Amanda estava completamente desestabilizada.
Flagrar o seu namorado em um encontro amoroso com outra mulher era no mínimo terrível. A garota passou a tarde inteira jogada na cama, chorando, e se recusou sair do quarto até para comer. Suas amigas insistiam com mensagens perguntando aonde diabos ela se enfiou, e por mais que soubesse que estava sendo injusta, Amanda não estava disposta a falar com ninguém.
Ela só queria desaparecer.
A única capaz de entrar em seu quarto foi Samanta, encontrando-a em uma situação deplorável. Amanda estava enfiada por entre as cobertas, e o seu nariz estava tão vermelho quanto os seus olhos, deixando-a com ares de doente. A outra envolveu a amiga em um abraço apertado, deixando-a chorar ainda mais, e não fez nenhuma pergunta que a obrigasse relembrar tudo aquilo que a fazia sofrer.
- Pode chorar.- Murmurou Samanta, afundando os dedos nas mechas castanhas dos cabelos de Amanda.- Pode chorar, porque uma hora tudo isso vai passar, sempre passa.-
- Foi o Nic, Samanta. O Nic fez uma coisa horrível.-
- Não precisa me contar nada agora. Vamos nos distrair juntas, como sempre fazemos. O que acha de tomarmos o sorvete que ficou pendente nesta tarde?-
- Eu preciso contar.- Insistiu Amanda.- Eu preciso colocar tudo isso para fora, e ainda não tive a coragem necessária para expressar em voz alta.-
- Expressar o que exatamente?- Perguntou Samanta confusa.
- O meu ódio, a minha indignação, repugnância... Seja lá como quiser chamar.- Os olhos tristes de Amanda ganharam faíscas.
Samanta ficou em silêncio, apenas absorvendo as palavras ditas por sua amiga. Não queria perguntar nada, ou interromper o desabafo de Amanda, então apenas a ouviu.
- Um funcionário daqui do prédio me disse que o Nicolas estava me esperando no restaurante aqui próximo, e eu fui. Você não pode imaginar o que eu senti quando estava atravessando a rua e o vi com a Camila... Eles iam...- Amanda engoliu em seco, sentindo os olhos arderem novamente, ameaçando lacrimejar por mais uma vez.
- Não precisa falar nada que vá te fazer mal.- Samanta acariciou os cabelos da amiga ao falar.
- Eles iam se beijar.- Amanda, por fim, concluiu suas palavras.- Não entendeu a gravidade da situação? O Nicolas armou tudo isso para que eu o flagrasse com a Camila e terminasse tudo, porque ele não tem coragem de terminar.-
Samanta ponderou todos os pormenores daquela confissão, e tamborilou os dedos no queixo ao perceber que algo não parecia certo.
- Você conhece o Nicolas melhor do que eu, Amanda. Sabe muito bem que isso não é uma atitude típica dele. Tem certeza que não tem um dedo da Rachel nessa história?-
- E o que importa se tiver ou não, Samanta? Ele caiu na armadilha fácil demais, e não era nada muito engenhoso.-
- Como que não era nada muito engenhoso? Minha amiga, acorde. O Nicolas acredita que a Camila é amiga dele, e se quer saber, não engoli a história de que ela aceitou o namoro de vocês de bom grado.-
- E o que importa? A Rachel junto com a Camila, ou seja lá com mais quem, manipulou a situação, mas o Nicolas se permitiu manipular.-
- Tem certeza que permitiu? Você por um acaso ficou até o final para vê-los se beijando?- Samanta fez uma série de perguntas sem dar tempo para a outra responder com calma.
- Não, eu não fiquei até o final, portanto eu não vi eles se beijando. Mas tenho certeza que iam. A forma que a Camila tocava a mão do Nicolas e se aproximava...- Amanda sentiu uma espécie de calafrio percorrer sua espinha ao descrever a cena grotesca para Samanta.
- Exatamente, a Camila. Você não viu nenhuma atitude partindo do Nicolas, mas sim da Camila. Não deveria tirar conclusões antes de conversar com o seu namorado.-
A garota ficou em silêncio, sendo obrigada a dar razão a Samanta.
Não estava sendo justa por atacar o Nicolas sem provas, ainda mais quando foi ela própria que decidiu se retirar antes do tempo.
- Pois muito bem.- Disse Amanda, ficando de pé. Já não parecia a tola chorona de quando Samanta invadiu seu quarto. Estava decidida, e com fibra, iria resolver aquela situação de qualquer maneira.- Conversarei com o Nic, e então, só depois, tomarei uma decisão.-
- Tente escutá-lo antes de fazer acusações.-
- Vou tentar.- Amanda revirou os olhos.
- Será que agora podemos tomar o nosso sorvete?-
Amanda aquiesceu, segurando a mão de sua amiga que estava estendida para ela.
...
Depois do tão esperado sorvete - exceto para Ingrid e Letícia que acabaram desistindo e tomando antes- Amanda se sentia pronta para enfrentar aquele que não sabia se ainda era seu namorado. Ela visualizou a mensagem de Nicolas mais ou menos uma hora depois, e o respondeu com uma afirmativa, já que ele perguntou se poderiam conversar no início da noite. O encontro dos dois foi no apartamento de Nicolas, que era reservado o suficiente para uma conversa tão delicada quanto aquela.
- Já estou aqui, como o combinado.- Disse Amanda friamente, ainda parada na soleira da porta.
- Entre, por favor.- Nicolas deu abertura com o corpo, permitindo que ela passasse.
Amanda caminhou para o centro da sala de estar, e permaneceu de costas por meio minuto antes de se virar para frente e encarar o homem nos olhos.
- Estou escutando. Pode ir direto ao ponto.- Amanda cruzou os braços, analisando friamente as expressões do rosto de Nicolas.
- Fiquei muito incomodado por você não ter sido honesta comigo escondendo que o Fábio vinha te importunando, mas agora, que estou mais calmo, percebi que fez isso para evitar um grande conflito familiar.-
- Que bom que tenha percebido isso.- O tom de voz de Amanda carregava sarcasmo.
- Por que está sendo irônica?- Perguntou Nicolas, confuso. Ele estava crente de que os dois fariam as pazes, mas Amanda não estava muito inclinada a uma reconciliação.
- Você percebeu a minha atitude para evitar um grande conflito familiar...- Amanda repetiu as palavras ditas por Nicolas.- Mas percebeu a atitude da Camila com você no restaurante?-
Nicolas tentou abrir a boca para dizer algo - embora nem ele mesmo soubesse o que, já que não tinha palavras para expressar aquilo, porque não fazia ideia de como Amanda tomou conhecimento do assunto. Não que fosse algum segredo, mas ainda assim o surpreendeu-. A garota cortou as palavras do mesmo antes até de serem ditas.
- Ou será que o seu intuito foi que eu visse vocês dois se beijando para que, finalmente, pudesse acabar com esse relacionamento do qual você já se cansou?- Amanda tamborilou os dedos no queixo, fingindo pensar.- É, acho que isso faz todo sentido.-
- Que absurdo é esse? Desde que começamos a namorar eu nunca encostei em mulher alguma, e menos ainda na Camila.-
- E qual o sentido de mandar um recado pelo funcionário do meu prédio para que nos encontrássemos no restaurante da rua debaixo, sendo que você já estaria lá com a Camila?-
- Eu não mandei recado nenhum para o seu funcionário. Do que está me falando? Alguém mandou que você fosse se encontrar comigo?-
- Como eu disse, um funcionário lá do prédio falou que você mandou um recado por ele, e esse recado era que deveríamos nos encontrar no restaurante debaixo.-
- O funcionário do seu prédio disse que eu mandei um recado...- Nicolas repetiu essas exatas palavras, tentando assimila-las.
- Não vou repetir de novo.- Amanda cruzou os braços.
- Amanda, eu não mandei recado por ninguém. Você me conhece tempo o suficiente para saber que eu não resolvo as coisas dessa forma.- Nicolas fez questão em olhar diretamente nos olhos dela ao falar.
A garota engoliu em seco, sentindo verdade na fala de Nicolas. Ela o conhecia, de fato, tempo o suficiente, e não deveria ter aquele tipo de suspeita. Mas algo estava errado.
- E como o homem sabia do local exato que você foi almoçar?-
- Isso eu não tenho como saber ainda, mas vamos descobrir.-
- Como assim?- Amanda recuou um passo para trás, temerosa da reação de Nicolas.
- Vamos os dois juntos falar com esse funcionário do seu prédio. Acho que só assim para tirarmos essa história a limpo.-
...
- Foi um golpe de mestre!- Disse Camila, sentada na cama do quarto de Rachel, se vangloriando de sua performance no restaurante, quando tratou de afastar Amanda.
Rachel apenas escutava o desenrolar da história, se divertindo com a ilusão de Camila em achar que conseguiria conquistar o Nicolas. A garota esdrúxula era uma importante peça do jogo, e não passava disso. Era manipulada a vontade de Rachel, e o mais cômico é que não percebia.
- Vejo que merece ter sua audácia superestimada, você me surpreendeu, Camila. A Amanda caiu direitinho no nosso plano, e a essa altura, ela e o Nicolas devem odiar um ao outro.-
- E qual a próxima etapa?- Perguntou Camila.
- Vamos esperar mais um pouco. Uma hora os dois terão que conversar, e a partir dessa conversa virá a segunda parte.-
- Hum...- Camila aquiesceu, concordando com a outra.- Então é recomendável que descanse, você anda se esforçando demais ao brincar de detetive.- A garota levou a mão á barriga de Rachel, acariciando-a.
A mulher engoliu em seco ao ver que a outra tocava a sua barriga vazia.
- O meu filho é forte, igual ao pai.- Ela segurou a mão de Camila, afastando-a para longe.
- Engraçado é que a sua barriga anda muito sequinha, nem parece que está grávida.-
- Cada corpo é um corpo. O meu tem reagido mais lentamente a essa nova realidade.-
- A qual realidade se refere, querida?- Perguntou Camila, com um sorriso malicioso.
- O que quer dizer?- Rachel dissimulou bem, disfarçando o nervosismo.
- Quando pretendia me contar que perdeu o bebê? Achei que falássemos tudo uma a outra.-
Rachel abriu a boca para tentar responder, mas a outra a cortou.
- O Nicolas vai ficar muito decepcionado quando descobrir.-
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O melhor amigo do meu irmão
RomansaO que você faria se, de repente, um amor platônico pelo melhor amigo de seu irmão mais velho, virasse realidade? Desde pequena, Amanda suspirava por Nicolas, mas devido a diferença de idade, além do fato de Arthur, irmão de Amanda, ser extremamente...