Então posso dizer que uma das minhas coisas preferidas no mundo é andar de carro. Gosto de sentir o carro a abanar, olhar pela janela enquanto ouço as músicas irritantes que passam na rádio e imaginar-me a vivê-las, como um videoclip. Geralmente os meus videoclips passam-se em dias chuvosos, o meu eyeliner todo esborratado, roupas rasgadas, mas isso são os videoclips das músicas tristes, como a Talking To The Moon do Bruno Mars ou a Give Me Love do Ed Sheeran. Para as músicas alegres os meus videoclips são bastante simples: Não são. Não consigo sequer concentrar-me o suficiente na letra de uma música alegre e agitada. Posso também dizer que tenho problemas de impaciência, egoísmo e raiva. Não gosto de esperar até ao final de uma música, sou egoísta porque só ouço o que gosto e não quero saber dos gostos dos outros e raiva porque esse tipo de música existe. Quero dizer, não é que eu possa fazer muito em relação a isso - se as pessoas gostam de músicas alegres, lá têm as suas razões - mas eu não gosto, detesto, desprezo. Gosto daquelas músicas que nos deixam a pensar e a criar cenários perfeitos na nossa cabeça que no fundo sabemos que não passam de partidas da nossa imaginação. Gosto de ouvir a letra das músicas e pensar "Woah! Eu identifico-me com isto!" (Geralmente acontece com músicas sobre adolescentes sem amigos que odeiam todo o mundo).
"Wow este foi alto." A minha mãe comentou assim que um enorme trovão se fez ouvir e eu suspirei. Por que raio chamam a isto uma cidade? Este sitio tem as ruas completamente vazias, as casas são pequenas, tem apenas uma escola primária e uma secundária e para
se ir para a Universidade, tem que se apanhar transportes e viajar durante horas. "Bem vinda a Inglaterra."
O meu pai estava farto da América. Ele sempre foi um homem de decisões de cabeça quente e simplesmente meteu na cabeça que queria ir para o Reino Unido. A minha mãe, maluca como é, concordou logo. Eles são talvez as pessoas mais irresponsáveis que eu conheço. A verdade é que são as únicas pessoas que conheço. Se eu fosse uma adolescente normal, choraria no meu quarto, agarrada à almofada e às fotos dos meus amigos, proclamando que ia ter saudades deles mas a) eu não choro b) não tenho amigos c) eu e a chuva somos melhores amigas.
É difícil para uma rapariga da Califórnia mudar-se de repente para um país tão húmido mas eu não sou a típica rapariga da Califórnia. Eu sou a Olivia Boyle. Eu gosto de chuva, de tempestades, de silêncio, de conforto. Os meus pais ainda queriam ir para Londres mas aí eu tive que dar a minha opinião: Demasiado movimento, demasiadas pessoas, pouco cérebro. Então eles pesquisaram e pesquisaram locais calmos para onde nos pudéssemos mudar e uma amiga da minha mãe sugeriu-lhe esta cidade aldeia. Pouca habitação, pouco barulho, falta de médicos.
A minha mãe era pediatra em Los Angeles e o meu pai é dentista. Uma combinação perfeita não é? A junção de duas pessoas completamente bem sucedidas que tiveram a filha de sonho. O problema é que a) Eu sou uma filha de sonho mau, mais chamado "pesadelo" e b) não há b.
"Desde que aqui chegámos, acho que ainda só passámos por três carros." O meu pai comentou e eu permaneci a olhar pela janela. Olhei a forma como as gotas caiam no chão e faziam as poças de água tremer. "Começo a pensar que foi uma má ideia."
"Tu só tens más ideias. Vocês tinham empregos fixos e ganhavam bem e agora do nada decidem mudar-se para uma aldeia onde só devem morrer três pessoas em cada ano e vão receber tão mal como um desempregado." Revirei os olhos.
"Primeiro que tudo: É uma cidade." A minha mãe corrigiu e novamente revirei os olhos. "Segundo: Presta atenção às maneiras. Quero respeito. Exijo respeito minha menina. Enquanto tens dezessete anos e vives debaixo do meu teto, estás sob as minhas ordens e não te admito que fales com o teu pai dessa forma."
E este é um daqueles momentos em que nos apetece gritar e mandar os nossos pais à merda e para todos os outros sítios que são considerados maus. Mas claro que eu fui obrigada a ficar em silêncio e apreciar o som da trovoada enquanto os meus pais falavam de assuntos aleatórios como o facto de eu nem estar nervosa para começar o ano numa nova escola a meio de Novembro. Que querem eles que eu faça? Que roa as unhas? Que fique em pânico e me esforce ao máximo para impressionar os outros? De que me vale causar boas impressões se as pessoas que vou conhecer serão apenas memórias um dia?
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THUNDERSTORM | Harry Styles
FanfictionEu aprendi a valorizar os meus raios de sol, não as minhas tempestades... porque elas não duram para sempre.