34 | O Abuso Descoberto

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Consigo ver nos seus olhos o quanto ele parecia realmente chocado com o que eu disse. Toda a raiva que ele transparecia caiu por terra, e eu não sei se me sinto culpado ou irritado por essa situação.

— Eu... não posso. — Ouvi um fio de sua voz, mas o suficiente para eu perceber o quanto estava atordoado.

— E por que não? — Também diminui o meu tom ao perceber o que estava realmente acontecendo aqui. A máscara caindo aos poucos.

— Porque... — Engoliu em seco, passando seu pulso em sua bochecha, em uma lágrima que eu nem tinha reparado. — Você é meu amigo, e uma das pessoas mais importantes da minha vida. Não posso simplesmente não me importar.

Dou um passo para trás, não sabendo ao certo como reagir sobre isso. Meu olhar ficava perdido por pontos aleatórios da sala que não fosse ele na minha frente, procurando alguma resposta. Mas eu não encontro nada.

Eu não sei o que seria certo fazer nessa situação. Mas não se esqueçam de que eu, mesmo sendo uma pessoa... boa, ainda posso ser um idiota mesquinho.

— Pedi para você ser o meu amigo, não para se importar comigo. — Tomo uma postura mais rígida, não me importando muito com as coisas que saiam de minha boca. Eu estou desesperado. — Na verdade, essa foi a escolha certa?

— Como? — Ignoro completamente sua pergunta, indo até o seu quarto e pegando minha bolsa com as roupas que ele trouxe e a minha bolsa da faculdade. — Denki? — Ele me seguia em todos os lugares que eu ia, até eu parar em frente a sua porta de entrada, virando-me em sua direção e vendo o quanto ele parecia assustado e abatido pela situação.

— Acho que já fiquei por tempo demais. — Pego minha arma de volta e a enfio dentro de uma das minhas bolsas. Ele parece ter entendido o que eu estava querendo dizer, e um certo nervosismo o consumiu.

— Denki, espera por favor, vamos resolver isso melhor... — Não o espero terminar, abrindo e fechando a porta sem nem olhar para trás, usando as escadas para chegar no primeiro andar.

Quando finalmente saio do prédio e deslumbro os primeiros raios solares aparecendo no céu e tocando meu rosto, consigo finalmente deixar sair as lágrimas que eu estava segurando até aquele momento, caminhando até o metrô mais próximo rapidamente. Um aperto em meu coração se faz presente, junto de uma culpa avassaladora que me faz até mesmo querer vomitar.

Eu me sinto um idiota, um babaca, um monstro, ou qualquer outra coisa ruim.

Eu sou um estúpido.

[ . . . ]

Quando cheguei em casa, só tomei um banho gelado, me arrumei e fui para a faculdade sozinho, como a muito tempo eu não fazia. E foi uma experiência horrível.

Mesmo com moletons, máscara e óculos escuros, eu ainda me sentia terrivelmente observado e incomodado com o meu próprio corpo. E isso é estranho. Estranho demais.

Quando cheguei nos portões da faculdade, dei de cara com Dabi. Até tentei passar reto por ele sem ser visto, mas ele certamente me viu e parou na minha frente, me obrigando a parar também.

— Bolsinha... — Olhou atrás de mim, procurando por alguma coisa. Ou alguém. — cadê o vampiro metido a besta?

— Eu... vim sozinho. — Abaixei minha cabeça, não querendo olhar em seus olhos.

Purplish VampireOnde histórias criam vida. Descubra agora