Capítulo 11

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XI

A noite foi mais longa do que o normal, quando sai do quarto de Lauren, segui direto para o alojamento, mas por algum motivo desconhecido por mim, eu não consegui dormir, passei a noite rolando na cama, talvez o fato dela não ser confortável igual a de Lauren tenha colaborado. Fui a primeira a chegar na arena, e lá estava apenas o Alexandre, é a primeira vez que estou vendo ele desde que desobedeci às ordens de Júlio, e ainda não sei seu posicionamento sobre isso, mas muito provável que nada favorável a mim.

— Bom dia. - Falei me encostando em uma pilastra um pouco distante dele.

— Bom dia. - Respondeu sem me olhar, ele está organizando o arsenal.

 Fiquei parada, sem saber se deveria fazer ou falar alguma coisa, olhei pra janela do andar superior, na esperança de ver a princesa, mas sem sucesso. 

— Eu não tive escolha, não poderia passar por cima dos meus princípios, eram duas pessoas inocentes e indefesas. - Esclareci.

 Não preciso me explicar, mas de algum modo, eu acabei desenvolvendo um certo respeito pelo capitão da academia, ele é um exemplo de militar, pelo menos pra mim, sua integridade é visível.

— Isso poderia ter custado sua vida, não sei sua ligação com o rei, mas se ela não existisse, certamente você não estaria aqui agora. - Se virou pra mim. — As escolhas que fazemos, sempre precisam ser com isso aqui. - Bateu dois dedos na lateral da cabeça. — Agir com o coração é sinal de fraqueza. 

— Capitão, eram pessoas inocentes, o que o senhor teria feito? Não é possível que ficaria do lado do Júlio!

— Não existem lados, Camila, existe apenas um, o lado da coroa.

Neguei com a cabeça. 

— Acontece que Michael estava a favor daquela atrocidade. - As palavras saíram feito fogo pela minha garganta.

 Alexandre olhou para os lados e se aproximou de mim.

— Quando você entra em uma academia militar, quando você vira guarda, você só tem uma missão, defender a coroa, então se ela está na cabeça de um homem justo ou não, isso pouco importa, você tem a obrigação de defendê-la, e consequentemente obedecer quem a usa! 

 Bufei.

— Isso é errado!

 Ele passou os olhos por todo meu rosto, e por fim soltou uma risadinha nasalada.

— Continue pensando assim e logo verá a relva crescer pela raiz.

 Fiquei imóvel, observando ele se afastar, ele não está totalmente errado, mas também não está certo, tem alguns limites que não podemos ultrapassar, certo? O resto do pessoal foi chegando aos poucos, então em pouco tempo deu-se início ao treinamento, e não demorou muito pra Lauren surgir na janela, eu tive que fazer um esforço tremendo pra não me distrair com sua presença. Assim que a voz do capitão soou pelo ambiente anunciando o fim do treinamento, eu deixei meu corpo cair no chão e puxei o ar para os pulmões, tentando normalizar minha respiração.

— Cansou? - Pierre perguntou sentando no chão ao meu lado.

— Bastante. - Olhei pra ele. — Tenho a impressão que o capitão está tentando nos matar de fadiga. - Brinquei. 

 Ele riu.

— Eu não duvidaria.

— Vai saber…

 Pierre segurou minha mão entre as suas e sorriu, contive o impulso de me afastar, porque querendo ou não, ele foi um dos primeiros a me acolher no reino, não me sinto bem em destratá-lo, mesmo que às vezes ele mereça por ser tão insistente. 

LutemorOnde histórias criam vida. Descubra agora