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Narrado por Shinsou Hitoshi
Kaminari apertava meu corpo de uma maneira que doía meu coração. Consegui perceber facilmente o quanto ele tremia e estava debilitado, tudo por incompetência minha. Eu não queria e estava sem a coragem mínima de me afastar e pensar em formas de ajudá-lo agora, pois tanto eu quanto ele estamos chorando pelo mesmo motivo. Mesmo que ele esteja soluçando alto e eu me deixando levar silenciosamente.
Dizer que não o abandonaria não foi algo da boca para fora, somente para lhe trazer algum conforto após o pesadelo traumático vivido, mas agora, acabou de se tornar uma promessa que eu farei questão de cumprir da melhor forma possível. Mesmo que eu saiba que talvez, isso nunca seja capaz de ocorrer de fato. Me iludir um pouco ao menos uma vez não faz mal, não?
Acalmado os ânimos, percebendo que sua respiração se encontrava mais estável, e que suas lágrimas haviam acabado de cair em meus ombros, tomo todo o cuidado do mundo em me afastar lentamente, preocupado em olhá-lo melhor, analisando o estrago feito e como irei agir daqui para frente. Ver as marcas que aquela fada pervertida deixou em seu corpo me enche de sentimentos de raiva e angústia, imaginando por poucos segundos como teria sido tudo aquilo comigo.
Me levanto, e em nenhum momento Kaminari me olha nos olhos, talvez constrangido demais com a situação. Alcanço suas calças rasgadas e a sua cueca — que por alguma sorte, não estava rasgada, apenas suja —, entregando-as e esperando ele pacientemente colocar sua roupa íntima. Não tento ajudá-lo com isso, evitando tocar justamente nos locais onde ele foi mais violentado e lhe causar algum mal desnecessário por agora. E enquanto ele se veste, fico deveras pensativo se o levo para a minha casa, um ambiente pouco conhecido por este que depois de tudo o que passou só vai querer o conforto, ou se o levo para a sua casa, onde estará mais à vontade e livre, ambientado com tudo ao seu redor.
— ... devo levá-lo até minha casa, ou na sua? — decido enfim perguntar, me incomodando com o tanto de grunhidos dolorosos ele solta enquanto tenta colocar um simples pano.
— Eu... pode ser... onde você sentir que será mais seguro. — o fato de ele ter citado "segurança" me deixa confuso, e pelo visto, ele notou essa confusão. — Acho que... se me levar até a minha casa e... ele... seguir a gente, e tentar me... me...
— Eu já compreendi. — o corto quando percebo seu nervosismo, me aproximando devagar e com as mãos em suas vistas. Tentar mostrar tudo o que vou fazer para ele me soa melhor. — Vou te carregar até a minha casa, cuidar de seus ferimentos e te deixar dormir lá essa noite. Tudo bem para você?
Ele concorda com a cabeça. Quando vestido, me aproximo dele e sinalizo que irei pegá-lo em meu colo, esperando sua confirmação. Quando a recebo, penso por poucos segundos como pegá-lo da melhor maneira que não o machucasse, e no final decido que no estilo "noiva" seria não apenas menos doloroso, como mais confortável. Fico ao lado de seu corpo, o pegando pelas coxas e pelas costas com facilidade, ajeitando-o brevemente e iniciando minha caminhada noite adentro com Kaminari em meu colo.
As ruas são pouco iluminadas, e tudo é tão vazio e silencioso que me espanta e me deixa alarmado com tudo ao meu redor. Não pretendo pegar metrô ou pedir por um veículo — não saberia explicar o ocorrido —, logo, mesmo que demore mais, o levarei andando até minha casa que, mesmo sendo em outro bairro, não é tão longe assim. Ao menos para alguém como eu.
Consigo sentir a respiração sôfrega e o coração de Kaminari batendo devagar, mais calmo. Porém, se eu olhar em seu rosto, conseguirei ver seu nariz e boca machucados e sangrando, além de seus encantadores olhos dourados tão opacos que pareciam sem vida. Kaminari olhava para o nada, como se estivesse perdido, sem rumo, sem nada por dentro; mas eu consigo sentir nele o quanto está devastado e derrotado pelo incidente. O quanto se sente sujo e invalidado; medroso. Quando os seus olhos se encontram com os meus, que de tudo já viram nessa vida, tento dar-lhe um singelo sorriso reconfortante, tentando transpassar a sensação de que eu estava aqui, com ele, unicamente para protegê-lo. Ele não retribui, e se perde em pensamentos novamente.
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Purplish Vampire
Fanfic" Kaminari Denki é um universitário de vinte e um anos que cursa artes em uma faculdade pública. Um simples jovem adulto nerd que posa de artista e que é viciado em mitologias e crenças, que passa noites e mais noites em claro fazendo pinturas ou pe...