Capítulo 46

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XLVI

Tudo ocorreu conforme o planejado ao retornamos para Lutemor. Isabel não perdeu a oportunidade de puxar minha orelha, disse que não posso me ausentar sem falar com ela ou Christopher, mesmo que a pedido da rainha Lauren e da princesa Beatriz… claro que ela não perderia a oportunidade, mas ao menos não acabou em algo mais grave.

Hoje cedo tive que dispensar a turma feminina, e ver a cara daquelas mulheres, poucas, mas determinadas, me deixou ainda mais sentida, eu trouxe esperança pra elas, e eu mesma a destruí. Meu encontro ontem com Domenico me deixou mais aliviada em relação às preocupações com ele, mas me deixou mais aflita quanto a tomada do trono aqui em Lutemor, Catarina sempre fez parecer algo tão fácil, mas agora vejo que não é, meu orgulho me faz desconsiderar a alternativa de pedir ajuda pra ela, eu tenho que conseguir sozinha pra ela ver que estava errada.

— CAMILA!

Deixei minha espada cair no chão ao ouvir Agnes gritando, virei e encontrei ela com um sorriso na porta da cozinha.

— Deus! Você está querendo me matar do coração? - Peguei a espada no chão.

— Eu te chamei várias vezes e não ouviu, venha aqui.

Guardei a espada no uniforme e me aproximei dela.

— Pois não, senhora. 

Ela olhou para os lados, pegou minha mão e me puxou pra dentro da cozinha.

— Fiz um prato especial pra você. 

De imediato e pela primeira vez no dia eu sorri.

— Verdade?

— Sim. - Se afastou.

Enquanto ela pegava a refeição, eu me encostei na mesa pra esperar.

— É a primeira vez que estou fazendo, então se estiver ruim, fale pra eu melhorar. - Se aproximou e parou na minha frente, segurando o prato.

— Espera um minuto, isso é…? 

Ela sorriu e afirmou. 

— Abóbora com rabanete e miúdos de porcos, o prato que sua amiga lhe servia na tenda e você sempre fala que tem saudades.

Com pressa eu peguei a colher, mas soltei quando Agnes deu um tapa em minha mão. 

— Ouch! O que foi?

— Espere, está muito quente. - Ela mesma pegou a colher, encheu e depois soprou pra esfriar, me deixando ainda mais ansiosa. — Abre a boca agora… isso…

Enquanto eu mastigava, Agnes me olhava com expectativa.

— E então?

— Hmm. - Ergui uma das mãos, indicando que ela deveria esperar. — Deus! Isso está divino. - Ela sorriu feliz. — Está com o mesmo sabor. - Abri a boca pra ela colocar mais. — De verdade, excepcional. 

Agnes sorriu orgulhosa.

— Perturbei Joana pela receita e tentei ser o mais fiel possível ao reproduzir. - Soltou a colher e limpou os cantos da minha boca com a mão. — Eu sei que não está tendo um dia bom, então resolvi tentar melhorar ao menos a sua noite.

— E conseguiu. - Abri a boca outra vez. — Quero mais.

Ela me serviu sem reclamar, eu não fiz menção em pegar o prato, e ela não fez menção em me entregar, então ficamos na mesma posição, com ela me servindo na boca.

— Esse prato tem gosto das minha primeiras noites aqui em Lutemor, quando eu não conhecia ninguém, e era meu momento mais feliz do dia, ir à tenda de Lucrécia jantar.

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