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As ruas da aldeia cidade estavam cobertas de neve. As montras das lojas continham roupas com cores quentes à venda, as ruas, postes, árvores cobertos de luzes. Colunas estavam espalhadas em cada avenida, músicas natalícias aumentando o espirito das pessoas que faziam compras de última hora.

As crianças corriam pelas ruas, brincando com a neve, divertidas. Os pais, andavam apressados de loja em loja na tentativa de comprar presentes bonitos o suficiente para as agradar.

Nunca fora fã do Natal: Era sempre a mesma coisa. Eu e a família juntávamo-nos em casa, fingindo gostar uns dos outros por uma noite. Trocávamos algumas piadas, deitavam-me abaixo por não ser a melhor aluna nem a mais bonita, perguntavam-me quando arranjaria namorado e depois de abrir os presentes que pouco me importavam, iam embora por mais um ano. Mas agora ia ser diferente. Eu estava num sitio diferente, pessoas diferentes. Eu tinha amigos, tinha alguém para comprar diversos presentes.

A verdade é que os meus pais se separaram em menos de dois dias, saí de casa mesmo sendo menor, uma tempestade tomou conta da minha vida numa questão de segundos. Ainda assim, eu não estava triste. Eu tinha finalmente amigos, eu podia sentir o espirito natalício nas minhas veias, eu estava entusiasmada.

"Ali!" Apontei, o meu pai sorriu. Não passávamos um dia juntos há imenso tempo e decidimos ir fazer compras de Natal. É óbvio que o meu pai só me ia dar prenda a mim visto que estávamos agora no Reino Unido e não íamos conseguir ver a família. Mas não fazia mal. Natal era Natal e eu queria que ele estivesse pelo menos distraído de todos os problemas que obviamente o afetaram mais a ele do que a mim. "Vamos comprar chocolate quente e depois podemos continuar a ver as montras?"

O meu pai assentiu e ambos caminhámos até um pequeno café. Quando entrámos, a decoração fez com que me apaixonasse: O espaço era acolhedor, tinha sofás em vez de cadeiras, as paredes eram castanhas, havia uma lareira. Músicas natalícias tocavam em baixo volume e por todo o lado víamos pessoas a estudar. Ao fundo da loja haviam prateleiras com livros e duas secretárias com computadores onde adolescentes jogavam e visitavam as redes sociais.

Do lado oposto, haviam CD's e pequenas coisas como canetas, canecas, pratos à venda. O meu pai pareceu-me um pouco indiferente, sempre preferindo os ambientes mais modernos e não estes silenciosos e acolhedores.

Enquanto ele se sentava, caminhei até ao balcão onde uma rapariga com aproximadamente a minha idade se movimentava de um lado para o outro. Era baixa, tinha o cabelo preso num coque, longos olhos azuis e verdes. "Boa tarde." Cumprimentei-a, sentindo necessidade de ser simpática com ela.

Existem pessoas que logo à primeira vista me mostram ser calmas e de confiança e esta era uma delas. Eu nunca fui uma pessoa simpática: Sempre fui calada, encolhida no meu canto, ignorando os outros. Mas esta rapariga era tímida, bonita, transmitia-me alegria e serenidade.

"Boa tarde." Os seus lábios abriram-se num bonito sorriso. "O que vai desejar?"

"Dois chocolates quentes." Pedi, sorrindo-lhe de volta. E então levei a mão à barriga, sentindo-me fraca. O meu pai não estava bem ciente do meu estado, nunca tivera que se preocupar com isso. Mas o susto da outra vez foi suficiente para eu abrir os olhos e começar a alimentar-me, mesmo contra a minha vontade. Então olhei para a pequena montra e de seguida voltei a encarar a doce menina. "E uma fatia daquele brigadeiro."

"É para já." Sorriu. E então ela virou-se e começou a preparar o que pedi. Olhei o meu pai, estava agora entretido com um livro visivelmente velho. Caminhei até à estante dos livros, começando a olhá-los com alguma atenção. Todos eles eram velhos, as capas estavam rasgadas, as folhas já estavam amarelas.

Peguei num dos livros, não olhando o seu nome, abri o mesmo e cheirei as suas folhas. O cheiro a livros velhos é a melhor coisa do mundo para mim. Geralmente as pessoas adoram o cheiro a livros novos mas que piada têm eles? Os livros velhos têm muito mais que apenas a história escrita neles. Eles próprios já viveram histórias: Eles andaram por várias mãos, eles visitaram diferentes pessoas. Já foram várias as pessoas que os olharam e todas elas têm histórias e formas de ver o mundo diferentes. Estes livros, velhos, estão cheios de vida.

THUNDERSTORM | Harry StylesOnde histórias criam vida. Descubra agora