24 | life is cruel

2.6K 348 61
                                    

Quando criança, eu me considerava mais corajosa do que quando mais velha, pulava de lugares que considerava altamente perigosos e corria em direção ao desconhecido, mesmo que sempre tivesse os braços de minha mãe para onde eu poderia voltar rapida...

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Quando criança, eu me considerava mais corajosa do que quando mais velha, pulava de lugares que considerava altamente perigosos e corria em direção ao desconhecido, mesmo que sempre tivesse os braços de minha mãe para onde eu poderia voltar rapidamente. No entanto, após duras quedas e cicatrizes abertas, percebemos que o medo nada mais é que uma proteção.

Nos tornamos menos ou mais ingênuos, evitando correr para o que imaginamos que pode nos machucar. O medo fazia isso, ativa substâncias em nosso cérebro que nos torna capazes de correr uma maratona, ou no meu caso de paralisar meu corpo evitando que eu fosse em direção ao perigo, como eu me forçava a fazer agora.

Meus pés pareciam raízes fincadas ao chão que a cada passo eu precisava esforçar-me mais para puxá-los e dar um passo em frente, descendo os degraus tão lentamente que irritaria até a mim mesma em um dia normal. No entanto, eu me deleitava de todo o tempo que eu podia, sabendo que ao fim da escada eu teria de encarar uma situação que milhares evitariam.

Na entrada da sala, todos me esperavam pacientemente, congelados como estátuas sem se quer respirarem, nenhum pouco afetados pela minha demora. Suas expressões eram contidas, tão enigmáticas que eu não saberia arriscar o que estavam pensando.

— Talvez você prefira se sentar. — A sugestão veio de Carlisle, tomando a frente para quebrar o silêncio.

Meu corpo permaneceu congelado, não pensando em me obedecer nem mesmo se quisesse, meus olhos analisando como todos pareciam estrategicamente parados em um canto da sala, possuindo o sofá como centro de tudo. Por fim, olhei em direção a porta da saída que parecia assustadoramente distante.

— Nós não vamos feri-la, Selene. — O homem loiro continuou.

— Isso se quer passou por nossas mentes, querida. — Esme reforçou a fala de seu marido.

Sua expressão parecia verdadeira, seus olhos grandes e reveladores não possuíam qualquer sentença de que mentia, obtendo uma persuasão sobre mim fazendo com que finalmente minhas pernas obedecessem meus comandos, que me levaram até o sofá e me sentei.

Não tão ereta quanto sempre notava que os Cullen o faziam, com uma postura impecável. Mas ainda desconfortavelmente na ponta do sofá, onde meu cérebro tendia a me enganar que assim seria mais fácil de fugir caso precisasse.

— Então todos vocês são... Todos morreram? Eu vi Alice e como foi atacada... — Comecei confusamente, tentando colocar meus pensamentos em ordem.

— Talvez seja mais fácil se começarmos do início. — Pelo silêncio todos pareceram concordar com Carlisle, o encorajando a continuar. — Eu nasci no ano 1640 em Londres durante um período de turbulência religiosa. Meu pai era um clérigo e juntamente com uma visão tão rigorosa do mundo liderava caçadas contra seres da noite, dizendo estarem livrando o mundo do mal e do pecado, no entanto sem realmente ter esbarrado com uma dessas criaturas em sua vida...

[...] Quando já não possuía mais idade para isso, seu cargo fora passado para mim, ficava pouco à vontade com a matança, porém era mais paciente em fazer as acusações, diferente de meu pai. Talvez por isso, ou simplesmente por acaso do destino, acabei por descobrir um verdadeiro grupo de vampiros que viviam nos esgotos da cidade. Liderei um grupo até lá, e tudo rapidamente se tornou um caos, fui mordido a tempo de ver outros homens que estavam comigo sendo mortos. Entretanto, não era a morte que me aguardava e sim uma dor agonizante de três dias, eu tive que me esconder e me manter em silêncio durante todo o processo, quando tudo terminou e eu acordei, foi quando eu me tornei um vampiro.

A palavra pareceu correr por toda a sala antes de alcançar os meus ouvidos, de forma tão distante quanto um sonho poderia ser quando acordamos sem nos lembrarmos direito dele.

Para confirmar que eu estava acordada levei minha mão direita até encontrar meu pulso esquerdo, rápida e despercebidamente uma vez que me mantive de braços cruzados como se aquilo gerasse algum tipo de proteção ao meu corpo, para então apertar fortemente com as pontas de meus dedos contra a pele.

Um beliscão, quando criança era como minha mãe dizia para mim que eu poderia fugir de um pesadelo que eu não pudesse encarar. E naquele momento aquilo tudo parecia demais para mim.

— Por favor, acorde.

Eu implorava mentalmente para ninguém em específico, esperando que alguma divindade atendesse a minha súplica. Implorava como quando minha mãe partiu desse mundo, apenas querendo estar protegida mais uma vez em seus braços.

Como quando eu acordava no meio da noite assustada, e suas palavras me acalentavam. A vida é uma coisa cruel, mas nem tudo nela precisa ser.

Era tudo o que eu precisava, de possuir aquela sensação novamente. E por um instante é como se eu realmente sentisse seus braços em volta do meu corpo mais uma vez, dessa vez mais gélidos do que costumavam ser, como se a própria morte me abraçasse.

Não demorei a perceber que não era minha mãe ou a morte que me abraçavam, e sim Edward, em um momento não estando ali e no seguinte quase fundindo nossos corpos já para fora do sofá.

Um vampiro, era o que ele era. Todos eles, até mesmo Alice. Meus olhos se encheram de lágrimas, como um alguém que trouxera tanta luz em minha vida, que me resgatou de mim mesma, poderia ser algo ruim? Um demônio sem alma, como tantos livros e filmes retratam.

As piores e mais repugnantes cenas passavam a invadir minha mente, mesclando-se aos rostos da família que eu convivi nos últimos meses, no entanto que eu não conhecia verdadeiramente. Como facilmente poderiam ser perigosos e cruéis, mesmo que houvesse vampiros bondosos no mundo da ficção, eles eram a exceção e não a lei.

Meu corpo reagiu com instinto de auto proteção ao tentar me afastar do vampiro a minha frente, meus braços sacudindo-se para longe do seus e minhas afastando seu peito, se ele era sobrenaturalmente forte ou não, cedeu como uma pena, afastando-se como se eu o controlasse.

— Eu preciso... — Balbuciei sem sentindo, sem saber do que realmente precisava enquanto contornava o sofá. — Eu preciso de um minuto, um momento para... entender tudo isso.

Eu não olhei para nenhum deles ao pronunciar a frase dificultosamente, mantive a cabeça baixa encarando meus próprios pés, observando minhas pernas tremerem levemente, meu corpo com dificuldade em se manter, mas não despencando, com medo de que uma demonstração de fragilidade fosse meu fim.

— Vamos deixá-la sozinha, tome o tempo que precisar. — Carlisle tomou a frente mais uma vez.

O silêncio em seguida tomou todo o ambiente quase me fazendo perder noção de espaço e tempo, esperei que alguém discordasse em me deixar sozinha ou simplesmente concordam auditivamente, mas nada veio.

E quando finalmente voltei meu olhar para frente, todos haviam desaparecido como fantasmas. Sabia que estava completamente sozinha porque meus sentidos desabaram, levando meu corpo junto.

Cai de joelhos no chão, como se minhas pernas tivessem passado de gelo à água. Não liguei para a dor da queda brusca, mas os soluços já escapavam por minha garganta e as lágrimas escorriam por minhas bochechas formando caminhos próprios.

Redline | TwilightOnde histórias criam vida. Descubra agora