Capítulo 17

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XVII

 Do lado de fora do castelo, eu não soube pra onde ir, embora tenha perdido meus pais há um bom tempo, essa é a primeira vez que me sinto verdadeiramente sozinha, olhei para os lados, por ser madrugada as ruas estão todas vazias, caminhei até a taverna, mas para minha infelicidade estava fechada, e todas as luzes apagadas, o que indica que Lucrécia não estava mais ali, provavelmente está até dormindo, continuei caminhando, o silêncio se tornando perturbador em meus ouvidos, mas não tanto quanto as palavras de Lauren, que estão rodando em minha mente, não posso ser hipócrita e dizer que não esperava por algo assim, mas lá no fundo eu tinha esperança que seria correspondida, e é por isso que está doendo tanto, meu coração parece tentar machucar a si próprio, porque ele se aperta, me causando uma espécie de falta de ar e inquietação. Puxei uma tocha de uma das casas e adentrei a floresta, a iluminação repentina fez algumas aves saírem voando, meus pés pisando nas folhas caídas no chão fazem ruídos mais altos do que o normal, mesmo com a tocha o caminho ainda está bem escuro, estou tentando chegar a casa extra de Lucrécia, que já é de difícil acesso, imagine a noite e com os olhos cheios de lágrimas… Continuei seguindo em frente, tenho a sensação de estar perdida, eu poderia parar, e tentar de alguma forma um auxílio das forças da natureza, mas não estou com o menor clima pra isso, eu vou achar, basta eu tentar mais um pouco… repentinamente uma ave voou bem próxima ao meu rosto, no susto derrubei a tocha e ao bater no chão ela se apagou, olhei para o céu, e contive a maldição que quis soltar aos quatro ventos. Continuei em frente, torcendo para ao menos sair debaixo das árvores, assim a lua me ajudará a enxergar o caminho, dei mais três passos e senti uma pancada forte em minha cabeça, surpreendentemente eu não cai, puxei minha espada e me virei pronta pra revidar a agressão. 

— Você? - Perguntamos ao mesmo tempo.

 Bufei e guardei minha espada, só então levando minha mão ao local atingido. 

— Lucrécia! Por que me bateu? - Alisei a cabeça.

 Ela está com um bastão em uma mão e uma luminária na outra.

— Eu não sabia que era você! O que faz aqui?

 Só então me lembrei que estava vindo pra casa dela sem avisar, senti meu rosto corar.

— Desculpa… - Abaixei o olhar. — Eu precisava de algum lugar pra ficar que não fosse o castelo, achei que não se importaria se eu usasse sua casa.

 Ela balançou a cabeça. 

— Claro que você pode, eu apenas me assustei, achei que era um invasor, venha.

 Ela seguiu iluminando o caminho e eu fui atrás.

— Um invasor?

— Sim, pra tocar fogo em mim e em minha casa.

 Soltei uma risadinha, mas aquele simples gesto fez meu coração e minha cabeça doer mais.

— Está devendo algo a alguém?

— Em que mundo vive, Camila? Pessoas como eu e você estamos em constante perigo, ainda mais eu que tenho… ou tive, não sei mais, um caso com uma mulher comprometida. 

— Tem razão, desculpe lhe assustar.

— Desculpe lhe acertar. - Olhou pra mim por cima dos ombros. — O que faz aqui nessa hora? A festa de casamento já foi encerrada?

— Sim. - Soltei o ar dos pulmões. — Deve ter algumas poucas pessoas perdidas por lá ainda.

 Ela não falou mais, pelo menos não até chegarmos até a frente da casa, acho que devido a melhor iluminação aqui, ela finalmente olhou em meu rosto.

LutemorOnde histórias criam vida. Descubra agora