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Nós nunca conhecemos a morte até que somos enfrentados com ela. Nunca antes me encontrei numa situação onde tivesse que viver com ela e com as suas consequências. As pessoas fingem importar-se comigo por uns dias, dizem-me que lamentam imenso, que foi injusto... Porque é que lamentam por mim? Por sofrer? Eu acho que deviam lamentar-se por si próprios... A hipocrisia sempre fez parte da minha vida mas nunca de forma tão drástica. As pessoas choram mas as lágrimas não me dizem nada, são falsas, são uma perda de água... De que me vale ver as pessoas a chorar se sei que no dia seguinte vão estar bem novamente, como se nada tivesse acontecido?  O meu pai morreu e acredito que com isso, só duas pessoas vão realmente sofrer: Eu e a minha mãe. O antigo patrão? A minha tia? A vizinha da casa ao lado? Essas pessoas davam-lhe um olá mas nas costas provavelmente comentavam o quão miserável ele é. E eu? Eu era quem estava lá. Eu conhecia o meu pai, acompanhei-o desde o meu nascimento. Fui obrigada a viver com todos os seus defeitos e o mais difícil? Eu fui obrigada a aceitá-los. Eu fui obrigada a aceitar os dias menos bons do meu pai, a tentar compreender o mau feitio que o acompanhou durante grande parte da sua vida. E agora, que eu o conhecia bem, fui obrigada a aceitar o facto de que queria tudo de volta. Eu queria os dias maus de volta, queria que ele gritasse comigo novamente e me chateasse por nunca comer ao jantar... Nós nunca realmente valorizamos as pequenas coisas até as perdermos. Até percebermos que elas foram embora para sempre e nada podemos fazer para as ter de volta. Nós nunca pensamos que quando estamos a falar com alguém, essa pode ser a nossa última conversa. Podemos gritar com uma pessoa sem sequer sabermos que esse será o nosso único adeus.  

"Olivia, esse vestido fica-te tão bem... Estás tão bonita." A minha mãe falou. Virei-me para ela, ergui uma sobrancelha, ela suspirou. Ela tinha escuros círculos em torno dos seus olhos que perderam a cor no momento em que lhe contei. Ela estava a tentar parecer positiva quanto a tudo isto mas estava tão triste quanto eu.  

"Poupa-me os elogios... Preferia estar feia e não o usar." Comentei, apagando o cigarro e atirando-o pela janela do meu quarto. É estranho chamar-lhe "meu quarto" quando passei mais tempo em casa do Cook do que nesta. Decidi ficar cá apenas por estas noites até ao funeral estar planeado. A minha mãe ia precisar de mim, não a queria deixar sozinha, sobretudo depois de ela descobrir que ele se suicidou por causa da separação.  

"Não tens que ser rude..." Disse. Revirei os olhos e abandonei o quarto, não proferindo mais nenhuma palavra. Eu pensei que a morte do meu pai a fosse mudar, fosse deitá-la tão abaixo que ela se apercebia que se tinha tornado numa mulher fria e arrogante. Mas foi ao contrário: Mais fria ficou. Nos últimos dias tem-me tratado como se eu fosse a culpada de tudo. Harry sentiu-se culpado mas eu não podia sentir. Que culpa tinha eu disto tudo? Eu estive com o meu pai quando ele mais precisou de mim. Onde errei? Eu não errei. Harry não errou mas infelizmente pensa que o fez. Ele próprio ficou afetado: Não falou comigo nos últimos dias. Apenas me ligou a perguntar quando era o funeral e as horas. Era compreensível certo? Ele estava vulnerável, as memórias estavam a voltar para ele.  

Quando desci as escadas, Michael sorriu enquanto me olhava. "Pronta para ouvir as pessoas a falar sobre o quanto adoravam o teu pai, mesmo sem o conhecer?" Perguntou. Gargalhei com as suas palavras e assenti. O grupo tem sido fantástico nos últimos tempos... Esqueceram os problemas que a gravidez de Raquel trouxe e uniram-se para me ajudar a melhorar. Eu podia ter ficado pior mas eu sempre lidei com os problemas assim: Choro e grito com o choque, umas horas depois passa. O que podia eu fazer? A morte é inevitável e não deixa uma carta a avisar quando vai ser a sua próxima visita. Tudo o que temos de fazer é seguir em frente e aceitá-la. Ele podia ter vivido mais mas ele não queria. Foi uma decisão própria, pensada, que poderia eu fazer? Chorar e arrepender-me por não me ter apercebido da sua depressão? Ora! Ele não se apercebeu da minha! 

THUNDERSTORM | Harry StylesOnde histórias criam vida. Descubra agora