Anseio

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Se dissesse que estava perfeitamente bem, estaria mentindo. Zenitsu naquele momento não conseguia nem definir o que merda estava sentindo, era como se de repente toda a insegurança do mundo tivesse se transformando num pacote pesado e jogado impiedosamente em seus ombros. As lágrimas que desciam silenciosamente por suas bochechas pelo menos limpava alguns dos respindos fracos de tinta.

Desde o momento tenso que teve com Kaigaku na noite anterior o Agatsuma se encontrava em estado de choque, havia dormido muito pouco e sua cabeça doía, não falou com absolutamente ninguém desde que amanheceu, apenas se trancou em seu mine estúdio buscando consolo em seus pincéis. Naquele instante ele mal conseguia ver direito sua mais recente obra finalizada, as lágrimas que brotavam de seus olhos nublando toda sua visão, era inevitável. Não soluçava ou expressava nenhuma reação em seu rosto, ele estava em completo silêncio, um gosto amargo de desgosto em sua boca quando mordeu o interior dos lábios a ponto de sangrar. Sua mente se mantia vaga, não pensando em nada e em tudo ao mesmo tempo, buscando entender o que merda ocorria com Kaigaku ao mesmo tempo que só queria fingir que nada aconteceu.

Estava confuso, não entendia e nem conseguia imaginar quais seriam os possíveis motivos de Kaigaku para agir dessa forma. Naquelas horas ele sentia falta dos pais, seu avô não era muito bom dando conforto, ele era mais do tipo que lhe daria um golpe com a bengala por choramingar, soltar uma frase esquisita que o loiro nunca entendia direito, e ordenar que se focasse em algo útil. As vezes o ômega pegava se perguntando se seus pais o abraçariam, se lhe dariam uma xícara de chá quentinho e beijariam sua testa para então explicar o que ele deveria fazer com sua vida.

Limpou as lágrimas do rosto sem se importar com a tinta azul, analisou a pintura delicada de borboletas e galhos secos saindo dos curtos cabelos castanhos de uma mulher pálida como um morto. O contraste do castanho incrivelmente claro com os galhos escuros e as borboletas vívidas e coloridas era bonito e satisfatório.

Ouviu batidas na porta, pensou seriamente em não atender, primeiramente por que estava indisposto física e mentalmente para interagir com qualquer um, e também por que estava completamente desarrumado, tanto suas calças bege quanto sua camisa grandona azul estavam manchados de tinta, assim como seu rosto e suas mãos. Hesitou apenas por dois segundos, resolvendo por fim abrir a porta.

Sorriu ao se deparar com Tanjiro e Nezuko parados no corredor. Era raro ver Nezuko por ali, ela era a ômega mais velha dos Kamado e tinha se casado há alguns meses com a alfa mais nova da família Kocho, Kanao. Pelas regras, o ômega desposado deve passar a morar com a família do alfa após o casamento, e passarem a ter sua própria resistência somente quando o ômega engravidasse. A única coisa confortável dessa situação é que ninguém nunca estipulava prazos para esses acontecimentos. Graças ao fato da família Kocho morar em outra vila, Nezuko raramente aparecia por alí.

-Oh Kami-sama, Nezuko!!!- Zenitsu gritou animado praticamente puxando os irmãos para dentro. - Nem me lembro quando foi a última vez que te vi!

- Foi há três meses,no aniversário do Tanjiro. - Ela respondeu gentil como sempre. - Uhh, parece que você andou bem ocupado.- Disse a morena olhando para os quadros espalhados pelo cômodo.

- Um pouco. Mas, qual o motivo da visita?- Zenitsu pegou algumas almofadas e arrumou na chão para que sentassem de forma confortável.

- Eu contei para a Nezuko sobre seu noivado e ela quis vim acompanhar esses eventos. Você sabe que praticamente faz parte da nossa família, mamãe vive usando você de exemplo para os mais novos, o papai que te ensinou a dar esses socos fortes. - Tanjiro sorriu com o revirar de olhos do Agatsuma.

-Eu não perderia isso por nada. - Nezuko completou com um sorriso grande. - Inclusive, aproveitei a oportunidade de estar aqui para dar a notícia da minha gestação para a família.

Zenitsu arregalou tanto os olhos que Tanjiro quase achou que iriam sair para fora, o loiro baixou o olhar para a barriga da morena, percebendo só então a pequena e suave elevação no vestido rosa.

-KAMI-SAMA!- Gritou afobado intercalando o olhar entre o rosto assustado de Nezuko e sua barriga.- OH EU VOU SER TITIO!! Como vai se chamar??!

-Se for menino será Yato, se for menina será Maki.- Nezuko respondeu acariciando a barriga pequena, seus olhos rosa encarando o volume em seu vestido com ternura.

Com os irmãos Kamado ali, Zenitsu conseguiu esquecer toda sua preocupação e ansiedade por um tempo, aproveitando as conversas e brincadeiras que chegaram ao fim junto com o início da tarde. Após a janta, que foi silenciosa entre os três Agatsuma, Zenitsu correu para ser quarto temendo ficar muito mais tempo sobre o olhar esquisito de Kaigaku.

Desmoronou sobre a cama pensando sobre os ocorridos, se perguntava o que aconteceria após o casamento com Tengen, se perguntava se ele seria o suficiente para atender as exigências. Ele conseguiria coragem o suficiente para se deitar com Uzui? Estava pronto para ser mãe? E se ele não fosse bom o suficiente? Perguntas e mais perguntas repletas de ansiedade e insegurança rodeada sua mente o fazendo imaginar o pior, adormeceu com os olhos vermelhos de chorar.


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O alfa sentia que não suportaria aquela situação, seu lobo rosnava somente de imaginar o delicado e doce Zenitsu nos braços do maldito Uzui. Kaigaku estava a beira de cometer alguma loucura, jamais imaginou que Zenitsu um dia conseguisse um noivo, não do jeito estabanado e selvagem que era. Aquilo era inacreditável, o pior era ver o loiro se iludindo em achar que alguém como Tengen poderia apreciá-lo ou até mesmo amá-lo.

Não, Zenitsu não entendia, só Kaigaku o amava da forma certa e apreciava de verdade seu jeitinho, mais ninguém, nenhum alfa daria a atenção devida á suas curvas tentadoras, á seus olhos dourados repletos de uma alegria contagiante, ninguém seria capaz de beijar aqueles lábios rosados e bem desenhados, com a devida adoração. Não, só Kaigaku pudia, mais ninguém.

Andando em círculos dentro do próprio quarto, Kaigaku sentia seus feromônios descontrolados e sua ereção marcando na calça, sua imaginação indo longe. Ele queria puxar aqueles belíssimos cabelos loiros e jogá-lo na cama, rasgar seu vestido e beijar cada pedacinho de pele, agarrar com força a bunda farta e se enterrar dentro dele, ouvindo seus gemidos em sua orelha. Mas tudo que tinha era uma cama vazia, e um maldito alfa de cabelo branco e altura ridícula há alguns passos de ter todo o amor e afeto de seu amado ômega.

-Não vai ficar assim, Tengen está louco se pensa que será o dono dele!!- Vociferou jogando longe um de seus livros. - Quando toda a fortuna e a propriedade dos Agatsuma estiver na minha mão, e o casamento frajuto tiver sido "acidentalmente" arruinado, meu doce Zenitsu só terá a mim para se apoiar, e ele virá como um cachorrinho de quatro.

Pegou papel e um tinteiro, organizou as coisas em sua mesinha e se pôs a escrever. Kaigaku não desistiria de tudo sem lutar.






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