Verdades Incompletas

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O quarto estava silencioso e organizado, o cheiro de remédios e ervas ainda permeavam pelo ar, mesmo os materiais médicos terem sido retirados há um bom tempo. Tamayo e Shinobu haviam tido uma breve conversa com o Agatsuma mais novo antes de irem embora, e agora o mesmo se encontrava em profunda tristeza.

Zenitsu segurava a mão do avô adormecido, havia puxado uma cadeira para perto da cama e sentado ali há bons minutos, Tengen se mantinha encostado na porta de braços cruzados, apenas para não deixar o ômega sozinho. Lágrimas silenciosas desciam pelas bochechas do loiro, seus dedos tremendo enquanto acariciava a mão calejada do mais velho. Sentia como se toda sua vida fosse um grande erro, sentia como se fosse uma praga na vida de sua família.

- Você sempre está chorando, por kami-sama! - Zenitsu tomou um susto com a voz rouca e baixa do avô. O velho encarou o rosto tristonho e molhado do neto, não sabia exatamente o que dizer naquele momento. - Até chorando você parece com Inako, apesar dele não viver chorando por aí. - Resmungou após suspirar pesadamente.

- D-desculpa.....por t-tudo. - O mais novo se apressou em pedir desculpas, tentando segurar as lágrimas que agora paceriam se intensificar.

- Não peça desculpas. - O velho fez um esforço para sentar, queria conversar com o neto de forma mais apropriada. - Eu já sei que não tenho muito tempo de vida, então não fique achando que sou um pobre coitado, eu já aceitei a situação. Tenho algumas coisas para te dizer antes que seja tarde.

Zenitsu  puxou a cadeira mais para perto. Seu avô parecia estar lidando com os fatos bem melhor que ele, talvez já estivesse esperando a morte de qualquer forma, dado a sua idade avançada.

- Eu que deveria te pedir perdão pelas coisas que fiz, e as que deixei de fazer. Não te protegi das situações que te feriram, deixei falarem o que quisessem de você, não fui um bom avô. Além de nunca ter dito nada sobre seus pais, só por que o assunto me feria também, eu não deveria te deixar perdido e abandonado como deixei. - Apertou forte a mão do neto, sentindo que aquele era o momento de dizer tudo que havia guardado para si em todos esses anos. - Eu sempre tive muito orgulho de você, Zenitsu. Seu sorriso foi minha salvação nos dias sombrios onde a solitude falhava, essa sua carinha tão parecida com a de Inako me trazia boas lembranças.

Jigoro tinha muitos arrependimentos em sua longa vida, havia falhado várias vezes com sua família e agora não tinha como voltar atrás. Apesar de tudo, ele ainda se mantinha firme e no eixos, permanesceu sendo sustentado pelas memórias de seu filho, e das novas esperanças que vieram com seu neto.

- O senhor sempre cita "Inako", mas nunca diz quem é. - Zenitsu interrompeu com sua curiosidade.

- Perdão, eu deveria ter deixado você saber ao menos isso. Inako é o nome da sua mãe. - O velho sentiu seu coração apertar quando os olhos dourados de Zenitsu se arregalaram. - Você é igualzinho ele, os cabelos loiros e lisos, os olhos dourados reluzentes e esse jeitinho descontraído e rebelde. Inako também vivia andando pela casa com a cara e as roupas sujas de tinta, aquele estúdio era dele antes de toda a tragédia ocorrer.

- O e-estúdio.....é d-da mamãe?- Zenitsu sentiu um nó se formar em sua garganta, esteve aquele tempo todo num ambiente herdado de sua mãe, e nunca soube. Agora mais do que nunca, fazia total sentido por quando sempre buscava refúgio no estúdio, quando os problemas e as tristezas assolavam sua alma, era lá seu esconderijo e conforto.

- Eu tenho guardado alguns quadros dele no armário do depósito, antes eles ficavam pendurados nos corredores, mas resolvi me poupar de lembranças tristes e os tirei da vista. - Jigoro sentia uma culpa imensa crescer em seu peito a cada frase. - O nome do seu pai era Yochire, ele era um alfa sério e gentil, mas se transformava num moleque sem noção quando estava junto de Inako, os dois eram terríveis juntos. Nas festas ele sempre sumiam e voltava horas depois, morrendo de rir de alguma confusão que haviam se metido, ou de alguém que eles derrubaram no lago. Foi o pior dia da minha vida quando Inako deixou Yochire entrar no estúdio, tenho até hoje a camisa que eles derrubaram tintas misturadas sem querer, enquanto corriam com pincéis na mão, numa lutinha esquisita que sujou a casa toda. Se eu soubesse que seria assim nunca teria permitido o casamento daqueles dois malucos.

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