02 | life is inconsistency

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Na manhã seguinte Alice novamente apareceu em minha porta, com uma pasta em mãos

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Na manhã seguinte Alice novamente apareceu em minha porta, com uma pasta em mãos. Contendo documentos que comprovavam ela estar falando a verdade, fazendo-me dar conta de que no dia anterior, eu aceitara tudo muito fácil, sem provas, quase desesperadamente.

De alguma forma desconhecida para mim, ela obtinha cópias de documentos de minha avó e mãe, dizendo ter conseguido através do advogado de sua família, que por sua vez conseguiu com um detetive, sendo muito bom no que fazia.

Ela me contara que minha avó, no caso nossa, tinha uma irmã mais velha, que pelo que parecia fugiu de casa e acabara por ter um filho, que teve outro filho não muito responsável ou não tendo boas condições, resultando em Alice em um orfanato.

— Então, você não estuda ou algo assim? — Desviei meu olhar do pequeno pedaço de bolo que residia a minha frente.

Alice encontrava-se totalmente impecável, quase se assemelhando a uma estátua sentada no lado oposto do balcão, novamente ela negou participar de qualquer refeição, alegando ter comido antes de vir para cá.

— Algo assim, minha escola foi bem compreensível com minha situação. — Cutuquei o recheio de chocolate com o garfo, me lembrando momentaneamente de como fora estranho voltar para escola. — Como eu tinha dito, eu fingia que nada havia acontecido, ao contrário de minha mãe, que teve o empenho de avisar a todas possíveis pessoas sobre minha nova situação.

— E você não gostou. — Ela concluiu, olhando-me com perspicácia.

— Quanto mais pessoas sabem de uma coisa, mais ela se torna real. — Murmurei concordando com ela. — Começaram a me tratar diferente, nem todos sabiam como fazer isso, por isso muito se afastaram.

—Isso soa como uma desculpa. — Rebateu bufando, deixando de lado um pouco de toda sua formalidade. — Se alguém deveria se afastar, essa deveria ser você.

Sim, ela estava certa. A pessoa doente e que certamente poderia morrer em poucos meses era eu, a única pessoa instável emocional e psicologicamente era eu, mas era claro que nem todos viam assim.

Câncer, apesar de todos saberem não ser uma doença contagiosa, é muito repudiada. Principalmente por aqueles que mal a conhece, claramente eles tinham seus motivos. Uma doença mortal e incurável não era bem-vinda por ninguém.

Tudo o que as pessoas julgam ser diferente acabam por não serem bem-vindas, apenas toleradas.

—Ninguém sabe a lidar com isso, mas elas podem aprender. — Seus olhos pareceram escurecer drasticamente, quase tornando-se negros.

Parecia haver um tipo de magoa ali, mas não seria eu a entrar em um assunto que ela provavelmente gostaria de ter com várias outras pessoas ao invés de mim, uma quase estranha.

Nunca havia visto uma mudança de cor semelhantes ao seus olhos, que antes eram um dourado quase exótico. Eu já havia percebido que a palavra comum não se encaixa a ela, estava obvio que Alice não era um garota normal.

— Eu conheço um pouco do mundo o suficiente para saber que não podemos esperar muito das pessoas, elas nunca sabem lidar com muito expectativa sobre elas. — Dei de ombros levemente, não estava as tentando transforma-las em vítimas, apenas mostrando um fato.

— Não, nem todos são assim. — Ela respondeu com uma certeza quase absoluta. — Sabe, eu não sou a única adotada na minha família, na verdade todos meus irmãos são. Conhecemos muito da indiferença para eu lhe dizer com certeza que há pessoas diferentes.

Eu achava admirável a forma como Alice se referência a todos aqueles que a acolheram como sua família, o que para ela já deveria ter se tornado natural e realidade, sendo que provavelmente vive com eles a tempo suficiente para que aquilo se transformasse em verdade.

Ficava feliz por ela, que havia conseguido seguir com sua vida, afinal de contas. Mas não pude evitar a pequena inveja que ali se instalou, amargamente lembrando-me que ela obtinha uma coisa que eu provavelmente não teria mais.

Era errado e eu sabia disso, mesmo que surgisse inevitavelmente, me senti mal por isso. Logo empurrando tal sentimento para o mais fundo de meu peito. Eu não poderia ter todas as coisas do mundo e família era uma delas.

— Você vai adorar conhece-los!

Sai de meus pensamentos com sua instantânea agitação, sorrindo envergonhada em sua direção com o pensamento de que ela gostaria que eu conhecesse sua família.

Desci da cadeira, indo em direção a pia, assim começando lavar os utensílios que eu havia utilizado, enquanto ouvia em silencio Alice tagarelar, mudando de assunto mais rápido do que eu conseguia acompanhar, enquanto parecia planejar diversas coisas.

Pouco tempo depois fomos para sala e continuamos a conversar, se é que ficar ouvindo Alice falar mais de vinte palavras por segundo podia se chamar de conversa, mas não era algo do qual eu reclamava, ela acabava com qualquer silencio que me incomodaria outrora.

Era domingo e ainda estava cedo, a garota a minha frente parecia não estar cansada, apesar de ter saído tarde daqui a noite passada, ou apenas não tinha senso comum de que pessoas gastavam de seu tempo dormindo até tarde.

Ela planejava me tirar da casa hoje, alegando precisar fazer compras nessa cidade e que estava gastando de todo seu auto controle por ainda não ter o feito. Acabei rindo, parando rapidamente ao perceber que ela falava sério.

Quando as conversas finalmente parecerem ter seu fim, o que fora depois do almoço, decidimos passar o resto do dia assistindo filmes. Havia preparado pipoca, qual parecia apenas eu estar comendo e me aconcheguei de melhor maneira entre as almofadas do sofá, enquanto o romance se desenvolvia na tela.

Alice escolhera o filme e eu ao menos recordava-me do nome, não gostava muito de romances, não há alguns anos, mas por coincidência ou não, eram os preferidos da Alice, assim como de minha mãe.

Já no terceiro filme eu sentia minhas pálpebras extremamente pesadas, fazendo com que eu passasse as mãos pelo rosto algumas vezes, tentando tirar o torpor que o sono me causava.

Conforme acreditava apenas piscar, perdia grandes partes do filme, cochilando por poucos minutos. Antes de finalmente mergulhar na inconsciência pude sentir uma coberta sendo colocada sobre mim, assim como algo extremamente gelado tocando meu rosto.

[...]

Imagens desconexas passavam diante de meus olhos rapidamente, deixando-me confusa e forçando-me a prestar o máximo de atenção.

O vento forte fazia com que as folhas dançassem freneticamente, causando um alto farfalhar. Haviam altas arvores para todos os lados, me fazendo acreditar que estava em um floresta, estranhamente familiar, mas de alguma forma diferente.

Estava escuro, o clima era frio. Pontos brilhares eram o maior contraste em toda aquela escuridão, a lua e as estrelas brilhavam fortemente.

Uma figura baixa estava presente, calando todos os sons de quaisquer animais noturnos presentes no local. Seus curtos cabelos negros estavam selvagemente bagunçados, tendo algumas folhas que ali residiam.

Olhava para os lados com uma curiosidade gritante, analisando tudo a sua volta como se fosse a primeira vez, parecendo perdida. Seus movimentos eram tão rápidos que eu quase não conseguia acompanhar, porém o que mais chamava atenção eram seus olhos, tão chamativos quanto a lua cheia. Tão rubros quanto sangue.

Era Alice Cullen e seus olhos de cores inconsistentes.

Redline | TwilightOnde histórias criam vida. Descubra agora