGUIRÁ ADIANTE E PERDEREMOS A PORRA DE TODO NOSSO TEMPO PARA DESTRUIR AQUELAS DUAS FAMÍLIAS PATÉTICAS!!!

- Pai....- Douma chamou baixinho erguendo o leque fechado, como um pedido de permissão para falar.

- O que foi, Douma?- Ele soltou Ume sem se importar com o baque surdo do corpo da garota contra o chão.

- Não acha que estamos perdendo tempo demais investindo em uma família só? Estamos nessa sina desde o casamento de Inako, e o outro problema está sendo deixado de lado. - Apoiou o leque no queixo enquanto pensava.- Temos que resolver as pendências com os Agatsuma e com os Uzui. Então por que não esperamos eles se unirem em matrimônio, se tornando uma família só, para então destruí-los juntos? - Abriu um sorriso fofo de olhos fechados e sobrancelhas levantadas.

Muzan respirou fundo analisando a sugestão de um de seus subordinados mais antigos, Douma era uma coisinha irritante e manipuladora, mas não podia negar sua utilidade. Douma sempre foi diferente dos demais, não se importou muito com a morte de seus pais quando era apenas uma criança, não tinha problemas em lidar com os métodos de ensino e correção de Muzan, apesar de claramente não gostar muito. Muzan havia visto algo interessante nos olhos arco-íris além da beleza, julgou ser uma ferramenta útil para os negócios da familia Kibutsuji e resolveu o acolher. É claro que Douma sendo Douma, dava trabalho de vez em quando, principalmente com sua mania irritante de se preocupar e nutrir afeto sincero com Daki, da qual o chamava de "Oni-chan" quase sempre.

- Ótima ideia. Não acha, Kokushibo?- Perguntou se virando para o filho mais velho, do qual nem se deu ao trabalho de ergueu o rosto travesseiro, apenas levantou o polegar de uma das mãos em concordância. Muzan suspirou massageando as temporas. - Kaigaku, tenha paciência. Deixe as coisas tomarem seu curso com os Agatsuma, depois que eles se casarem nós voltaremos aos planos. Enquanto isso, vamos voltar nossa atenção para os irmãos Shinazugawa, Akaza e Gyokko vão encerrar o assunto com eles dentro de um mês.

- Acho que levaria menos tempo se Kokushibo fosse no lugar de Gyokko. - Akaza resmungou cruzando os braços.

- Kokushibo vai estar ocupado com as negociações com os Tomioka. - Daki lembrou enquanto limpava uma sujeira debaixo das unhas afiadas.

- Assunto encerrado.- Muzan declarou.- Se quiser voltar, já pode ir. - Se dirigiu a Kaigaku enquanto voltava a sentar em sua poltrona.

O moreno não estava afim de continuar com a festinha dos irmãos, então não hesitou em se levantar e caminhar para fora da propriedade, subiu em seu cavalo e se foi. Nakime suspirou decepcionada, apesar de ser irmã mais velha de Kaigaku, e de já estar acostumada com a dinâmica da "família", não se sentia bem com o total descaso do irmão a respeito de si, sentia um pouco de inveja de Douma e Daki.

Rui e Enmu ficaram encarregados de levar Ume para o sótão, e cinco minutos depois de toda a confusão o clima tenso já havia se dissipado. Daki tinha voltado a cantarolar acompanhada do violão de Nakime, enquanto se equilibrava no braço da poltrona de Muzan e brincava com seu chapéu. Douma tinha ajudado o sonolento Kokushibo a ir sentar ao seu lado no sofá, e agora se arrependia disso, o mais velho havia o transformado num travesseiro e os longos cabelos negros cobriaram parte de seu queixo equanto ele era esmagado contra o sofá.

Akaza havia saído para contatar Gyokko, o filho estilo Plutão da família, se só aparecia de vez em nunca e logo sumia novamente, mas claro que ele tinha a permissão de Muzan para isso, na maioria das vezes ele estava lucrando nas cidades grandes com suas obras de arte, e obviamente Muzan não reclamava do dinheiro extra (além da fortuna de os Kibutsuji já possuiam). Muzan e seus filhos eram como uma família mafiosa, ou algo parecido, assim como ele próprio foi com os irmãos e o pai, ele também buscou seus órfãos para torná-los subordinados fiéis que cumpriam ordens e traziam honra para o sobrenome da família. Era uma tradição de longas gerações, e claramente problemas de gerações passadas ultrapassavam os tempos, como por exemplo a constante perseguição dos Shinazugawa.

Para a sorte de Muzan, seus filhos vinham conseguindo resolver a maioria dos problemas sem muita enrolação, mas para sua infelicidade, o a pendência com os Agatsuma demoraria um pouco mais de tempo do que o esperado.

____________