44 | A Guerra Acabou

624 75 333
                                    

☼︎

Já faz algumas horas que fui forçado a abandonar Hitoshi com… aquela coisa. Fui levado para a base da Liga, onde eu encontrei todos machucados, menos os que morreram, e também encontrei a menininha que vi quando Hitoshi fez a invasão na base do Overhaul. Ela estava no cantinho encolhida, nos olhando apavorada e desconfiada. Eu senti um pouco de dó.

Yamaguchi teve que se revirar todo para conseguir tratar todo mundo, dos mais graves aos mais tranquilos, enquanto tentava manter sua racionalidade pensando na morte do Kei. Foi lamentável ver ele cuidando dos outros enquanto secava as próprias lágrimas com os braços, realizando os tratamentos com uma eficácia e velocidade admirável, apesar da situação.

Dabi, Hawks e eu fomos atendidos primeiro. Ficamos aliviados ao perceber que as queimaduras do Dabi foram superficiais, apesar de terem prejudicado uma boa parte de seu corpo, resultando em pedaços de pele feito com magia sendo costurados nele com grampos, para que pudesse emendar as partes que faltavam. Quando ele acordou, ficou horrorizado com sua nova aparência, e saiu do ambiente, se perdendo pelo prédio.

Hawks ficou o processo inteiro em silêncio. Tadashi conseguiu fazer o ferimento cicatrizar, mas era oficial que ele ficaria sem uma das asas. Ninguém falava desse incidente, e era nítido o quanto isso abalou ele, o quanto ele parecia pensar demais naquilo. Tanto que ele também passou a maior parte do tratamento chorando baixinho. 

No meu caso, Yamaguchi cuidou dos meus feridos externos e me entupiu de poções que me deixaram levemente dopado, dizendo que elas tratariam meus ferimentos internos, praticamente me ordenando a me deitar no cantinho da sala para que o efeito fosse mais rápido. E foi o que eu fiz.

Olhando para aquele teto escuro, eu consigo escutar o povo ao meu redor chorando e sofrendo por aqueles que perdemos. É engraçado: ganhamos e perdemos a guerra, mas o que nos resta agora? O que me restou agora? Sinto que o Denki Kaminari de agora é somente o pó da rabiola. Eu sou o que conseguiu sobreviver de toda essa história. Tudo isso pelo o que? Por quem? 

Às vezes eu me encontro nessa dúvida estranha. Fico pensando se valeu a pena eu viver o que vivi pelo Hitoshi. Vale até mesmo o questionamento: eu fiz isso por ele, mas por quê? Por que eu decidi me colocar nisso, quando eu poderia ter recusado como ele mesmo me implorou? Não sei se me arrependo, mas…

— Você está bem? — Me assusto ao ver dois pares de olhinhos se enfiando na minha frente. Era a garotinha.

Franzo as sobrancelhas, tentando me lembrar da minha personalidade para lidar com crianças, com o bônus de crianças traumatizadas. 

— Eu estou sim, linda. — Sorrio meio sem graça, vendo os olhos dela brilharem. Ela se senta ao meu lado, e eu viro minha cabeça para vê-la. 

— Eu… sou linda? — Ela cutucava um dos curativos em seu braço feito pelo Tadashi. 

— Ah, mas é claro que sim! A mais linda. — Ela sorriu meio torto, parecendo envergonhada com aquilo. Me ajeitei melhor no chão, para que pudesse vê-la adequadamente. 

— Você conhece o tio Hitoshi? — Concordo com a cabeça, curioso. — Foi ele quem me salvou. 

— Ah é? — Ela acena positivamente, parecendo admirá-lo muito. Acabo sorrindo bobo. — Você gostou dele? 

— Ele foi a primeira pessoa do mundo que me salvou de algo. — A garota coçou sua cabeça, olhando para as mãos antes de olhar para mim novamente. — Eu gosto muito dele. Não quero que ele morra.

Purplish VampireOnde histórias criam vida. Descubra agora