Quando saí da escola, estava irritada. Estava irritada, frustrada, zangada com o mundo. Eu sabia que tinha razão: O Harry cometeu um erro e eu paguei por ele. É óbvio que ainda assim não iria ter boa nota, mas pelo menos ia ter algo. Ia tentar. E para mim, tentar e falhar é sempre mais importante do que ficar quieto, temendo que algo não corra bem.
Eu não sabia para onde ir. Estava desorientada. A minha mala estava ligeiramente pesada nos meus ombros, apesar de estar quase vazia. Sentia as pernas tremer e apesar do frio que estava na rua, o meu corpo estava a suar. Juntar noites sem dormir, poucas refeições e stress não fora, de todo, boa ideia. Mas que podia eu fazer? A minha vida estava uma confusão. Desde que me mudei para aqui, sempre foi uma confusão. O meu namorado mentiu-me, por causa dele não consegui fazer um trabalho e tenho quase a certeza que a professora não me deixou apresentar apenas por eu me dar com aquele grupo que tantos julgam e poucos conhecem.
Eu não queria ir para casa. Aquelas paredes iam apenas lembrar-me de tudo o que tem acontecido ultimamente. Não queria ir para casa da minha mãe, não queria ir para casa do Cook, eu não tinha para onde ir. Mas não voltaria para a escola naquele estado.
As rosas eram quase demasiado bonitas para estar nas minhas mãos sujas e magras. A cor era viva, quase brilhante, cor de sangue. Eu nunca fui boa com flores, não sei o nome delas e rosas foi a primeira coisa que me veio à cabeça. É assim tão mau? O que conta é a intenção, certo?
Acabei por suspirar e caminhei lentamente até ao cemitério. Algumas nuvens cobriam o céu de forma rápida, revelando que iria chover pelo menos em menos de uma hora e meia. As ruas estavam vazias como sempre. Havia uma ou outra pessoa a ir para o trabalho ou simplesmente a passear, mas não eram muitas. Levei a minha mão ao meu cabelo, puxando-o para trás sentindo gotas de suor escorregar-me pela testa e entrei no cemitério, em direção à campa do meu pai.
Eu queria que tivessem usado uma fotografia diferente. Ele estava tão triste, tão sério naquela. O rosto estava sério, não havia um único sorriso... É óbvio que ele não se sentia feliz quando a tirou, era recente. Mas eu queria lembrar-me dele como uma pessoa alegre, não como um miserável deprimido. Eu acho que na verdade, queria mentir a mim mesma. Novamente, suspirei. Coloquei as rosas perto da campa, em conjunto com outras flores já a ficar murchas e ajoelhei-me. Eu não era boa nisto de visitar parentes mortos. Eu não era boa a ficar ali a pensar em todas as boas memórias que me tinham proporcionado, porque não eram muitas. Eu não era boa a sentir saudades. Eu acho que não era boa a sentir no geral.
E foi então que ouvi passos atrás de mim e alguém se ajoelhou ao meu lado. Olhei a pessoa pelo canto do olho, percebendo que também ele tinha estrutura de adolescente. Estava com um casaco gigante, o capuz posto e por baixo ainda tinha um boné, tornando-se quase impossível eu olhar o seu rosto. Mas, quando falou, percebi que nunca tinha ouvido a sua voz antes:
"Ele está mesmo feliz nessa fotografia." Comentou. Voltei a virar o rosto para a fotografia e tentei procurar a felicidade a que ele se referia, mas falhei. "Olha." O rapaz esticou então um braço e tapou o rosto do meu pai, deixando apenas os olhos visíveis. "Vê as pequenas rugas ao lado dos olhos e estão meio fechados. Ele estava feliz e com vontade de sorrir mas provavelmente não o fez porque tinha que ter um ar sério."
Fiquei a observar a fotografia durante algum tempo, em silêncio, enquanto o rapaz se endireitava ao meu lado. E, depois de muito me esforçar, encontrei a felicidade que tanto procurei. "Tens razão." Assenti com a cabeça, não tirando os olhos da imagem à minha frente. "Tens razão. Como te chamas?"
"Já morri para tanta gente que acho que nem sou digno do meu nome." Comentou. "Mas sei o teu. Olivia não é? Bola."
"Boyle." Corrigi e o rapaz soltou uma doce gargalhada, mostrando que sabia e que apenas se tinha metido comigo. "Deves ser mesmo má pessoa, visto que morreste para tanta gente."
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THUNDERSTORM | Harry Styles
FanfictionEu aprendi a valorizar os meus raios de sol, não as minhas tempestades... porque elas não duram para sempre.