Ansiedade

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Suas mãos não paravam de tremer mesmo repousadas em seu colo,  seus olhos arregalados encaravam o chão em uma espécie de transe, sua mente estava um turbilhão de pensamentos. Após ter tomado chá com a casamenteira no dia anterior, e conseguido milagrosamente passar uma boa impressão para a rosada, Zenitsu havia se trancado em seu quarto o resto do dia buscando se acalmar. Mas após o aviso que seu avô lhe dera logo no café da manhã, seus nervos pareciam estar fervendo e sua cabeça doía com o esforço que fazia para tentar organizar seus pensamentos completamente desordenados.

" A senhorita Mitsuri disse que gostou bastante de sua companhia, assim que saiu daqui ela passou na casa da família Uzui, e pelo que parece está tudo confirmado. O senhor Uzui nos chamou para um jantar na casa dele para nos conhecermos melhor e marcarmos o dia do casamento" , foi o que seu avô lhe dissera quando sentou-se para tomar café da manhã.

Seus olhos se encheram de lágrimas, todas suas tentativas de se acalmar e manter o controle estavam sendo em vão, sua respiração ficando cada vez mais descompassada enquanto as palavras de seu avô ecoavam em sua cabeça. Era um motivo para comemorar, não? Mitsuri-san havia o aprovado e a família Uzui estava disposta a conhecê-lo. E isso era bom, não? A verdade era que nada daquilo importava, Zenitsu não conseguia parar de pensar que sua pequena evolução havia sido pura sorte, e que, a qualquer momento ele sairia daquela história humilhado e decepcionando a todos outra vez.

Se jogou na cama enfiando a cara no travesseiro, deixando as lágrimas rolarem e o tecido macio abafar seus berros. "Isso não irá durar muito tempo, assim que os Uzui lhe conhecerem no jantar, vão desistir do casamento." , "Não vou conseguir levar isso até o final com um sorriso no rosto, eu vou falhar e decepcionar como sempre faço.",  sua mente divagava entre esses pensamentos, sua angústia tomando conta de si por completo.

-Zenitsu?- Ouviu a voz suave de Tanjiro entrar no quarto. - Kami-sama, o que houve?

Tanjiro sentou-se ao lado do amigo com a preocupação estampada no rosto. Havia chamado Zenitsu no portão da residência, porém na ausência do loiro, Kaigaku o deixou entrar com uma clara desaprovação no rosto. O ruivo esperava encontrar o amigo em lágrimas, porém jamais imaginou o encontrar o loiro em tamanho estado de calamidade.

O ômega ruivo já havia presenciado diversas vezes as crises de Zenitsu, ele sentia seu coração apertar todas as vezes que segurava as mãos trêmulas do loiro, tentando fazê-lo focar em respirar corretamente. Ele entendia um pouco o nervosismo de ter que se casar com alguém que nunca viu na vida, ele próprio estava prometido a um alfa do qual nunca viu. Mas com Zenitsu era diferente, era um fardo mais pesado, Tanjiro não tinha problemas sociais ou era considerado fora do padrão desejado, se ele se casasse com alguém rígido ele não perderia muita coisa, Zenitsu era justamente o contrário.

- Zenitsu, você precisa respirar. - Tanjiro chamou o loiro. - Levante o rosto do travesseiro por favor, eu vou buscar uma água pra você e já volto.

Tão rápido quanto saiu o ruivo voltou com o copo de água, aliviado por encontrar Zenitsu sentado e soluçando, parecia mais calmo apesar de abraçar as próprias pernas e se balançar em meios as fungadas de nariz. Tomou a água e respirou fundo umas duas vezes, agradeceu Tanjiro num fio de voz.

- O que houve?- Tanjiro perguntou massageando os ombros do loiro. Os feromônios do ômega estavam uma mistura tristonha de medo e culpa, não era nem necessário o olfato apurado da família Kamado para identificar isso.

Respirou fundo sentido as lágrimas voltarem aos seus olhos, Zenitsu sempre foi chorão apesar de pagar de bravo com Inosuke. Explicou toda a situação para Tanjiro tentando conter os soluços e as lágrimas que ameaçavam lhe tomar novamente. O ruivo ouvia tudo atentamente, cada vez sentido-se mais impotente diande do problema.

Aquilo era algo que Zenitsu teria que resolver sozinho, Tanjiro não podia fazer muita coisa além de incentivar e apoiar o amigo.

- Você pode ir comigo no jantar?- Zenitsu perguntou, muito mais calmo agora.

- Não sei se o seu avô vai permitir isso, quer dizer, é um evento entre vocês que vão se tornar família e essas coisas.- Tanjiro respondeu nervoso. - Mas se o senhor Agatsuma permitir, é claro que eu vou, jamais te deixaria sozinho.

- Então está pronto, pode deixar que eu vou convencer o meu avô. - Zenitsu saltou da cama com um sorriso convencido.

Nem sequer esperou uma reposta do ruivo e saiu correndo pelo corredor em extrema afobação. Tanjiro riu com a capacidade do amigo de ir de 8 á 80 em questão de minutos. O ruivo tomou um susto quando Inosuke apareceu do nada entrando no quarto pela janela.

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-Pelo amor de Kami-sama, seja mais educado. - Tanjiro reclamou quando o azulado cuspiu no chão sem motivo aparente.

- Deixa de frescura. - Respondeu o alfa com as mãos no bolso. Estavam caminhando de volta para suas casas após uma visita na casa dos Agatsuma, era praticamente rotina os três ficarem tagarelando pelo jardim e o pomar da propriedade. Naquela tarde em específico, Zenitsu não convidou somente Tanjiro para lhe acompanhar no jantar com os Uzui, mas Inosuke também. Tanjiro se questionava se aquela havia sido uma boa ideia.

- Tente se comportar amanhã de noite no jantar. - O ruivo alertou dando um cutucão no braço musculoso do alfa.

Inosuke se limitou a soltar um ronasdo insatisfeito e se calou, estava pensativo em relação ao casamento de Zenitsu. O alfa se perguntava se a relação dos três continuaria a mesma após o noivado do loiro, ele gostava da companhia dos dois ômegas, praticamente cresceram juntos. Sentiu ciúmes do filho mais novo dos Uzui, o maldito teria toda a atenção de Zenitsu e deixaria ele e Tanjiro de escanteio. Nem conhecia o indivíduo em questão, mas já não gostava dele.

Apesar de nunca ter presenciado nenhuma crise, Inosuke sabia que Zenitsu carregava muitos problemas emocionais e se sentia um pouco estúpido por nunca tê-lo ajudado com algo mais do que provocações e gracinhas. O azulado se arrependia de não ter ao menos tentado pedir a mão do Agatsuma a Jigoro, não por que gostasse de Zenitsu além da amizade, mas por que pensava que assim pelo menos o loiro deixaria de sofrer com essa coisa de casamento e poderia fazer o que quisesse sob a proteção do falso casamento entre eles. Essa era uma ideia falha em diversos aspectos, primeiramente que Jigoro não permitira, pois Inosuke era de uma família de classe baixa, e segundo que o alfa não queria prender o loiro a si quando se apaixonasse por outra pessoa.

Na cabeça dura e teimosa de Inosuke, seu amigo Zenitsu merecia o mundo e toda a felicidade possível. As vezes ele se perguntava se o que sentia não era atração pelo loiro, mas nunca externou tais pensamentos, achava uma bobagem enorme todo esse drama, se sentia patético quando notava que o pensamento de que um dia Zenitsu teria filhotes com outra pessoa o deixava desconfortável. Zenitsu merecia mais coisa do que ele podia dar, e também não queria machucar seu melhor amigo com seus sentimentos confusos e incertos.

Entrou em sua casa após se despedir de Tanjiro, que continuou descendo a rua em direção a sua própria casa. Naquela noite, o alfa se arrependeu de não ter roubado sequer um beijo do loiro em algum momento, talvez assim ele teria certeza do que sentia. Por bem ou por mal, agora não importava mais.




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