great mistake

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Acordei assustada, peguei meu celular. Era 10h da manhã, eu estou muito atrasada! Corri até o banheiro, entrei no chuveiro, nem esperei ele esquentar e entrei. A água fria me arrepiou, mas não me incomodei, havia coisas demais na minha mente. Ouvi meu celular tocar à distância, me sequei rapidamente e o atendi.

-Alô?

"Bom dia, mi amor. Tá ocupada?"

- Oi mãe. Eu... - não podia falar que estava atrasada para o trabalho, era apenas a minha segunda vez, mas mesmo assim, iria partir o coração da minha mãe. - ... posso falar.

"Vocês vem nos buscar? Ou nós passamos aí?"

Do que ela está falando?

- Eu passo aí.

"Ótimo. Lembre de chegar cedo para o jantar."

Meu Deus, o jantar de ensaio. Eu havia me esquecido completamente! Como eu conto a ela? Sobre Teddy? Sobre Jake? Sobre tudo?

- Ok, até amanhã mãe.

"Se cuida mija."

Desliguei a chamada. Eu tenho um dia a menos. Como vou contar a verdade? Não quero decepcioná-la, nem receber sermão do meu pai, muito menos ouvir os conselhos de David, o filho de ouro.

Entrei no whatsapp, pronta para receber uma enxurrada de mensagens, recebi apenas três.

Jake: como você está?

Eu não visualizei, apenas li pela barra de notificações. Não me sinto bem em respondê-lo. Me sinto uma traíra.

Rosa: melhor?

Amy: Sim, obrigada por perguntar.

Sorri, Rosa pode fingir o quanto quiser, mas todo mundo sabe o quanto é doce e atenciosa.

Capitão Holt: Como está? - Atenciosamente Raymond Holt.

Capitão Holt: Tire o dia de folga, Santiago. - Atenciosamente Raymond Holt.

Amy: Estou melhor, obrigada.

Eu ri. Ray sempre assinava suas mensagens no privado, ele temia que ninguém pudesse reconhecê-lo.

Deixei o celular de lado e olhei para baixo, estava sem roupa. Fiquei tão desnorteada que esqueci de algo simples. Fui até o armário e peguei um camisão e uma calcinha, depois de vestida sentei na cama. Senti pontadas na lombar, como se alguém me perfurasse com um objeto pontudo. Tomei o remédio que Jake comprou antes que piorasse. Tentei deitar, mas todas as posições me causavam dor intensa, então me sentei novamente.

A pressão em saber o que falar me corrói. O que carambas eu deveria dizer? "Mãe, esse é meu namorado". Não, Jake não é meu namorado, nós estamos indo devagar. "Mãe, esse é o cara com quem estou me relacionando. Não se preocupe, estamos indo devagar." Não me soa convincente. "Não me importo com o que você pense." Mentira. "Eu o amo. Ele mesmo não sabe disso, então parabéns por ser a primeira".

A dor na minha lombar aumentou, se eu não resolver isso, vou acabar internada. Peguei um caderno na minha cabeceira e comecei a escrever. Simulei o nosso diálogo, suas possíveis reações, infelizmente em nenhuma ela estava feliz. A melhor reação possível é supresa, porque não sei o que a seguiria. Raiva, tristeza ou desprezo? Só sei que não seria alegria ou aceitação.

Senti o remédio fazer efeito, meus olhos pesaram, fui deitando aos poucos e me deixei cair em um sono profundo. Por sorte acordei cedo e morrendo de fome, afinal não havia comido nada no dia interior e muito menos enquanto dormia. Levantei e fui comer.

♤♡◇♧

Olhei a mensagem de Jake pela barra de notificação, novamente o ignorei. Meus pais se aproximaram, ambos vestidos formalmente.

- Amy.

- Oi mãe, oi pai.

Meu pai sentou no banco da frente, a minha mãe no banco de trás. Ambos me abraçaram.

- Pé na estrada.

Eu assenti. Não conversamos, eu apenas foquei na estrada, eles olhavam pelas janelas em silêncio. Em menos de meia hora chegamos ao restaurante.

- Mamá - David se aproximou e beijou sua mão. - Papá. - eles trocaram um aperto de mãos firme - Hermana. - ele abriu os braços para mim, eu o abracei relutante. - Obrigado por virem, por favor, me acompanhem.

- David está cheiroso. Você devia ter passado mais perfume, Amy.

Esse vai ser o restante do meu dia, ótimo. Seguimos David até uma mesa no centro do restaurante, não havia ninguém além da nossa família, o restante dos meus irmãos já havia chegado. David puxou a cadeira para a minha mãe sentar, ele tentou fazer o mesmo para mim, mas eu fui mais rápida e me sentei sem sua ajuda.

- Amy, onde está o Teddy?

Engoli a seco.

- Não veio, viajou a trabalho.

- Que pena. - comentou a noiva de David.

- É uma pena mesmo. Teddy é muito atencioso e sabe nos tratar como ninguém. - disse minha mãe dobrando o guardanapo.

- E tem piadas hilárias. - completou meu pai.

Meu pai não acha piadas engraçadas quando está sóbrio, quem dirá hilárias.

- Cadê o garçom? - perguntei mudando de assunto.

- Fechei o restaurante só para nós. Não há garçons, eu serei o responsável pelo serviço de hoje.

David endireitou sua postura. Nossa mãe o olhava orgulhoso.

- Já volto.

Ele sumiu pelo corredor.

- Arranjou um emprego, Mary?

- Eu trabalho com moda há anos, sra Santiago.

- Deixe-me reformular a pergunta. Arranjou um emprego de verdade, Mary?

Mary era branca e loira, de olhos castanhos escuros, esbelta. Menor do que eu. Linda. Ela deixava transparecer suas emoções em seu rosto, mas logo as disfarçava com um sorriso falso, minha mãe percebia, ela analisava todos os seus trejeitos.

- Como eu havia dito sra Santiago, eu trabalho com moda há anos.

O clima ficou tenso. Todos dividiam os olhares entre as duas, parecíamos acompanhar uma partida de ping pong, saltando o olhar de uma a outra. Nenhuma disse nada. Mary manteve o contato visual ao beber seu vinho, era o truque mais antigo do livro, uma alfinetada básica. A minha mãe mexia as mãos por debaixo da mesa, estava irritada. Nunca achei que fosse me sentir tão aliviada ao ver David chegar com a comida. Ele empurrou um carrinho até nós e nos serviu, um por um.

- A entrada é salada César, bom apetite.

Minha mãe retorceu a boca, queria um casamento tradicional, com comidas cubanas. Mas Mary era alérgica a nossa comida e aparentemente a nossa cultura.

Quando o jantar acabou, senti o ar sair do meu peito. Eu finalmente podia respirar, despedi dos meus irmãos e segui até o carro.

- Obrigado por terem vindo, amamos recebê-los.

Mary e minha mãe se entreolharam mais uma vez antes de partimos. Como David não percebeu a tensão? Como não percebeu as facadas que minha mãe errava só de imaginar o pescoço da futura nora?

- Ele está cometendo um grande erro.

Eu e meu pai não falamos nada, apenas escutamos a rádio ligada.

- Mas você não irá cometê-lo - minha mãe tocou no meu ombro. - Teddy é um garoto de ouro.

the way i loved you {peraltiago}Onde histórias criam vida. Descubra agora