21 | life is delusion

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O balançar do carro me deixava sonolenta, apesar de ter passado as últimas horas inconsciente

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O balançar do carro me deixava sonolenta, apesar de ter passado as últimas horas inconsciente. Talvez por conta da perda de sangue, ou mais provavelmente das medicações que haviam injetado em mim.

Passei o dedo pelo curativo depositado na dobra inferior do meu braço, havia pequenas marquinhas quase invisíveis das diversas agulhas que já me perfuraram. Esta provavelmente será uma das últimas que eu tomaria.

Do lado de fora do carro, a chuva caía impiedosamente, batendo contra o vidro das janelas e apenas colaborando para que meu sono chegasse, eu sempre gostei de dormir ao som de chuva.

Quando dei por mim, já estava deitada no banco traseiro, uma vez que Edward estava no volante e Alice no banco passageiro, eu quem havia pedido para ir atrás, queria processar meus pensamentos o mais solitariamente quanto pudesse.

A imagem de minha mãe penteando meu cabelo enquanto eu observava pelo reflexo do espelho invadiu minha mente, estávamos nos arrumando para um concerto que vovó queria muito ir, fora nesse dia que descobrimos que eu tinha câncer após eu passar mal e termos que ir embora do passeio mais cedo que previsto.

— Aconteceu de novo, enquanto estávamos no hospital. — Não percebi que havia adormecido até que a frase alcançasse meus ouvidos de forma distante. — É uma questão de tempo até que ela junte as peças.

— Eu sei disso, Edward. — Fora a resposta de Alice.

Pisquei lentamente tentando me manter acordada, mas minhas pálpebras estavam cada vez mais pesadas. Não movi meu corpo não querendo interrompê-los e pela primeira vez deixando-me levar pela curiosidade que me invadia cada vez mais forte.

— E sua reação? — Ele perguntou depois de alguns minutos em silêncio.

— Eu não vejo muitas coisas de sua descoberta, ou depois disso. — Alice soprou em um sussurro, quase não a entendi. — E isso me assusta.

— Isso não irá acontecer, Alice. — A raiva era notória em sua voz, e me perguntei se havia adormecido sem perceber e perdido alguma parte da conversa.

— Você viu o que eu vi.

O silêncio novamente perdurou, a paisagem lá fora quase já não era mais visível pela neblina que a chuva trouxe consigo, dentro do carro não estava muito diferente pela falta de luz.

— Apenas se você permitir. — Meu coração pareceu se apertar por como a voz de Edward saiu quebradiça. — Vai me matar também, você sabe.

Fora a última coisa que eu ouvi antes que o sono realmente me levasse. Não adentrei tanto na inconsciência para que tivesse sonhos claros, mas havia um colar de pérolas nele, um semelhante ao que minha avó guardava de sua mãe, estava dentro de uma caixa de jóias e quando eu o peguei ele estourou, deixando com que todas as pequenas pérolas caíssem no chão. Era apenas isso.

Quando conseguia despertar totalmente, eu já estava em minha cama e não me lembrava de ter caminhado até aqui. Minha mente viajou para fora do quarto mesmo que meus olhos permanecessem presos ao teto, por tempo suficiente para que as pequenas estrelas fluorescentes se tornassem vários pontinhos embaçados.

Emmett quem havia feito o trabalho, uma vez que Alice não alcançará o teto mesmo subindo em uma pequena escada, e não me permitirá tentar, o que também não daria em um resultado diferente, visto que nós duas éramos quase do mesmo tamanho.

Demoradamente o grande garoto tentou reproduzir algumas constelações, nem parecia a mesma pessoa que outrora zombou que aquilo era coisa de criança. Aquele pequeno gesto fez eu me sentir mais ainda em casa.

— Com licença. — Esme colocou a cabeça para dentro do quarto após dar algumas batidinhas na porta.

— A casa é sua. — Sorri em sua direção, me ajeitando na cama.

Ela deu uma curta risada enquanto abanou com a mão livre, com a outra carregava uma bandeja com um prato de sopa, a quantidade alimentaria duas pessoas facilmente. Contudo, eu sabia que era apenas para mim.

— Não precisava fazer isso, Esme. — Falei mesmo estando agradecida.

— Claro que precisava, fico feliz em poder cozinhar para você. — Rolou os olhos como se fosse óbvio.

Senti o calor da bandeja mesmo com o edredom cobrindo minhas pernas, quando ela a colocou em meu colo. Ela sentou-se na beirada da cama, esperando que eu provasse de sua comida, um sorriso nunca saindo de seus lábios, porém havia um vinco de preocupação entre suas sobrancelhas.

— A sopa está ótima, obrigada. — Apertei os lábios ao sentir o calor do líquido descendo por minha garganta.

Esme permaneceu em silêncio todo o momento enquanto comia, imaginei que quisesse falar algo, mas não tinha coragem. No entanto, seus olhos expressavam muita coisa. Rodei a colher algumas vezes mesmo que a temperatura da sopa já estivesse mais fria, mantendo os olhos presos sobre os legumes.

— Estarei aqui para o que precisar, querida. — Contou, fazendo-me sorrir sem saber como deveria respondê-la. — Todos nós, na verdade.

— Sei que sim, e sou grata por isso.

Eu nunca poderia expressar em palavras o quanto era grata a toda aquela família e sua enorme generosidade que tiveram comigo desde que eu havia chego. Indiferente de ser prima de Alice, já havia visto parentes mais próximos que não faziam metade do que estavam fazendo por mim, os Cullen obtinham de uma bondade inumana.

— Bem, nunca é tarde. Algo como aquele ditado sobre uma porta se fechar e uma janela se abrir. — Devaneou conforme se afastava em direção a porta. — Apenas não devemos temer o que está do outro lado das cortinas, não?

E assim Esme deixou o quarto com um sorriso enigmático, porém não menos amável. Enquanto eu fiquei sem uma reação, continuando olhando a porta por onde ela saiu por alguns minutos, sem conseguir entender do que ela estava falando. Balancei a cabeça, imaginando que estava começando a ficar paranoica.

Levantei da cama, demorando-me em tirar os cobertores para ir ao banheiro. O cômodo estava impecável, como se nenhuma gota de sangue houvesse o atingido, o cheiro de produtos de limpeza era quase insuportável.

A água do chuveiro estava o mais quente possível fazendo-me encolher os ombros para debaixo dele em uma fuga do frio, a água sob meus pés ficou avermelhada pelas manchas de sangue que permaneceram em minhas mãos mesmo após Alice ter me entregue mais toalhas no hospital.

Esfreguei o sabonete entre meus dedos mais vezes do que necessário, criando uma grande quantidade de espuma, apenas na tentativa de me esquecer dos acontecimentos anteriores. Apenas quando a espuma ficou tão branca quanto os azulejos do banheiro, que me dei por vencida.

Me apressei para sair do banheiro para voltar aos cobertores quentes, porém me detive ao abrir a porta e me deparar com outra cena. Por um momento imaginei que os medicamentos que ainda circulavam em meu sistema estivessem causando algum efeito, ou que eu apenas estivesse sonhando sem sequer ter saído da cama. Afinal, aquilo não poderia passar de um delírio.

— O que? — Esfreguei meus olhos com as mãos.

Do outro lado da porta não havia o quarto de hóspedes em que eu ficava na casa dos Cullen, o local claro e límpido se tornara um escuro e mal cuidado, bem menor que o outro.

Havia uma pequena cama de solteiro coberta por lençóis amarelados, uma mesa de ferro ao seu lado sem qualquer conteúdo acima desta. Nas extremidades do colchão velho havia longas fivelas de couro, das quais me recordei no mesmo instante.

Minha respiração engatou por um instante enquanto eu percebia tardiamente onde eu estava. No mesmo lugar que outrora eu sonhei, o quarto em que eu ficara presa no escuro.

Redline | TwilightOnde histórias criam vida. Descubra agora