23. | Rastros Tardios | ATENÇÃO

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ATENÇÃO
O capítulo a seguir pode apresentar gatilhos de abuso sexual, violência, violência corporal, tortura, sangue e ansiedade. Leia com cuidado, se necessário, devagar ou até mesmo pule o capítulo.
O meu objetivo como autora é entreter vocês, evitando o seu mal.
Dito isso, boa leitura!

Narrado por Shinsou Hitoshi.

Quarenta e Cinco minutos antes:

Essa festa é um ambiente que me desperta muitos pensamentos conflitantes. Um misto de desconforto com uma satisfação inexplicável. Talvez possa ser apenas o drink fazendo efeito — e já demorou, pois tomei dois copos antes deste — em minha mente, mas mesmo estando rodeado de humanos com cheiros tão únicos, eu ainda sinto que estou no conforto do meu precioso lar.

É, acho que a hipótese de a bebida ser a culpada faz um pouco de sentido.

Observo Kaminari sorrir e se afastar de mim, entrando naquela multidão de humanos e sumindo rapidamente. Devido a marca, eu pude perceber que ele sentia-se ligeiramente desconfortável. A sensação podia estar maior, porém, estar um pouco embriagado não ajuda a notar melhor tais detalhes. De qualquer maneira, eu nem sei porquê aceitei a sua ideia ridícula de não acompanhá-lo apenas para aproveitar a festa. Ele acha mesmo que estou aproveitando algo? Momentos? Mesmo com um líquido tão bom em mãos que me é capaz de levar a refletir e falar tantas baboseiras, eu não poderia estar aproveitando nada!

Inclusive, o que me fez revelar um dos meus maiores segredos à ele? Olho para a bebida em minhas mãos, concluindo que aquilo era realmente perigoso demais, ainda mais estando no terceiro copo. Incrível como os humanos podem criar coisas capazes de deixá-los tão vulneráveis.

Me viro, apoiando-me no batente e voltando a admirar a lua mais uma vez, enquanto termino de apreciar a queimação em minha garganta em cada gole tomado desse copo. Eu poderia estar tentando ser mais gentil com os amigos de Kaminari, mostrando que não sou ruim para ele e sua rotina. Poderia estar tentando me socializar com essas pessoas, fazer "amigos", mas tão pouca é a minha vontade e disposição para fazer tudo isso que nem chega mais a ser tão engraçado como muitos anos atrás.

Conhecer pessoas novas e criar laços não me é mais tão excitante como antes. Até porque, eu sei que todos que se juntam a mim têm um fim drástico.

Santo morcego, eu preciso parar de pensar nessas coisas! Viver os momentos, foi o que ele disse, não foi? Agora não é o momento em que deixo o passado tomar conta de mim.

Frustrado com como a vida pode ser tão injusta, apenas tento calar a minha mente traiçoeira e focar em olhar o céu sozinho. Mesmo na varanda, consigo escutar a música e a gritaria do salão. Antes de vir aqui, até tentei permanecer lá, mas era tão... incômodo e sufocante, que eu tive que sair e respirar aqui fora. O cheiro de ar puro atravessava minhas narinas como se não fosse nada, mas logo uma modificação é feita e não me passa despercebida.

Um cheiro de flores e mel. Era suave, mas incrivelmente bom. Um cheiro estimulante, que deixava todos os meus sentidos em alerta e adormecidos ao mesmo tempo, quase como uma hipnose, ou um anestésico. Fecho meus olhos, deixando-me guiar a cabeça em direção daquele doce aroma, que ficava mais forte cada vez mais que eu olhava para o meu lado direito. Foi então que eu a vi.

Do outro lado da varanda, na ponta, havia uma bela e jovem mulher. Sua pele era bem clara; olhos grandes e verdes; cabelos ondulados que se iniciavam rosados e terminavam com as pontas esverdeadas; um vestido longo e florido, com uma fresta no lado direito que mostrava quase toda a sua perna e botas pretas. Ela me olhava de cima abaixo, com um sorriso incrivelmente meigo e tímido, enquanto os seus olhos brilhavam em luxúria.

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