Capítulo 39 ( penúltimo)

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  Amanda fechou os olhos com muita força, e pediu ajuda divina. Não se considerava uma garota religiosa, mas sempre teve fé. Sua audição parecia está mais aguçada, pois ouviu o movimento suave do dedo de Rachel deslizando pelo gatilho. As portas do táxi também se abriram, e Arthur e Nicolas desceram do veículo, implorando pela sua vida. Rachel se divertia com toda aquela comoção, principalmente porque sempre gostou de grandes espetáculos.
  - Ah, veja só. Parece que fizeram as pazes. Agora poderão chorar um no ombro do outro quando a Amanda morrer.- Provocou Rachel.
  - Podemos fazer um acordo, o que acha? Eu acabo o meu namoro com a Amanda e nós dois ficamos juntos. Mas só preciso que poupe a vida dela.- Disse Nicolas.
  - Está mesmo me usando de sacrifício para poupar a vida dessa v.a.d.i.a? Desculpe, Nic, mas eu não senti sinceridade nas suas palavras.-
  - Por Deus, garota, você não está normal.- Disse Arthur.- Eu sei que é bem comum casos de ex noivas que não superam um término, mas você realmente ultrapassou todos os limites.-
  - Conselhos vindo de você, Arthur? Justo você, que ficou morrendo de ciúmes porque o seu melhor amigo t.r.a.n.s.a.v.a com a sua irmã, sendo que você também f.o.d.i.a com a melhor amiga dela. Acho que isso prova que a sua sanidade mental não é tão boa para quem você possa criticar a dos outros.- Disse Rachel para Arthur.
  - Por que não me enfrenta como uma mulher de verdade? Solte a arma, Rachel, lute justamente. Se ganhar de mim, eu continuo sendo sua refém, mas se perder... Você será a minha.- Argumentou Amanda.
  - Ficou louca? Não vamos permitir um negócio desses.- Nicolas não conseguiu disfarçar sua irritação, fechando bruscamente a porta do carro para descontar sua raiva.
  - Vá com calma, meu amigo, ou vamos acabar ficando sem veículo para voltar para casa.- Disse Arthur.
  - Como consegue fazer gracinhas em uma hora como essa?- Perguntou Nicolas.
  - Viu? Eu estava certa. Enquanto a Amanda estiver viva, você sempre vai tentar voltar para ela.- Rachel ergueu a arma mais um pouco, mirando a cabeça da garota.- Acho que não quero mais ouvir suas últimas palavras.
  E tudo o que Amanda ouviu após fechar os olhos foi um barulho de tiro. Abriu os olhos com surpresa ao constatar que não sentia nada, e apalpou o próprio corpo a procura de algum machucado. Quando olhou para frente, viu que Rachel estava ajoelhada no chão, embora ainda segurasse o revólver.
  - Prazer, elemento surpresa.- Disse Samanta, aproximando-se da mulher baleada com a arma ainda apontada para ela, após se erguer do chão. A garota foi para o porta-malas quando ainda estavam na metade do caminho, e com a ajuda das outras amigas, conseguiu descer sem fazer barulho. Se deitou no chão, mirando um dos pés de Rachel com revólver, e no momento que considerou certo, puxou o gatilho.
  - Aí está a resposta do porquê eu estava conseguindo fazer gracinhas.- Arthur respondeu a Nicolas.
  Amanda disferiu um chute certeiro contra a mão de Rachel, fazendo com que o revólver voasse para longe.
  - Sorte a sua que eu não chuto cachorro morto. Ou do contrário, não sabe o que te aguardaria.- Amanda trincou os dentes ao ameaçar.
  - Eu não me importaria de acertar uns chutes nessa c.a.d.e.l.a sarnenta, estando viva ou não.- Letícia, que apareceu na cena logo depois a Samanta, se pronunciou.
  - Ah, pelo amor de Deus, vamos pedir para os policiais trancarem essa garota e jogarem a chave fora.- Disse Ingrid, entrando em cena um pouco depois.- Acho que depois disso, vamos todos ganhar rugas antes dos quarenta.-
  - A Priscila está lá dentro e o Fred ainda desmaiado. Precisamos agir rápido, porque eu não tive tempo de amarrar o outro c.a.n.a.l.h.a.- Disse Amanda.
  - Você realmente é surpreendente. Praticamente fez o próprio resgate.- Nicolas a abraçou, pousando um beijo rápido em seus lábios.- Não sabe como estou aliviado em te ver bem.-
  - Se não fosse por vocês, provavelmente essa c.a.d.e.l.a psicótica tinha me eliminado.- Amanda afundou os dedos nos fios espessos dos cabelos de Nicolas, retribuindo ao beijo dele.
  Arthur pigarreou, fazendo propositalmente com que o casal interrompesse o momento inebriado de paixão.
  - Entendo as emoções, mas será que podemos levar os bandidos primeiro?- Arthur tomou a iniciativa de caminhar para dentro do cercado, encontrando Fred ainda desmaiado no pequeno espaço do lado de fora da casa.
  - Eu fico com a Priscila. Estou louca para acertar essas contas com ela.Traidora d.e.s.g.r.a.ç.a.d.a.- Samanta entrou logo depois de Arthur, sendo acompanhada por Letícia e Ingrid que pareciam tão ansiosas quanto para colocarem as mãos na prima traidora.
  Nicolas e Amanda, em meio a toda aquela confusão, não conseguiam deter os impulsos de trocarem beijos e o calor do corpo humano. Rachel, estava com o pé destroçado, e Amanda achou que o melhor para a segurança de todos eram prender as mãos dela com uma corda, além de, claro, prestar assistência quanto a quantidade gritante de sangue que escorria. Ela enrolou o pé de sua algoz com o casaco de Arthur que ficou abandonado no carro. A polícia foi acionada quando a equipe de busca já estava na estrada, e ao chegarem na casa indicada, encontraram os três bandidos devidamente amarrados. Na hora de ir embora, Arthur precisou se acomodar entre as meninas no banco de trás, já que Amanda fez questão de ir ao lado de Nicolas no banco da frente.
  - Não acredito que perdi um casaco novinho para o pé p.o.d.r.e daquela bandida.- Resmungou Arthur, movendo o quadril para se acomodar melhor entre Samanta e Letícia.- E eu queria ir na janela.-
  - Querer não é poder.- Provocou Samanta.- E se eu fosse você dava o casaco como perdido mesmo. Aquela ali tem veneno até na pele.-
  - Bom, eu não podia deixar que ela sangrasse até a morte.- Disse Amanda.
  - Ah, podia sim. O que você não podia era ter destruído a minha jaqueta de 500 dólares.- Resmungou Arthur.
  - É melhor aceitar. Não tem como voltar no tempo. Será que pode parar de resmungar um minuto? Passou a viagem inteira da ida parecendo uma velha de noventa anos.- Disse Samanta.
  - Acho que uma velha de noventa anos reclama menos.- Falou Letícia.
  Arthur olhou de cara f.e.i.a para as três que dividiam o banco detrás com ele, levando em conta Ingrid, que achava graça da piada mal feita pelas outras duas.
  - Não saberiam disso se não tivessem se enfiado no carro sem terem sido convidadas.- Rebateu Arthur.- Se é que essa lata velha pode ser considerado um carro.-
  - Preciso concordar com elas.- Nicolas virou a cabeça para trás por um breve momento.- Precisei me segurar para não te sacudir da janela.-
  - Fico feliz que pelo menos o meu rapto serviu para reaproximar vocês.- Disse Amanda.- Uma amizade tão antiga não deveria ser quebrada nunca.-
  - Eu já entendi que você realmente ama minha irmã.- Arthur deu um leve tapinha no braço de Nicolas.- Depois de hoje, todos vocês aqui colocaram as próprias vidas em risco para salvar a Amanda, e com isso, Nic, você provou que a minha irmã não é só um passatempo.- Ele respirou fundo para recuperar o fôlego, retomando com sua fala.- Peço perdão por ter sido injusto. Você é meu irmão, e eu deveria saber que jamais faria nada para magoar os sentimentos da Amanda. Você é o cara certo para ela, e Amanda não poderia ter feito escolha melhor. Eu realmente fui um hipócrita, até mesmo porque, não posso julgar o amor de vocês dois, quando eu mesmo amo a melhor amiga da minha irmã.-
  Os olhares trocados entre Samanta e Arthur, mesmo após soltarem farpas, era de um amor inebriante e sem limites. A garota segurou o rosto dele com as duas mãos e capturou os seus lábios em um beijo urgente. Se não fosse o pigarro de Nicolas, que resolveu se vingar, o casal realmente teria esquecido que tinham espectadores.
  - E isso porque estavam soltando farpas um para o outro.- Provocou Ingrid.
  - Faz parte do nosso amor.- Respondeu Samanta, ainda abraçada em Arthur.
  - Pela primeira vez em muito tempo, sinto que as coisas estão caminhando para o lado certo.- Amanda aproveitou que o carro parou no sinal para segurar a mão de Nicolas.
  ...
  Meses depois

  Amanda sentiu que precisava fazer aquilo. Por mais que a vida inteira tivesse suas diferenças com Priscila, ela era parte de sua família, e isso nunca mudaria. Sabia que seus parentes sofriam muito desde que Priscila foi presa junto com Rachel na penitenciária feminina - Fred, por ser homem, foi transferido para outro lugar, e acabou sendo assassinado por outros prisioneiros-, e não tinha o que fazer para mudar o que aconteceu. Priscila precisava pagar pelo seu crime, e Amanda queria entender o porquê da garota ter chegado tão longe. Estava sentada no banco de uma cela usada para os prisioneiros receberem as visitas quando Priscila adentrou o lugar acompanhada de uma das carcereiras. Ela se sentou de frente para Amanda, na defensiva, esperando insultos e provocações por parte da outra.

  - Eu não esperava te ver aqui.- Disse Priscila, assim que a carcereira saiu.- Veio tripudiar de mim? Porque não perca seu tempo, vovó Tereza já veio aqui e me disse poucas e boas.-
  - O merecido, eu aposto.- Disse Amanda.- Sendo que eu tenho mais o que fazer do que perder tempo tripudiando de alguém. Vim aqui para entender o porquê de ter chegado ao extremo de tentar me matar. Nunca nos demos bem, mas jamais passou pela minha cabeça tirar a sua vida.-
  Priscila respirou fundo, analisando as algemas que estavam em suas mãos.
  - Rachel veio me visitar alguns dias antes, dizendo que ficou sabendo da surra que você me deu. Ela é persuasiva, e disse que sabia de uma vingança perfeita para abaixar sua crista. Contatamos o Fred, meu falecido ex namorado, e em troca de um bom dinheiro ele topou participar do plano. Não íamos te matar de verdade. Te torturaríamos por alguns dias, te daríamos um belo de um susto, mas eu não sou nenhuma assassina.-
  Amanda riu de forma desdenhosa, precisando contar até três para não pular no pescoço de Priscila.
  - Rachel ia atirar em mim quando os meus amigos chegaram para me resgatar. Ela é persuasiva é manipuladora, mas acima de tudo, não mede esforços para eliminar quem se mete no caminho dela. Você não conhece a Rachel, e ainda assim, por conta da sua irresponsabilidade e inconsequência, aceitou participar de algo que quase acabou com a minha vida. Por que, Priscila? Por que todo esse ódio?-
  - Porque você sempre teve tudo. As melhores casas, os melhores amigos, e até mesmo os melhores namorados. Os caras que eu gosto sempre gostam de você, e você sempre ganha tudo o que eu quero ganhar. Como não posso te odiar se você tem até a vida que era pra ser minha?-
  - Não existe isso, Priscila. Cada um tem o seu espaço nesse mundo. Corra atrás dos seus sonhos e do que é para ser seu, ao invés de perder tempo desejando só o que é dos outros. Inveja não leva ninguém a nada, Priscila. Ou melhor, leva a nada. Veja aonde você parou com a sua inveja. O Fred morreu nas mãos dos prisioneiros e você pode passar pelo mesmo. É isso que quer para o seu futuro.-
  Priscila se manteve em silêncio, apenas encarando o chão. Amanda viu os olhos de sua prima marejarem de lágrimas, e sentiu que sua missão ali tinha sido cumprida. Priscila parecia haver despertado de seu ódio inconsequente e desproporcional.
  - Pense em tudo o que foi dito aqui, Priscila. Espero que siga em frente com sua vida quando sair. Eu te perdoo, não porque sou um anjo misericordioso, mas te perdoo primeiramente por mim mesma. Também quero recomeçar, principalmente agora, que dentro de mim só tem amor.- Amanda levou suas duas mãos á barriga, acariciando o local.
  - Você...- Priscila não chegou a completar a frase, olhando Amanda com surpresa.
  - Eu vou ter um filho do amor da minha vida. E em nome disso eu quero deixar tudo o que me fez m.a.l para trás. Adeus Priscila, espero que consiga se libertar dos seus d.e.m.ô.n.i.o.s.- E dito aquilo, sendo a sua deixa, Amanda caminha para fora dali.

O melhor amigo do meu irmão Onde histórias criam vida. Descubra agora