Despedida

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O dia havia amanhecido com uma tensão melancólica no ar, o silêncio predominando cada cômodo da grande casa, cortinas pretas sendo postas nas janelas. Os criados andavam de cabeça baixa pelos corredores, seus uniformes geralmente verdes foram substituídos por tecidos pretos e cinza,  em suas mãos, velas acesas e flores brancas.

A família Kamado, Inosuke e sua mãe, e os quatro Uzui visitantes, estavam no corredor do quarto de Jigoro, o silêncio sepulcral sendo interrompido por fungadas de nariz acomanhadas de lágrimas. Suma assoava o nariz escandalosamente em seu lencinho, Inosuke mantinha seus olhos vidrados na porta fechada, assim como Tanjiro, esperando o momento em que a figura loira sairia.

Dentro do quarto, Zenitsu se encontrava ajoelhado ao lado da cama, seu rosto enfiado entre os lençóis e ambas as mãos segurando os dedos gélidos do avô, seus ombros sacudiam em meios aos soluços, o choro copioso de lágrimas grossas descendo por suas bochechas, algumas pingando na cama, outras escorregando até o pescoço e molhando a gola alta da camisa preta. O tempo havia acabado, e Zenitsu não conseguia sentir mais do que a mais profunda saudades lhe consumir, a solidão se instalando no peito como uma facada.

Kaigaku estava sentado de braços cruzados numa cadeira afastada, observando com pesar seu pequeno ômega sofrendo com a perda. Preferiu não dizer ou fazer nada, uma parte de si estava satisfeita com o desfecho da situação, mas sabia que ainda havia um bom caminho á frente para poder finalmente ter Zenitsu para si. Estava incrivelmente paciente e conformado com o fato da partida do irmão para a casa dos Uzui, ele se casaria naquela noite, e Kaigaku ficaria sozinho na imensa casa, seu único consolo era saber que Muzan não passaria muito mais tempo esperando.

Zenitsu se levantou devagar, os olhos vermelhos e inchados, as trilhas de lágrimas ainda visíveis no rosto, o queixo tremendo enquanto suas mãos seguravam forte demais o tecido da própria calça. Soltou um suspiro, seus olhos encarando mais um pouco o rosto pacífico de Jigoro, a carranca não estava mais lá, e por um instante, o Agatsuma esperou que o velho fosse abrir os olhos novamente e perguntar por que estava chorando de novo.

Ignorou Kaigaku no quarto e virou-se para a porta, saindo a passos lentos do cômodo. Assim que seu corpo ganhou o corredor, sentiu braços em sua volta, a cabeleira ruiva de Tanjiro roçando seu olho esquerdo enquanto o abraçava, a mão de Inosuke apertando forte a sua direita.

- Sinto muito, Zenitsu.- Nezuko se manifestou, suas mãos pousadas sobre a barriga pouco volumosa, o olhar baixo e desolado.

A família Agatsuma e os Kamado sempre foram muito próximos, quando crianças, Nezuko vivia vijiando Tanjiro e Zenitsu em suas aventuras, lhes ensinando coisas novas e cobrindo suas travessuras dos adultos. Jigoro era um grande amigo de seu pai, e assim como ela, o Sr.Kamado estava mergulhado em tristeza.

Zenitsu se manteve calado, sentia que se dissesse um mero "a" voltaria a chorar. Tanjiro se soltou dele, e assim como Inosuke, segurou sua mão enquanto limpava as lágrimas com a manga do vestido.

- Tengen, mande uma carta a sua família pedindo para adiar o casamento para amanhã.- Zenitsu pediu num fio de voz, buscando não olhar para nada além do chão naquele momento.







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A noite já havia tomado o céu, um vento frio soprava balançando as árvores e o gramado, levando junto a si as flores caídas e as folhas secas do fundo do quintal Agatsuma.

Zenitsu se encontrava ali, sentado no chão sem se importar com o vestido, encarando o túmulo de seu avô, as velas apagadas pelo vento o deixando no escuro. Ao lado haviam mais dois túmulos, repletos de flores e velas de incenso quase acabadas, o descanso de seus pais esteve ali aquele tempo todo.

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