Meus olhos acompanharam o cair dos fios castanhos até o chão do banheiro, minha mão pairava no ar segurando a escova que eu utilizava para desembaraçar meu cabelo.
Não era a primeira vez que acontecia, após períodos intermitentes dos medicamentos, a enfermeira Kelly, assim como outros médicos me informaram que isso poderia ser comum. Porém, depois desse tempo meu cérebro processava como se fosse, senti meu corpo enrijecendo como se o tempo houvesse sido congelado.
Eu nunca liguei para ter os cabelos mais longos, tanto que eles mal alcançavam o meio de minhas costas. Já minha avó os adorava, dizia que em sua época jovem praticamente todas as mulheres possuíam cabelos compridos.
Voltei a encarar meu reflexo a minha frente, minha pele estava mais pálida que pequenos pontinhos quase imperceptíveis que rodeavam o alto de minhas bochechas e nariz estavam mais aparentes. Não tanto quanto a pele de Alice e sua família, que apesar de tamanha rapidez ainda pareciam perfeitamente saudáveis.
Tentando não dar demasiada atenção a isso, voltei a passar a escova por meu cabelo, mais demoradamente, inutilmente tentando não quebrar mais fios. Ao terminar me abaixei para recolhê-los do chão, não querendo encarar as pontas ralas que me sobraram.
— Sel, precisa de ajuda? — O som de sinos que era a voz de Alice soou abafada do outro lado da porta, enquanto a maçaneta era girada. — Você estava demorando...
A porta se abriu e Alice adentrou o banheiro de forma afoita como sempre fazia, porém seus passos desaceleram conforme se deparava com a cena. Meus movimentos paravam em consequência conforme eu analisava sua expressão mudando drasticamente.
— Estou apenas recolhendo minha bagunça. — Sorri de lado com um humor que provavelmente apenas eu via na situação.
Desviando o olhar novamente para o chão fiz com que minhas mãos trabalhassem mais rápido, me levantando em seguida para retirar os fios que ficaram entre os dentes da escova.
— Oh, Sel. — Sua voz era alguns tons mais baixos. — Me desculpe.
— Está tudo bem, a casa é sua. — Respondi suavemente, mesmo que não sustentasse seu olhar pelo espelho.
Me afastei, abrindo a tampa da pequena lixeira em cima da pia e me desfazendo do cabelo, esfreguei as mãos uma contra a outra não deixando quaisquer resquícios.
— Os seus remédios..? — Sua voz parecia incerta, talvez em dúvida se deveria continuar o assunto ou mudá-lo.
— São quimioterápicos, controlam a multiplicação descontrolada das células doentes. — Expliquei resumidamente. — Mas também afeta as saudáveis, é de se esperar que isso aconteça.
Esperei que ela fizesse milhares de perguntas, ou que me desse falsas esperanças um tratamento que não me curaria, apenas melhoraria minha expectativa de vida para alguns meses ou anos. Esperei que ela brigasse ou chorasse, porém nada disso veio.
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Redline | Twilight
FanfictionAlice Cullen sempre achou que seu passado nunca seria desvendado e apesar de ter conseguido a família que tanto procurou, ela sentia como se algo faltasse, mas talvez ainda houvesse esperança. Após descobrir que ainda tem uma parente viva, ela deci...