É horrível quando o sorriso de alguém fica preso na nossa mente e não quer deixar não é? Especialmente quando é um sorriso que raramente vemos e vindo de alguém que nem gosta de nós. A tarde toda que passei a estudar para apanhar a matéria foi cansativa. As músicas todas faziam a minha cabeça doer e ficar mais pesada, os meus olhos queriam fechar-se, e eu sentia uma enorme onda de ansiedade sempre que pensava que ia ver Harry no dia seguinte. Era apenas terça-feira, conhecia-o há tecnicamente dois dias e meio e ele já tinha este efeito em mim. Deixava-me nervosa, curiosa, eu queria aprender cada vez mais e mais sobre a sua vida, sobre os seus medos, defeitos, qualidades. Mas o problema está exatamente aí - ele é como um livro. Contém uma história dentro de si mas não permite que eu o leia.
O meu coração quase saltou do meu peito quando ouvi um estrondo. Eu estava de fones nos ouvidos e não estava bem ciente do mundo à minha volta mas o estrondo foi alto e assustou-me. Retirei os fones dos ouvidos e ouvi a minha mãe aos berros, irritada, proferindo as palavras mais feias que nem constam no dicionário.
A minha mente demorou algum tempo a processar o que se estava a passar até que ouvi a voz do meu pai, gritando de igual forma com ela. O meu coração estava acelerado assim como a minha respiração e imediatamente senti as minhas mãos e pernas começar a tremer de forma frenética. Gritos. Gritos são uma das coisas que mais odeio no mundo e que me deixam mais assustada. Não gosto de gritos nem de ver pessoas discutir à minha volta, especialmente os meus pais, que sempre foram um casal tão unido.
Completamente aterrorizada e sem conseguir entender bem o que se estava a passar, desci as escadas até meio e vi um móvel da sala no chão, imensos pratos partidos ao lado do mesmo. A minha mãe tinha os olhos vermelhos e cheios de lágrimas e respirava de forma rápida e descontrolada. Já o meu pai, tinha uma expressão assustada e as suas duas mãos estavam esticadas para a frente, tentando impedir a minha mãe de o agredir.
No momento em que me preparava para perguntar o que estava a acontecer, a minha mãe falou algo que me destruiu completamente: "A tua filha. Pensaste na tua filha quando te envolveste com aquela mulher? A minha própria irmã."
Se antes o meu coração estava a bater rápido, agora ele estava completamente parado. Todo o mundo pareceu parar à minha volta e a frase da minha mãe ecoava completamente na minha cabeça. O meu pai estava em silêncio e com o rosto para baixo, encarando o chão. Nada poderá explicar a raiva que eu sentia dele naquele momento.
A minha tia era uma viúva, striper. Nós todos sempre a apoiámos na profissão, não era da nossa conta se ela corria algum risco, ela ganhava bem, e eram as suas escolhas. Ainda assim, sempre a achei uma mulher cinco estrelas. Simpática, sorridente, o mundo parecia sorrir-lhe e ela era uma pessoa alegre e bem disposta.
Não consegui dizer nada. Ainda em choque, atravessei a sala, ignorando completamente o facto de os meus pais estarem lá, e saí para a rua. Eu estava apenas de leggins, uma sweat azul escura e descalça. O chão estava encharcado debaixo dos meus pés por causa da chuva que insistia em cair mas eu não me arrependi por um segundo da minha decisão.
Eu não estava a chorar e eu não ia chorar. Os assuntos dos meus pais devem ficar entre eles, são dois adultos e têm que se resolver sozinhos. No entanto, eu não podia colocar-me em risco de ter um ataque de pânico com a quantidade de gritos que ecoavam pelos corredores da casa.
O meu cabelo estava completamente para baixo por causa da chuva e eu não sabia para onde ir. O meu telemóvel estava em casa e eu apenas olhava em volta, com os olhos cerrados, tentando focar a visão em algo. Comecei a andar à chuva, louca como era, procurando um sitio para me abrigar. Foi então que umas luzes ofuscaram a minha visão, revelando que um carro se aproximava.
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THUNDERSTORM | Harry Styles
FanfictionEu aprendi a valorizar os meus raios de sol, não as minhas tempestades... porque elas não duram para sempre.