Quantas pessoas poderiam dizer que não temem a morte?Talvez aquelas que nunca se depararam com ela cara a cara. Há algum tempo eu provavelmente a temeria, com medo do que ela pudesse fazer, das pessoas que ela poderia me tirar, exatamente como ela fez.
Minha avó, minha mãe, aos poucos tirando me tirando tudo, até a mim mesma. No entanto, a morte sempre me pareceu um velha amiga companheira, sempre estado presente em minha vida, seja nos bons ou maus momentos.
Quando se tem uma doença tão grave, como o câncer, você não pode se dar ao luxo de criar planos para toda uma vida, imaginar como seria seu futuro trabalho, marido e filhos, mesmo que a maioria desses não estivesse em alguma lista de desejos minha, mas certamente eu acreditara que teria minha família comigo, até meus últimos momentos.
A pior coisa do que morrer por conta de câncer, é perder um filho por conta do câncer. Eu não gostaria que minha mãe passasse por toda essa situação, mas o sofrimento dela era uma das minhas únicas certeza que eu tinha. Até ela partir também.
Talvez fosse apenas a ordem natural querendo se opor ao meu câncer, ao menos alguém conseguia ganhar dele.
Meus dias se tornaram tão monótonos quanto as paredes de meu quarto, a qual eu havia decorado cada mínimo detalhe, seja uma pequena mancha ou rachadura a qual não seria perceptível a qualquer visitante.
Eu me levantava, tomava um banho, descia para cozinha e antes de ingerir quaisquer comprimidos eu comia alguma coisa saudável que se encontrava nas prateleiras altas e por fim passava as tardes com a televisão ligada, em algum programa aleatório a qual eu não prestava atenção, apenas para não deixar que o silencio dominar todos os cômodos.
Um medo tão tosco e irracional, o silencio.
Lembrava-me de o apreciar, ficando horas sozinha em algum quarto de hospital observando a paisagem pelas grande janelas, optando por não pedir companhia, afinal minha mãe precisava trabalhar e mesmo que ela se preocupasse comigo acima de tudo, as despesas eram um bom motivo para ela ir.
Talvez tivesse sido um grande erro, talvez ficando comigo antes, eu não estaria sozinha agora. Claro, poderia ter sido nós duas no carro, afinal o destino pode ser impiedoso, mas talvez essa não fosse a pior coisa a acontecer.
A grande caneca fumegante entre minhas mãos era a única coisa que impedia de meus dedos voltarem a sua baixa temperatura, a palidez deles se contrastava ao azul da porcelana. Estava encolhida no canto do sofá, enrolada em uma coberta de lã enquanto aproveitava chocolate quente, o clima não estava frio, havia conferido alguns minutos antes em algum canal, porém uma fraca garoa se instalava há algum tempo lá fora.
Parecia ser um sábado perfeito para não arrumar compromissos, apenas ficar dentro de casa aproveitado da companhia de familiares, ou no meu caso, minha própria companhia. Apesar de saber que algumas pessoas trabalham, arriscava a dizer que não havia muitas saindo de casa no momento, não quando um temporal ameaçava chegar a qualquer momento.
Meus pensamentos foram cortados ao som da campainha, que apesar de ser suave, foi o suficiente para me sobressaltar, fazendo com que minhas mãos apertassem contra a caneca, impedindo que ela caísse.
Olhei sobre meu ombro, observando a porta branca alguns metros do sofá onde eu estava, não me recordava de estar esperando por alguém, no caso Kelly, uma amiga de minha mãe, enfermeira do hospital em que eu residi por muito tempo, que tinha a gentileza de me visitar semanalmente, para conferir se tudo estava bem.
Suspirei enquanto depositava a caneca sobre a mesinha de centro, erguendo meu corpo lentamente para finalmente me dirigir até a porta.
Ao puxar maçaneta me deparei com uma figura estranha. Uma garota, provavelmente da minha idade e tamanho, se encontrava em minha varanda segurando um guarda-chuva preto que eu desconfiava ser maior que ela.
A menina baixa parecia uma fada, extremamente magra, com feições miúdas. O cabelo era de um preto intenso, curto, picado e desfiado em todas direções. Seu lábios carregavam um grande sorriso alegre, exibindo seus dentes extremamente brancos, assim como sua pele.
— Olá, meu nome é Alice Cullen. — Se pronunciou com sua voz que se assemelhava a sinos. — Você, por acaso, seria Selene Brandon?
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Redline | Twilight
FanfictionAlice Cullen sempre achou que seu passado nunca seria desvendado e apesar de ter conseguido a família que tanto procurou, ela sentia como se algo faltasse, mas talvez ainda houvesse esperança. Após descobrir que ainda tem uma parente viva, ela deci...