23 | life is uncertain

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A vida é incerta

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A vida é incerta. Sempre busca formas de nos surpreender, através de dúvidas e escolhas a qual devemos fazer, a única certeza que possuímos é a morte e ainda assim, é a coisa que mais tememos. Inevitavelmente estamos sempre correndo contra isso, em busca de qualquer outra certeza, talvez por isso humanos nunca se sentem realizados ao fim da vida, a desperdiçamos com algo que não mudará nunca.

E mesmo sabendo disso, ali estava eu tentando fortemente buscar explicações que anulasse a veracidade do sonho que eu tive. Não um sonho, eu estava acordada, parada a porta do banheiro como um sonâmbulo assustado ao acordar fora de sua cama.

Ao mesmo tempo que dizia a mim mesma que aquilo não poderia ser real e que talvez todo estresse estivesse afetando a minha mente, ao encarar os olhos arregalados pelo medo de Alice do outro lado do quarto, eu sabia que ali estava a mais crua e nua verdade.

— Selene, por favor. Não se assuste...

Um zunido preenchia meus ouvidos persistentemente, me impedindo de ouvir quaisquer outros ruídos, quase como se minha mente buscasse uma forma de me tirar dali. Meu corpo, no entanto, bem consciente dava sinais de estar sobrecarregado, com o coração batendo tão rapidamente que parecia acertar qualquer outro órgão próximo, deixando meu peito quase tão dolorido quanto minha garganta seca pela quantidade de ar que passava pela minha respiração desregulada.

Fosse pânico ou descrença, minha mente e corpo não entravam em consenso, deixando-me paralisada no local enquanto a garota se aproximava cautelosamente. Eu deveria falar algo ou até gritar? Talvez eu devesse correr, como havia feito na floresta. No entanto, isso não me levou longe o suficiente.

Suas mãos ergueram-se em direção aos meus braços quase em câmera lenta, e eu não sabia se eu que estava vendo assim ou ela quem se movia devagar, fosse o que fosse, eu continuei estática no lugar. Suas mãos se detiveram no caminho, parando em um curto espaço entre nossos corpos, parecia tão em choque quanto eu.

— Edward. — Alice chamou e no segundo seguinte ele estava ao seu lado. Como estivesse escondido do lado da porta, ou simplesmente corrido sobrenaturalmente rápido. — Veja... Me diga o que está acontecendo.

— Ela está em choque. — Sua resposta veio depois de segundos em silêncio, no entanto eu não conseguia encará-lo para saber como obtivera tal resposta.

Meus olhos continuavam presos ao âmbar das íris de Alice, que por um momento pareciam oscilar em vermelho ao passo que uma lembrança me alcançava, o primeiro sonho que tive ao conhecê-la. A mesma floresta, olhos tão rubros quanto dos outros dois seres.

Foi Edward que teve coragem de segurar meu braço, sua mão passando rapidamente pelas minhas costas fazendo com que eu me encolhesse no mesmo segundo. Sua pele também contendo o mesmo tom anormalmente pálido, possivelmente tão impenetrável e rígida quanto o aperto que recebi do homem loiro de olhos tão raivosos.

— Me diga o que posso fazer. — Alice implorava em sussurros, seus olhos corriam de um lado para o outro, nunca parecendo tão perdida na vida. — Eu não vejo nada.

— Carlisle está chegando. — Foi a resposta do garoto.

Senti meu corpo sendo empurrado para sentar no colchão macio, totalmente diferente da terra fria e úmida a qual havia batido ao cair, meus olhos se fecharam por um segundo, esperando pela dor. Eu havia me cortado, havia sangue e isso o atraiu.

Não havia dor, no entanto. Meus olhos desceram para minhas mãos e pernas a procura de algum machucado, não encontrando nada além de uma pele impecável, sem quaisquer resquícios de barro ou hematomas.

— Não era eu. — Minha voz soou rouca e baixa, a saliva voltando aos poucos a minha boca e trazendo algum conforto a minha garganta seca.

— Não era você. — Edward confirmou fazendo com que as coisas começassem a entrar em seus lugares.

Sua mão permanecia em minhas costas, passando por ela como se pudesse me dar algum conforto enquanto sentava-se ao meu lado. Parecia não se preocupar se a aproximação me assustaria, diferentemente de Alice que agora estava ajoelhada poucos centímetros à minha frente.

A cabeça erguida em minha direção por estar mais baixa naquela posição, poderia ser uma perfeita imagem congelada se não fosse por seus olhos que ainda corriam por meu rosto, engolindo todas as expressões que eu entregava.

Havia um brilho intenso em seus olhos, como se estivesse milhares de lágrimas para derramar, mas algo a impedia. Se os olhos realmente fossem janelas, a vista que Alice estaria me proporcionando no momento seria a mais trágica e obscura.

Repletas de tristeza e pavor que me engolfou quase espremendo meu peito, trazendo a tona uma sensação familiar. O reconhecimento me acertando apenas naquele momento, ao ver uma essência indefesa que eu não sabia que Alice ainda poderia possuir.

— Era você. — Sussurrei sem poder tirar os olhos dela. — Eu vi a sua morte.

Naquele momento aquela era a única certeza que eu tinha, sabia o quanto aquilo soava irreal, pois ela estava parada bem a minha frente. Mas já não sabia mais exatamente o quanto eu conhecia deste mundo para dizer o que era real ou não.

— O que está acontecendo? — A pergunta soou quase estrangulada quando o choro voltava a embolar minha garganta com um nó.

Alternei meu olhar de Alice para Edward, esperando desesperadamente por uma explicação, mesmo que isso me assustasse, a verdade pior que fosse ainda seria melhor do que ficar no escuro. Ambos se encararam por um momento em silêncio, o garoto acenou positivamente a encorajando para logo em seguida se erguer da cama, seu braço se desenrolando lentamente do meu corpo.

— Carlisle chegou. — Ele explicou quando acompanhei seus movimentos com meus olhos confusamente. — Vou falar com ele, estarei esperando vocês lá embaixo.

O observei até que ele sumisse de vista, não antes de se virar na porta para nos observar uma última vez, lançando-me um pequeno sorriso antes de sair do quarto. Quando restava apenas nós duas, eu voltei a olhar Alice, esperando por respostas.

— Eu vou explicar tudo, eu prometo. Eu deveria ter feito isso desde o começo. — Ela se atropelou em palavras conforme acenava freneticamente com a cabeça. — Mas por que não te troca antes?

Pisquei os olhos lentamente, absorvendo suas palavras ao mesmo tempo. Apertei minha mão contra a toalha enrolada ao meu corpo, me recordando que não vestia nada além disso, fazendo-me sentir frio momentaneamente com a constatação.

Não falei nada enquanto deixava meu corpo me guiar até o closet robóticamente, o adentrando o suficiente para que não sentisse mais o olhar de Alice em minhas costas. Não prestei atenção nas roupas que peguei e as vesti de forma automática enquanto minha mente ainda vagava no passado de Alice.

Respirei fundo algumas vezes antes de sair do pequeno cômodo, passando a mão sobre o rosto para eliminar qualquer impressão de que estava chorando, mesmo que meus olhos muito provavelmente estavam vermelhos e voltei para o quarto.

Alice já estava de pé, tão rígida que dificilmente um humano conseguiria deixar sua postura tão impecável. Parei alguns metros dela, deixando meus braços se enrolarem ao abraçar meu próprio corpo em busca de algum conforto.

— Estou pronta para ouvir.

Ela acenou positivamente, parecendo não ter palavras no momento e então apenas acenou em direção a porta, indicando a sala onde provavelmente todos já nos esperavam. Engoli em seco antes de começar a segui-la para o andar de baixo, agora era o momento da verdade. 

Redline | TwilightOnde histórias criam vida. Descubra agora