45

348 24 2
                                    

Voltar a casa foi estranho: Harry e eu mal falávamos, a nossa relação não passava agora de uma simples memória e por mais que eu quisesse ser positiva, era praticamente impossível dadas as circunstâncias. O rapaz estava completamente de rastos por causa da morte de Louis, esta agora sendo verdadeira... e eu? Bem, eu estava aterrorizada. Sim, aterrorizada. Eu estava aterrorizada porque agora que tinha sido confrontada com tantas mortes, é que começava a pensar verdadeiramente no conceito da palavra. Afinal, o que é a morte? E porque é que ficamos tão abalados com ela? 

E depois, claro, chegam os arrependimentos: sim, porque já não nos basta chorar de saudades e chorar ao relembrarmos os momentos que passámos com alguém que partiu, mas também temos que levar com todos os: "e se?" 

E se eu tivesse feito algo diferente? E se eu tivesse comido outra coisa, se eu tivesse andado mais rápido? E se eu não tivesse dito aquilo? E se eu não tivesse comprado aquele objeto ou tomado aquela decisão?

E, por fim, vem a culpa. Sentimos que somos os culpados pela morte de alguém, por algo que é tão natural quanto os nascimentos das crianças. Sentimos e pensamos que se tivéssemos feito algo diferente, a dita pessoa poderia ainda estar entre nós. Mas não podíamos! Não! Porque a morte aconteceu e se aconteceu é porque tinha que acontecer e todas as dúvidas, pensamentos, arrependimentos e desejos não passam de coisas que só servem para nos atormentar. Não podemos voltar atrás, decisões foram tomadas, ações foram feitas, erros foram cometidos e a única coisa que podemos fazer é aceitar. 

"Isto é sem qualquer tipo de dúvida... inesperado?" 

"Era esta casa ou a do Cook e acredita que a última coisa que quero neste momento é olhar para a cara dos pais dele." Respondi à minha mãe, que me olhava incrédula, as suas olheiras sendo bastante visíveis. Estava a usar um vestido azul escuro, uns collans pretos cobriam as suas magras pernas, uns sapatos da mesma cor nos seus pés. O seu cabelo loiro estava preso num coque e nos seus lábios conseguia ver vestígios da vodka que provavelmente teria ingerido há umas horas atrás. "Posso?"

"Claro, sim, desculpa." Estava atrapalhada enquanto eu passava ao seu lado, as minhas costas gritando por socorro enquanto carregava duas malas cheias de roupa, coisas de higiene e material escolar. "Estás mais magra." Comentou, numa tentativa falhada de fazer conversa. 

A casa estava diferente. A decoração tinha mudado por completo: estava mais animada, cores mais vivas fazendo com que parecesse uma casa bem mais saudável. Não haviam vestígios de fotografias ou coisas pertencentes ao meu pai adotivo... era como se ele nunca tivesse existido. Como se a sua presença tivesse sido completamente eliminada daquele local... como se a minha mãe estivesse a evitar pensar no homem que quebrou o seu coração gelado em mil pedaços.

"Isso não é muito bom dado o meu estado de saúde." Tentei quebrar o gelo ao brincar com a minha doença, porém, a minha mãe apenas baixou o rosto e suspirou. "Eu sei de tudo." Afirmei. Voltei a pegar nas malas, caminhando até às escadas que logo comecei a subir em direção ao meu antigo quarto. Ela seguiu-me. "O Harry contou-me a verdade toda."

"Há alguma forma de me perdoares por... tudo?" Perguntou. Pousei então as malas em cima da minha cama, tendo vontade de me atirar para cima desta e simplesmente não voltar a abrir os olhos... mas não podia. A minha única chance de sobreviver àquela miséria a que chamava vida era viver. Para continuar viva, eu precisava de viver: eu precisava de andar, correr, falar, comer, respirar, sentir-me acordada, jamais parar. "Olivia eu estou a falar contigo." 

"Não tens que falar com tanto receio, não é como se te fosse agredir." Comentei, tentando de algum modo acalmar a minha mãe e mostrar-lhe que me faltava paciência para mais confusões ou discussões. "Não há nada para perdoar, eu não estou zangada."

THUNDERSTORM | Harry StylesOnde histórias criam vida. Descubra agora