Capítulo 32

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  Amanda estava completamente desestabilizada.
  Flagrar o seu namorado em um encontro amoroso com outra mulher era no mínimo terrível. A garota passou a tarde inteira jogada na cama, chorando, e se recusou sair do quarto até para comer. Suas amigas insistiam com mensagens perguntando aonde diabos ela se enfiou, e por mais que soubesse que estava sendo injusta, Amanda não estava disposta a falar com ninguém.
  Ela só queria desaparecer.
  A única capaz de entrar em seu quarto foi Samanta, encontrando-a em uma situação deplorável. Amanda estava enfiada por entre as cobertas, e o seu nariz estava tão vermelho quanto os seus olhos, deixando-a com ares de doente. A outra envolveu a amiga em um abraço apertado, deixando-a chorar ainda mais, e não fez nenhuma pergunta que a obrigasse relembrar tudo aquilo que a fazia sofrer.
  - Pode chorar.- Murmurou Samanta, afundando os dedos nas mechas castanhas dos cabelos de Amanda.- Pode chorar, porque uma hora tudo isso vai passar, sempre passa.-
  - Foi o Nic, Samanta. O Nic fez uma coisa horrível.-
  - Não precisa me contar nada agora. Vamos nos distrair juntas, como sempre fazemos. O que acha de tomarmos o sorvete que ficou pendente nesta tarde?-
  - Eu preciso contar.- Insistiu Amanda.- Eu preciso colocar tudo isso para fora, e ainda não tive a coragem necessária para expressar em voz alta.-
  - Expressar o que exatamente?- Perguntou Samanta confusa.
  - O meu ódio, a minha indignação, repugnância... Seja lá como quiser chamar.- Os olhos tristes de Amanda ganharam faíscas.
  Samanta ficou em silêncio, apenas absorvendo as palavras ditas por sua amiga. Não queria perguntar nada, ou interromper o desabafo de Amanda, então apenas a ouviu.
  - Um funcionário daqui do prédio me disse que o Nicolas estava me esperando no restaurante aqui próximo, e eu fui. Você não pode imaginar o que eu senti quando estava atravessando a rua e o vi com a Camila... Eles iam...- Amanda engoliu em seco, sentindo os olhos arderem novamente, ameaçando lacrimejar por mais uma vez.
  - Não precisa falar nada que vá te fazer mal.- Samanta acariciou os cabelos da amiga ao falar.
  - Eles iam se beijar.- Amanda, por fim, concluiu suas palavras.- Não entendeu a gravidade da situação? O Nicolas armou tudo isso para que eu o flagrasse com a Camila e terminasse tudo, porque ele não tem coragem de terminar.-
  Samanta ponderou todos os pormenores daquela confissão, e tamborilou os dedos no queixo ao perceber que algo não parecia certo.
  - Você conhece o Nicolas melhor do que eu, Amanda. Sabe muito bem que isso não é uma atitude típica dele. Tem certeza que não tem um dedo da Rachel nessa história?-
  - E o que importa se tiver ou não, Samanta? Ele caiu na armadilha fácil demais, e não era nada muito engenhoso.-
  - Como que não era nada muito engenhoso? Minha amiga, acorde. O Nicolas acredita que a Camila é amiga dele, e se quer saber, não engoli a história de que ela aceitou o namoro de vocês de bom grado.-
  - E o que importa? A Rachel junto com a Camila, ou seja lá com mais quem, manipulou a situação, mas o Nicolas se permitiu manipular.-
  - Tem certeza que permitiu? Você por um acaso ficou até o final para vê-los se beijando?- Samanta fez uma série de perguntas sem dar tempo para a outra responder com calma.
  - Não, eu não fiquei até o final, portanto eu não vi eles se beijando. Mas tenho certeza que iam. A forma que a Camila tocava a mão do Nicolas e se aproximava...- Amanda sentiu uma espécie de calafrio percorrer sua espinha ao descrever a cena grotesca para Samanta.
  - Exatamente, a Camila. Você não viu nenhuma atitude partindo do Nicolas, mas sim da Camila. Não deveria tirar conclusões antes de conversar com o seu namorado.-
  A garota ficou em silêncio, sendo obrigada a dar razão a Samanta.
  Não estava sendo justa por atacar o Nicolas sem provas, ainda mais quando foi ela própria que decidiu se retirar antes do tempo.
  - Pois muito bem.- Disse Amanda, ficando de pé. Já não parecia a tola chorona de quando Samanta invadiu seu quarto. Estava decidida, e com fibra, iria resolver aquela situação de qualquer maneira.- Conversarei com o Nic, e então, só depois, tomarei uma decisão.-
  - Tente escutá-lo antes de fazer acusações.-
  - Vou tentar.- Amanda revirou os olhos.
  - Será que agora podemos tomar o nosso sorvete?-
  Amanda aquiesceu, segurando a mão de sua amiga que estava estendida para ela.
  ...
  Depois do tão esperado sorvete - exceto para Ingrid e Letícia que acabaram desistindo e tomando antes- Amanda se sentia pronta para enfrentar aquele que não sabia se ainda era seu namorado. Ela visualizou a mensagem de Nicolas mais ou menos uma hora depois, e o respondeu com uma afirmativa, já que ele perguntou se poderiam conversar no início da noite. O encontro dos dois foi no apartamento de Nicolas, que era reservado o suficiente para uma conversa tão delicada quanto aquela.
  - Já estou aqui, como o combinado.- Disse Amanda friamente, ainda parada na soleira da porta.
  - Entre, por favor.- Nicolas deu abertura com o corpo, permitindo que ela passasse.
  Amanda caminhou para o centro da sala de estar, e permaneceu de costas por meio minuto antes de se virar para frente e encarar o homem nos olhos.
  - Estou escutando. Pode ir direto ao ponto.- Amanda cruzou os braços, analisando friamente as expressões do rosto de Nicolas.
  - Fiquei muito incomodado por você não ter sido honesta comigo escondendo que o Fábio vinha te importunando, mas agora, que estou mais calmo, percebi que fez isso para evitar um grande conflito familiar.-
  - Que bom que tenha percebido isso.- O tom de voz de Amanda carregava sarcasmo.
  - Por que está sendo irônica?- Perguntou Nicolas, confuso. Ele estava crente de que os dois fariam as pazes, mas Amanda não estava muito inclinada a uma reconciliação.
  - Você percebeu a minha atitude para evitar um grande conflito familiar...- Amanda repetiu as palavras ditas por Nicolas.- Mas percebeu a atitude da Camila com você no restaurante?-
  Nicolas tentou abrir a boca para dizer algo - embora nem ele mesmo soubesse o que, já que não tinha palavras para expressar aquilo, porque não fazia ideia de como Amanda tomou conhecimento do assunto. Não que fosse algum segredo, mas ainda assim o surpreendeu-. A garota cortou as palavras do mesmo antes até de serem ditas.
  - Ou será que o seu intuito foi que eu visse vocês dois se beijando para que, finalmente, pudesse acabar com esse relacionamento do qual você já se cansou?- Amanda tamborilou os dedos no queixo, fingindo pensar.- É, acho que isso faz todo sentido.-
  - Que absurdo é esse? Desde que começamos a namorar eu nunca encostei em mulher alguma, e menos ainda na Camila.-
  - E qual o sentido de mandar um recado pelo funcionário do meu prédio para que nos encontrássemos no restaurante da rua debaixo, sendo que você já estaria lá com a Camila?-
  - Eu não mandei recado nenhum para o seu funcionário. Do que está me falando? Alguém mandou que você fosse se encontrar comigo?-
  - Como eu disse, um funcionário lá do prédio falou que você mandou um recado por ele, e esse recado era que deveríamos nos encontrar no restaurante debaixo.-
  - O funcionário do seu prédio disse que eu mandei um recado...- Nicolas repetiu essas exatas palavras, tentando assimila-las.
  - Não vou repetir de novo.- Amanda cruzou os braços.
  - Amanda, eu não mandei recado por ninguém. Você me conhece tempo o suficiente para saber que eu não resolvo as coisas dessa forma.- Nicolas fez questão em olhar diretamente nos olhos dela ao falar.
  A garota engoliu em seco, sentindo verdade na fala de Nicolas. Ela o conhecia, de fato, tempo o suficiente, e não deveria ter aquele tipo de suspeita. Mas algo estava errado.
  - E como o homem sabia do local exato que você foi almoçar?-
  - Isso eu não tenho como saber ainda, mas vamos descobrir.-
  - Como assim?- Amanda recuou um passo para trás, temerosa da reação de Nicolas.
  - Vamos os dois juntos falar com esse funcionário do seu prédio. Acho que só assim para tirarmos essa história a limpo.-
  ...
  - Foi um golpe de mestre!- Disse Camila, sentada na cama do quarto de Rachel, se vangloriando de sua performance no restaurante, quando tratou de afastar Amanda.
  Rachel apenas escutava o desenrolar da história, se divertindo com a ilusão de Camila em achar que conseguiria conquistar o Nicolas. A garota esdrúxula era uma importante peça do jogo, e não passava disso. Era manipulada a vontade de Rachel, e o mais cômico é que não percebia.
  - Vejo que merece ter sua audácia superestimada, você me surpreendeu, Camila. A Amanda caiu direitinho no nosso plano, e a essa altura, ela e o Nicolas devem odiar um ao outro.-
  - E qual a próxima etapa?- Perguntou Camila.
  - Vamos esperar mais um pouco. Uma hora os dois terão que conversar, e a partir dessa conversa virá a segunda parte.-
  - Hum...- Camila aquiesceu, concordando com a outra.- Então é recomendável que descanse, você anda se esforçando demais ao brincar de detetive.- A garota levou a mão á barriga de Rachel, acariciando-a.
  A mulher engoliu em seco ao ver que a outra tocava a sua barriga vazia.
  - O meu filho é forte, igual ao pai.- Ela segurou a mão de Camila, afastando-a para longe.
  - Engraçado é que a sua barriga anda muito sequinha, nem parece que está grávida.-
  - Cada corpo é um corpo. O meu tem reagido mais lentamente a essa nova realidade.-
  - A qual realidade se refere, querida?- Perguntou Camila, com um sorriso malicioso.
  - O que quer dizer?- Rachel dissimulou bem, disfarçando o nervosismo.
  - Quando pretendia me contar que perdeu o bebê? Achei que falássemos tudo uma a outra.-
  Rachel abriu a boca para tentar responder, mas a outra a cortou.
  - O Nicolas vai ficar muito decepcionado quando descobrir.-

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