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Sempre que mexia os pés por cima daquela terra molhada, o som da lama fazia-se ouvir, tornando todas as atenções para o meu lado. Eu não tinha bem a certeza se seria apenas por eu ser a única sem um chapéu de chuva na mão ou se era apenas por culpa do silêncio constrangedor que pairava no ar.

"Menina, eu tenho um compromisso a seguir, eu preciso mesmo -"

"Espere, por favor." Supliquei ao padre, não querendo que ele fizesse as suas orações antes que o Harry e a Winter chegassem. "Eles devem estar mesmo mesmo a chegar. Eu compreendo a sua posição, mas por causa da chuva o café encheu um pouco e eles não souberam como mandar as pessoas embora."

"Mais cinco minutos menina. Só mais cinco." Garantiu, mostrando a visível impaciência que tomava conta de si. Assenti com o rosto, engolindo em seco e caminhei para perto de Cook, que abriu um dos seus braços para mim.

O rapaz estava claramente triste, destruído até. Todos estávamos a tentar ser fortes, sobretudo porque Raquel estava presente e sabíamos bem que se nos fossemos abaixo, ela perderia as poucas forças que ainda lhe restavam. A rapariga estava abraçada a uma senhora e um senhor, que penso serem os pais de Michael. A senhora estava com umas olheiras escuras e notórias, deixando-nos visível a sua dor e tristeza. Já o senhor, mesmo estando a chover, tinha colocado uns óculos escuros, provavelmente não querendo mostrar as emoções que sentia. A Raquel? Bom, a Raquel estava uma lástima. A rapariga não reagiu nada bem à noticia da morte do seu namorado, chegando a desmaiar até. Todos tememos que fosse perder o bebé, mas depois de passar umas horas com Harry, que lhe disse algumas coisas que ela precisava de ouvir, a rapariga conseguiu erguer-se da cama de hospital e decidir seguir com a sua vida.

Passaram-se apenas três dias desde a morte do rapaz que para nós pareceram anos. As horas passavam e a cada segundo, era uma mistura de emoções diferentes. Eu própria não sabia bem o que pensar, o que sentir. Estava apática, como sempre ficava com a morte de alguém. Não é mentira nenhuma que a morte de Michael me doeu três vezes mais que a morte do meu pai. Aliás, a morte de Michael deixou-me a chorar durante uma noite inteira, entre os braços de Harry. Também ele chorou. Afinal, perdeu outro melhor amigo.

Louis estava no funeral. Usava um hoodie preto, abotoado até ao pescoço e tinha o capuz posto, óculos de sol também. Estava com umas calças largas e uns ténis rotos e usados, provavelmente não querendo de todo ser reconhecido, afinal, tinha um corpo bastante caraterístico. Não é mentira para ninguém que o rapaz tinha umas pernas magras, mas umas coxas e ancas bem definidas. Era baixo, mas tinha umas curvas que chamavam a atenção de todos: Era óbvio que com o tipo de roupas que usava no dia a dia, ele seria reconhecido. Soube que era ele porque quando chegou, aproveitou-se da minha solidão para se colocar ao meu lado, sussurrando um "Ele era fantástico", enquanto se aproximava do caixão e pousava uma rosa vermelha em cima do mesmo.

De seguida, o rapaz afastou-se, ficando longe de todos, com as suas pequenas mãos escondidas nos seus bolsos. Eu sabia que o seu fim estava perto. As suas pernas estavam trémulas, parecia que se iam partir a cada passo que ele dava, para minha tristeza. Ainda assim, uni forças para envolver os meus braços em torno do tronco de Cook, agarrando-o com força enquanto ele nos protegia da chuva com o seu chapéu de chuva cor-de-rosa. O padre já batia com os pés no chão, buliçoso e exasperado, claramente querendo ir embora, provavelmente tinha outro funeral à sua espera. Era compreensível.

Por fim, ouviram-se os passos apressados de Harry e Winter, que chegavam os dois de mãos dadas, os seus rostos vermelhos e suados talvez por terem vindo a correr. Soltei-me do corpo de Cook e caminhei lentamente até ao rapaz dos olhos verdes, beijando os seus lábios docemente. "Estás bem?" Sussurrei. Ele olhou-me com um ar cansado e apenas encolheu os ombros como resposta à minha pergunta estúpida. Virei-me para o padre, anunciando que ele estava autorizado então a começar o que tinha a fazer. A ideia de trazer um padre para o funeral foi simplesmente da família de Michael, nós simplesmente queríamos algo simples e especial, como enterrá-lo numa floresta.

THUNDERSTORM | Harry StylesOnde histórias criam vida. Descubra agora