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Harry

Sábados nunca foram os meus dias favoritos, ao contrário de muitos outros adolescentes. Eu achava-os aborrecidos. Ficava sentado no sofá com um cigarro na mão, olhando para a lareira, esperando que algo de milagroso fosse acontecer para eu sair daquele lugar. Por vezes o grupo costumava sair à noite para nos divertirmos mas as coisas não estavam bem: Raquel estava grávida e a chorar pelos cantos, fazendo com que Carol e Bellamy ficassem deprimidos com ela. Do outro lado tínhamos Michael: A chorar ainda mais, completamente perdido, Olivia e Cook a tentar pará-lo de cometer qualquer loucura.

Onde estava eu, perguntam-se vocês? Como referi antes: Sentado no sofá, cigarro na mão, olhando para a lareira. Eu não gosto de me envolver nos problemas do grupo, sobretudo sabendo que o podem deitar abaixo. Estas pessoas são a coisa mais importante que tenho na vida e ao meter-me na confusão, poderia estar a perde-los a todos.

Pensei ligar a Olivia para que viesse ter comigo e ficarmos a ver filmes mas ela estava com Michael, a cuidar dele. Era compreensível: Ele estava muito mal. Chorou e chorou na sexta feira, faltou à última aula e levou Olivia com ele. Cook ligou-me preocupado com a rapariga, dizendo que ela começava a ficar afetada com o estado de espirito dos seus amigos: Michael chorava porque não estava pronto para ser pai, Raquel chorava porque sabia que ia acabar por ser mãe solteira. E de que lado estou eu? Eu compreendo o rapaz. Eu ficaria igual na sua situação mas e a Raquel? Será que alguém pensou na dor que é para ela ter que abortar novamente? Eu continuo a achar que eles deviam ter sido responsáveis antes sequer de o fazerem... Agora tinham que arcar com as consequências.

Deitei o fumo para fora da minha boca uma última vez e apaguei o cigarro. Levantei-me e caminhei lentamente até à janela. Estava uma grande tempestade lá fora: A trovoada fazia-se ouvir, o chão tremia, a chuva caía com força. Era a altura ideal para ter Olivia nos meus braços, mas ela tinha algo importante a fazer agora.

Suspirei. Quando o meu telemóvel tocou em cima da mesa, dei um pequeno salto. Tive esperança que fosse Olivia a dizer-me que estava livre para vir ter comigo mas enganei-me: Era um número desconhecido. Respirei fundo e peguei no mesmo, atendendo a chamada. O som da chuva do outro lado da linha estava a tornar tudo mais confuso mas eu esforcei-me para ouvir.

"Harry." A voz era-me bastante conhecida.

"Richard?" Perguntei. O pai da Olivia continuava a murmurar palavras difíceis de entender e por vezes gritava com pessoas que passavam à sua volta. Tentei esforçar-me a perceber o que estava a acontecer mas o barulho da tempestade estava a tornar tudo mais complicado. "Richard onde está? Está tudo bem?" Perguntei.

O homem continuou a dizer coisas sem sentido até que eu percebi que algo estava mal. Ele parecia-me desorientado, a sua voz estava a falhar, ouvia-se música ao fundo revelando que ele tinha estado claramente a beber. O porquê? Não sei. Talvez tenha ido sair com amigos... Mas novamente, que amigos? Ele tinha-se mudado há pouco tempo e sempre me pareceu um senhor solitário.

"Richard onde está? Consegue dizer-me onde está?" Tentei gritar para que ele me ouvisse bem. Depois de murmurar algumas palavras confusas, acabou por dizer o nome de um bar que eu conhecia bastante bem. Eu e o resto do grupo costumávamos ir lá sobretudo às sextas à noite quando queríamos beber e esquecer os problemas.

Desliguei a chamada e corri para o meu quarto. Coloquei uma roupa que tinha à ponta da cama, calcei-me e corri até ao carro. Pensei em mandar uma mensagem à Olivia mas não a queria preocupar mais, muito menos na situação em que ela se encontrava. O Michael precisava dela e ela não precisava de se preocupar com o pai bêbedo... Eu sabia bem como lidar com isso.

Uma das coisas boas em relação à aldeia é mesmo o facto de ela nunca ter muito trânsito, o que facilita a velocidade a que chegamos aos locais desejados. Eu estava preocupado, mentiria se dissesse que não estava: O pai da Olivia nunca me tinha ligado antes, muito menos neste estado. Ele parecia-me um senhor bastante saudável mas estava claramente perdido.

THUNDERSTORM | Harry StylesOnde histórias criam vida. Descubra agora