Capítulo 37

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  Já anoitecia quando Priscila decidiu fazer sua visita noturna ao cubículo no qual confinou Amanda. A refém tinha os pés e as mãos acorrentadas, e devido ao longo tempo que passou em jejum estava prostrada no colchão, sem forças para erguer sequer um dos dedos das mãos. A garota trouxe um copo de água, se divertindo ao ver que Amanda parecia um bicho sedento quando se sentou no colchão com a esperança de beber o líquido incolor.
  - Ah, vejo que está muito necessitada disso.- Priscila entornou o copo para frente, derramando toda água no piso de madeira.- Terá que lamber o chão para matar a sede.-
  - O que pretende com tudo isso, Priscila?- Perguntou com a voz fraca.- Chamar atenção, claro. É o seu objetivo de vida.-
  - O meu objetivo de vida é fazer da sua vida um inferno devido a tudo que me tirou.- Priscila jogou o copo contra a parede, olhando com desdém os cacos de vidro espalhados.- Pensei que aquelas incompetentes conseguiriam te minar, mas nem para isso servem. Rachel não passa de uma c.a.d.e.l.a psicodélica desprovida de inteligência, e as suas seguidoras são ainda pior. O melhor trabalho é aquele que executamos com as próprias mãos ao invés de mandarmos fazê-lo.-
  - Sua frase é pronta e típica de um filme tedioso que ninguém assiste por mais de uma vez.-
  - Para quem está com fome e sede, você fala demais. Bom, se continuar assim o seu namorado não te encontrará com vida. Embora que, de qualquer maneira, eu duvido que encontre. Ninguém faz ideia de onde é esse lugar.-
  - Subestima demais os outros, Priscila. Deveria ter mais cuidado com a sua arrogância.-
  - É você quem deveria ter cuidado, Amanda. Sua vida está nas minhas mãos. Talvez você tenha até uma força física maior do que a minha, mas não há nada que uma mulher acorrentada possa fazer.- De forma arrogante, Priscila deu de ombros para caminhar novamente até a porta.
  Não sabendo de onde tirou forças para ficar de pé, Amanda decidiu que não passaria muito tempo encontrando respostas para aquilo. Suas pernas estavam fracas e trêmulas, mas a raiva era o seu suporte e sua âncora. Priscila a atacou na covardia, pelas costas, contando com o auxílio de dois malfeitores para levá-la até ali, e Amanda devolveria o truque. Usou as correntes que tinha em cada uma de suas mãos para envolver o pescoço de Priscila, e as apertou como se enlaçasse os cadarços de um sapato. A mulher fez um barulho esganiçado, como se fosse um porco estrebuchando. Amanda continuou apertando as correntes, descontando todo o ódio naquele ato de estrangulamento. Soltou sua prima quando a mesma já estava arroxeada, e caiu no chão próxima o suficiente para que Amanda batesse com o ferro protuberante das amarras, fazendo-a cair inconsciente no chão.
  - Parece que uma mulher acorrentada pode, sim, fazer alguma coisa.- Amanda, com as mãos amarradas, conseguiu vasculhar os bolsos de Priscila e tomar posses da chave que estava em seu bolso. Com dificuldade, destrancou a trava dos pés e depois das mãos, precisando contar com o auxílio da boca. Conseguiu se livrar cerca de dez minutos depois, e por sorte, sua algoz continuava desacordada.
  - Essa d.e.s.g.r.a.ç.a.d.a ao menos poderia trazer um lanche. Do jeito que é glutona deve ter comido tudo.- Resmungou Amanda enquanto tateava o corpo de sua prima em busca do celular dela. Encontrou o aparelho na cintura da garota, e prontamente discou o número de Nicolas, na esperança que ele atendesse antes dos capangas de Priscila aparecerem.
  ...
  - Só pode ter sido a Rachel. Ela é a única capaz de fazer essas atrocidades. Depois que descobrimos a sua gravidez falsa, deve estar desesperada.- Falou Nicolas, ainda na sala das câmeras com Arthur e o responsável pela segurança.
  - Então é preocupante. Essa mulher é uma insana e a vida da minha irmã deve estar em risco. Devemos acionar a polícia nesse momento, cada minuto que passa é um tempo perdido.- Arthur desviou os olhos das imagens do sequestro de Amanda e caminhou até a porta.
  - Espere. Eu acho que temos uma pista do paradeiro de sua irmã.- Nicolas olhava as imagens atento, repetindo por mais uma vez o momento em que um dos criminosos descia da moto e acertava a coronhada na cabeça de Amanda. Em uma de suas mãos tinha uma tatuagem, na qual o homem não foi cuidadoso o suficiente para escondê-la. O bandido número um tinha uma fênix desenhada na mão, e ao pausar a imagem e dar um zoom no desenho, Nicolas confirmou qualquer dúvida que pudesse ter. - Só há uma pessoa que conhecemos que tem uma tatuagem como essas.-
  Arthur deu meia volta, chegando mais perto das câmeras para também conseguir visualizar.
  - Fred. O ex namorado da minha prima Priscila.- Disse Arthur com segurança.
  - Acho que já descobrimos a cúmplice de Rachel. Agora ficará mais fácil de chegarmos até a Amanda. Vamos seguir o Fred, ele não estará contando com a nossa descoberta e com certeza em algum momento irá atrás das garotas.- Disse Nicolas
  - Tem razão. A Rachel nunca foi de executar os próprios crimes, na grande maioria das vezes ela manda que alguém o execute por ela. Bom, também acho difícil que saia do apartamento dela para ir até Amanda, pelo menos não agora, deve imaginar que estaremos de olho nela.- Concordou Arthur.
  - Mas e quanto a sua prima?-
  - Essa daí também dará os seus descuidos, embora esteja há algum tempo sumida. No momento, tudo o que temos é o Fred, e eu sei que a essa hora ele já está em casa, portanto vamos até lá. Ficaremos de olho nele por toda a noite, uma hora ele vai sair.- Respondeu Arthur.
  - Então recomendo que usemos um outro transporte, já que ele conhece tanto o seu carro quanto o meu.- Sugeriu Nicolas.
  - E posso saber o que tem em mente?- Arthur mal perguntou e o seu celular tocou. Ao olhar para a tela, viu que se tratava do número de Priscila. Atendeu de imediato, não tendo nem a chance de expelir suas ameaças.-
  - Arthur, sou eu. Acho que o Nic está sem o celular, então precisei te ligar. A Priscila mandou me sequestrar.- Disse Amanda do outro lado da linha, tentando adivinhar a sua localização através do vidro um pouco embaçado da janela.
  - O Nicolas esqueceu o celular na nossa casa, estamos na sala de segurança do prédio. Escute bem, Fred, o ex namorado da nossa prima foi um dos seus seqüestradores e estávamos indo agora na casa dele para segui-lo, mas já que ligou, vai facilitar muito o nosso trabalho. Pode me mandar a sua localização?-
  - Eu já sei onde estou. Lembra da casa da árvore que eu costumava brincar com a Priscila no terreno abandonado ao lado do sítio da vovó?-
  - Não me diga que estão aí.- Disse Arthur incrédulo.
  - Eu tenho certeza.- Respondeu Amanda.
  - Tente nos esperar em um local seguro, estamos indo aí.- Disse Arthur, por fim, desligando a ligação.- Diga de uma vez por todas o transporte que irá nos levar, meu amigo. Temos um resgate para fazer.- Disse Arthur, dando um tapinha amigável no braço de Nicolas.
 

O melhor amigo do meu irmão Onde histórias criam vida. Descubra agora