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(Podem ir buscar uns quantos pacotes de lenços, eu avisei)


Era dia vinte e quatro. O meu cabelo estava encaracolado, brilhante, mostrando as horas que trabalhei para o hidratar. A minha maquilhagem estava no ponto, a sombra combinava com o batom, o lápis tornando os meus meus olhos maiores e mais bonitos. 

Estava com um vestido branco, comprido, com colans pretos por baixo para não ter frio. Estava com as minhas botas pretas, sobretudo porque estava uma grande tempestade na rua e eu não queria ficar com os pés molhados. Olhei-me ao espelho uma, duas, três vezes até ter a certeza que estava bem. Depois, mergulhei em perfume e coloquei um casaco preto de cabedal.  

Harry parecia-me triste ao telefone. O seu tom de voz estava mais baixo, obscuro, deixando-me de certo modo preocupada. Peguei numa mala apenas colocando lá dentro o meu telemóvel e saí de casa. A chuva estava a cair com força mas pouco me importou. Harry pediu-me que nos encontrássemos em casa dele. Eu disse-lhe que não havia qualquer problema em ficar em casa do Cook mas ele pareceu-me de certo modo desesperado e não consegui negar o seu pedido. 

Entrei no táxi, feliz por apenas ter apanhado umas pequenas gotas de chuva e sorri para o senhor taxista. "Boa noite." Disse. Também ele me parecia triste naquela noite: Eu compreendia. Era uma noite para estar em família e ali estava ele, a trabalhar, provavelmente para conseguir sustentar a sua.  

"Boa noite menina." Ele tinha um sotaque americano que me fez sentir ainda pior. Fechei os olhos durante a viagem. Não me apetecia ver as luzes das casas acesas, os jantares de família, as pessoas a fingir ser felizes por uma noite. Apetecia-me apenas ouvir a música que passava baixo na rádio - Try - e o som da chuva a bater na janela.  

O taxista não falou mais comigo. Fomos apenas os dois em silêncio durante a viagem para casa de Harry. Eu só conseguia imaginar como ele estava vestido. Estaria formal? Claro que não. É o Harry afinal de contas. Provavelmente iriamos passar aquela noite em frente da lareira a fumar e a falar de assuntos aleatórios.  

Quando chegámos, paguei algum dinheiro a mais ao taxista que me agradeceu do fundo do coração. Desejei-lhe um feliz Natal e saí do carro. Assim que bati à porta, Harry abriu a mesma e ele estava irreconhecível. Escuras olheiras estavam por baixo dos seus olhos, a sua pele mais pálida que o costume, os seus lábios secos. Ele estava vestido de forma descuidada e o seu cabelo estava bagunçado. Olhei-o por momentos e quando me preparava para falar, ele pegou nas suas chaves de casa, num embrulho pequeno e num envelope.  

Sem dizer nada, colocou o seu corpo à chuva enquanto caminhava para o seu carro. Eu estava preocupada: Eu não sabia se estava bêbedo, drogado ou apenas triste. Ainda assim, decidi confiar nele e entrei no lugar ao seu lado no carro.  

Ele não ligou o rádio. A viagem foi silenciosa, apenas o som da chuva a bater na janela, a trovoada forte, próxima, e a respiração de Harry enquanto guiava a uma maior velocidade que a esperada. "Harry vai com calma." Pedi. Ele ignorou, carregando no acelerador com ainda mais força. Eu estava a ficar desesperada, o seu estado assustando-me. "Harry." 

"Não fales." Pediu. Engoli em seco quando o disse e assenti. "Faz tudo menos falar agora." 

Aceitei o seu pedido e fechei os olhos, tentando distrair-me da velocidade a que o carro ia agora, podendo escorregar a qualquer momento por causa da chuva. Minutos mais tarde, Harry estacionou. Abri os olhos apenas para ver que estávamos perto da floresta onde fizemos o nosso piquenique. Virei-me para ele, confusa, mas ele apenas saiu do carro com o envelope e o embrulho.  

A chuva caía com cada vez mais força e eu começava a ficar assustada. O que ia ele fazer? Eu confiava plenamente no Harry mas ele não estava no seu estado normal. Ele costumava sorrir-me, ser amoroso, carinhoso, positivo. Agora ele parecia um monstro, parecia um rapaz completamente destruído. Era como se alguém lhe tivesse dado a mais triste das noticias e ele se estivesse a preparar para me dizer adeus.  

THUNDERSTORM | Harry StylesOnde histórias criam vida. Descubra agora