- Eu estou esperando uma explicação...- Insistiu Arthur, trincando os dentes.
Nicolas coçou as têmporas, atônito. Mal havia despertado e era como se todo o teto da casa tivesse desabado na sua cabeça. Ele sabia que não podia continuar mentindo para o seu melhor amigo, mas talvez aquela não fosse a hora certa de contar a verdade.
Mas quando seria a hora certa?
Não existe hora certa para se fazer o certo. Enquanto ele ficar adiando, só vai continuar atrasando o inevitável.
Os outros convidados se aglomeraram próximos ao quarto em que acontecia a confusão, e Amanda, que foi a última a acordar, foi chamada por Letícia que tentou resumir tudo o que estava acontecendo.
- Não seja um maldito covarde, Nicolas. Naquele dia que eu estava em sua casa a Amanda foi lá sozinha. Agora me diga... Para quê? Já que vocês nunca tiveram essa amizade toda.- Falou Rachel, logo depois da Amanda chegar no quarto.
- Me dê uma boa razão para não quebrar a sua cara...- Arthur cerra os punhos.
- Chega!-Gritou Amanda, se colocando entre os dois.- Eu fui até a casa do Nicolas sem ele esperar, porque eu queria saber sobre o Fábio. Eu estou gostando do Fábio.-
Todos olharam na direção de Fábio, que parecia estarrecido ao se segurar no início do corrimão da escada.
- Mentirosa!- Gritou Rachel.
- Rachel, eu juro que se não calar a boca eu vou te fazer engolir a porcaria da língua.- Gritou Amanda, caminhando intimidadora na direção da outra.- Essa não é a primeira vez que eu fico com o Fábio, e várias pessoas aqui presentes podem confirmar.- Amanda torna a olhar para o seu irmão mais velho.
- Mas e a foto de vocês dois no jardim?- Perguntou Arthur, secamente.
Amanda fuzilou Priscila, que estava covardemente escondida atrás de Rachel, com os olhos.
- Eu não estava com sono e desci para tomar um pouco de ar fresco...-
- Eu disse á Amanda que era perigoso ela ficar ali sozinha, e desci para buscá-la.- Explicou Nicolas.
- Perigoso por quê?- Perguntou Vanessa, ofendida.
Arthur olhou de um para o outro.
- Porque o muro da casa é baixo.- Disse Nicolas.
- E coincidentemente os dois acordaram na mesma hora?- Perguntou Hugo, outro irmão de Amanda, com um sorriso malicioso nos lábios.
- Não, Hugo, não foi coincidência. Eu acordei porque você NÃO parava de roncar.- Nicolas trincou os dentes.
- No lugar de ficar acusando o seu amigo, deveria agradecê-lo por se preocupar comigo, seu inútil.- Amanda enfiou o indicador no ombro de Arthur, olhando na direção de Priscila.- E quanto a você, conversaremos mais tarde, ao chegarmos em casa.-
- O espetáculo acabou, vamos aproveitar a piscina.- Disse á anfitriã da festa, recrutando os demais para a área externa da casa.
Arthur e Nicolas permaneceram no quarto, em um silêncio constrangedor.
- Foi mal, cara... É que... Você sabe que eu me preocupo muito com a minha irmã.-
- Esquece isso.- Nicolas coçou as têmporas, sua cabeça latejava.
Ele precisava ficar sozinho. Precisava pensar.
Não era justo enganar Arthur daquela forma, e não dava mais para sustentar aquela mentira por muito tempo.
- Vamos descer?- Perguntou Arthur.
- Eu vou precisar voltar para casa.-
- Por quê?-
- Preciso resolver umas coisas.-
- Nic, se foi pelo que aconteceu...-
- Não foi. Olha, eu realmente tenho que voltar, se despede de todos por mim e diz a Van que depois eu ligo para explicar á ela.-
- Tá bom, cara...- Arthur deu um tapinha no braço de Nicolas, que retribuiu o gesto com um meio sorriso.
...
Enquanto dirigia de volta para casa, Nicolas repetiu para si mesmo quando foi que toda aquela confusão começou. Ele nunca tinha visto Amanda como mulher, nunca tinha nem sequer cogitado pensar nela de outra forma que não fosse como a irmãzinha do seu melhor amigo, e de repente, ele se flagra pensando nela na maior parte do tempo. O que ele sentiu ao tocar o corpo de Amanda e senti-lo debaixo do seu foi de outro mundo. Ela tinha o gosto doce, e com ela as horas se passavam tão rápido que ele mal percebia o fluxo do tempo.
Cada dia que estava com Amanda parecia o último.
E agora, ele realmente sentia que aquele dia foi o último ao lado dela. Pela primeira vez na vida, ele precisava tomar uma decisão absurdamente difícil.
Teria que escolher entre preservar a sua amizade de anos com Arthur, ou manter um envolvimento amoroso com a irmã dele.
Várias ligações de Amanda disparavam em seu celular e ele apenas olhava para a tela, até que chegou o momento de ser necessário virar a tela para baixo. Nicolas não se sentia capaz de raciocinar sob a influência da presença daquela garota.
Ele nem sequer sabia como se manteria longe dela.
...
- Eu estou falando a verdade, Amanda, não aconteceu nada depois da confusão.- Falou Arthur.
A garota estreitou os olhos com desconfiança.
- Por que você está se importando tanto com isso?-
- Porque eu odeio injustiça!-
- Eu já me resolvi com o Nic! Ele precisou voltar para resolver coisas do trabalho.-
- Mas ele está de férias.-
- Deve ter sido algo de emergência.- Arthur respirou fundo.- Olha, depois do almoço estamos indo embora, e assim que eu chegar prometo que vou até a casa do Nic conferir se está tudo bem.-
- Assim que chegarmos...Eu tenho coisas para resolver.- Falou Amanda.
E tinha.
Ela precisava se acertar com a sua prima e não deixaria aquilo passar em branco.
Depois do almoço, como havia prometido, Arthur levou Amanda e suas amigas de volta para casa. Para o bem da saúde mental de todos, foi preferível que Priscila voltasse de carona com Rachel, já que Amanda parecia prestes a esganá-la e Hugo não se importou de dividir o carro com alguns dos outros convidados do aniversário da Vanessa.
Enquanto voltava para casa, Amanda não deixava de pensar em Nicolas e no que poderia ter acontecido para ele ter voltado ás pressas para casa. Também pensava em Fábio, e no que diria a ele para explicar toda aquela situação angustiante do café da manhã. Arthur deixou cada uma das amigas de Amanda em casa, e os dois praticamente voaram até o prédio do Nicolas. Como de costume, o porteiro não estava em seu posto, então Amanda e Arthur foram direto para o elevador.
- Será que ele não saiu?- Perguntou Amanda, ao ver seu irmão apertar a campainha pela terceira vez sem nenhum sucesso.
- As mensagens também não chegam no celular dele.- Arthur bufou, coçando a cabeça.
- Será que aconteceu alguma coisa?-
- E esse maldito porteiro que não serve para nada.-
-Arthur... Não desconta no senhor Diógenes.-
- Vem, vamos embora.- Arthur tomou a iniciativa de caminhar até o elevador para chamá-lo.
...
Amanda chegou em casa como um vulcão em erupção. Por sorte, sua mãe e sua avó tinham saído, Arthur foi procurar por Nicolas na praia, e Hugo não havia chegado da chácara ainda.
Mas, ainda existia uma pessoa em sua casa, cuja presença Amanda havia esquecido completamente.
- Fez uma boa viagem, prima?- Perguntou Priscila, ao vê-la de costas e apoiada sobre o parapeito da janela.
Amanda respirou fundo para reunir toda a calma e tranquilidade que precisava para lidar com Priscila. Depois da briga de mais cedo, as meninas explicaram exatamente o desenrolar da história, e tudo começou por uma foto tirada por Priscila, supostamente com o intuito de mostrar o céu alaranjado do amanhecer. Se Amanda não conhecesse a prima, provavelmente acreditaria na inocência dela, mas sabendo a cobra peçonhenta que era, ela sabia que a belíssima paisagem era só um detalhe para a tragédia que uma foto como aquela seria capaz de causar.
E quase casou.
- O que você pretende? Transformar a minha vida em um inferno?- Amanda caminhou de forma intimidadora até a outra.
- Por que toda essa revolta comigo? O que eu te fiz?- Priscila recuou para trás.
- Eu que te pergunto, Priscila. O que eu te fiz? Desde que me entendo por gente você é uma pedra no meu sapato. Desde que me entendo por gente você faz de tudo para me sabotar.-
- Éramos crianças, eu não tinha consciência...-
- Cala a boca, Priscila!- Amanda ergueu o dedo na direção dela.- Não venha me dizer que não tinha consciência do que fazia, porque você tinha! Lembra do natal do ano passado, Priscila? Você ouviu uma conversa minha com a Malu, nossa prima, e descobriu que estávamos com um teste de gravidez. Se eu não te desse o vestido de seda rosa que ganhei de natal da titia, você contaria para a família que eu estava grávida.-
Priscila engoliu em seco.
As duas lembravam bem daquele fatídico dia. O teste era para Malu, mas independente de quem Priscila acusasse, acabaria criando um caos e arruinando a festa de natal.
- Olha, eu sei que não tenho sido muito legal com você, mas sobre isso da foto eu realmente não tinha a intenção de criar um tumulto na sua vida.-
- Para de mentir! Pelo menos uma vez na sua vida tenha um pouco de caráter e assuma as coisas que faz. Você é invejosa, baixa e medíocre... Você só quer o que é dos outros, e não porque vai te fazer feliz de verdade, mas porque te dar prazer ver a desgraça dos outros.-
- Eu nunca gostei de você mesmo!- Gritou Priscila, se rebelando.- Fiz isso para que o seu irmão visse a sonsa que você é!-
Amanda, pela primeira vez em muito tempo se descontrolou. Ela já estava saturada de todas as arapucas que sua prima a envolveu ao longo dos anos, e o fato de Priscila se intrometer no seu caso amoroso com Nicolas só fez tudo ficar pior.
Ela disferiu uma forte bofetada no rosto de Priscila, que tentou retrucar, mas teve sua mão imobilizada ainda no ar. Amanda a segurou pela nuca, acertando mais três golpes certeiros contra o rosto de sua prima, antes de atirá-la sobre a mesa de vidro do segundo ambiente da sala. Priscila reagiu rápido ao agarrar um vaso de cristal e jogá-lo na direção de Amanda. O vaso quebrou no braço da garota, mas causou apenas um corte superficial. Amanda correu com sangue nos olhos para devolver a pancada, e Priscila tentou segurar uma barra de ferro para se defender, mas a outra foi mais rápida. Amanda conseguiu segurar o objeto, e na disputa de forças, Amanda levou a melhor, derrubando Priscila novamente sobre a mesa. Amanda montou no corpo de sua prima, disferindo-lhe mais tapas no rosto. Ela não pretendia cronometrar o tempo, ou contar a quantidade de vezes que a sua mão subia e descia, então ela bateu em Priscila até que a sua mão ficasse tão inchada quanto o rosto dela.
Para a sorte da moça que estava apanhando, Hugo chegou em casa antes de que ela tivesse o rosto desfigurado. Ele agarrou Amanda pelos braços e a puxou para longe de Priscila. Amanda se debatia com fúria, e Priscila continuou deitada e imóvel.
- Chega!- Gritou Hugo, sacolejando a irmã.- Quer matar a menina? Ficou louca?
- Você não sabe o que ela fez...-
- Não interessa o que ela fez. Vou mandar a empregada fazer uns curativos nela. Espero que não seja o caso de hospital.-
- Que se dane! Eu não me importo!- Gritou Amanda, caminhando para fora do cômodo.
...
Assim que chegou em casa várias horas antes, Nicolas sabia que não era exatamente para lá que ele queria ir. Precisava fugir da companhia de Amanda para ponderar com clareza e tomar uma decisão importante. Ele estava decidido a não mais enganar Arthur mantendo um relacionamento escondido com a irmã dele, e para isso, precisaria escolher dois caminhos: contar toda a verdade e tentar um relacionamento com Amanda, ou terminar qualquer coisa que eles possam ter começado, fingindo que nada nunca aconteceu.
Ambas as decisões soavam como mártires para Nicolas. Ele achou que caminhar pela praia por algumas horas seria de grande ajuda, já que sentir os grãos finos da areia branca entre os seus dedos dos pés em conjunto com o barulho do mar sempre foram um gatilho para ajudá-lo a refletir. E ele precisava refletir.
Quando Arthur o encontrou, ele estava sentado na areia, esfregando o solado de um dos pés nela, como se assim pudesse fazer um desenho que se assemelhasse a uma obra-prima. Silenciosamente, o outro rapaz se sentou ao lado de seu amigo, olhando para o mesmo ponto que lhe parecia tão interessante.
- Lembro quando fugíamos para cá depois das aulas da faculdade... Você dizia que só a praia era capaz de nos colocar uma bateria nova.-
- Uma carga nova.- Corrigiu Nicolas, com um meio sorriso.
- Depois do que aconteceu de manhã eu imaginei que você precisasse de uma carga nova.-
Ele precisava de muita energia para pensar. Se Arthur tivesse uma mínima ideia de tudo o que estava acontecendo...
Para começar, se Arthur tivesse uma mínima ideia de tudo o que estava acontecendo, ele nem estaria sentado ao seu lado naquele exato momento.
- É... Precisava.-
- Nic, você sempre vai ser o meu irmão. E eu confio em você.-
- Você sempre vai ser o meu irmão também, Art...-
Nicolas não podia abrir mão daquela amizade. Nicolas não podia perder a única pessoa, fora a sua mãe, que o conhecia tão bem quanto a si próprio.
Ele teria que falar com a Amanda. Por mais que a situação machucasse aos dois, Nicolas jamais voltaria a encostar um dedo nela.
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O melhor amigo do meu irmão
RomanceO que você faria se, de repente, um amor platônico pelo melhor amigo de seu irmão mais velho, virasse realidade? Desde pequena, Amanda suspirava por Nicolas, mas devido a diferença de idade, além do fato de Arthur, irmão de Amanda, ser extremamente...