Capítulo 36

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  Amanda acordou na manhã seguinte com a cabeça latejando. A sua visão estava bastante turva, e a cabeça completamente desorientada. Tudo o que lembrava era que tinha se despedido de Nicolas - alguns minutos após o encontro desajeitado com Arthur-, e de repente tinha parado ali.
  Um lugar que não era o seu quarto.
  Um lugar que não tinha o seu cheiro.
  E o pior, um lugar que ela nunca viu na vida.
  Amanda chacoalhou a cabeça, fazendo menção em se levantar da cama improvisada na qual estava sentada. Para o seu desespero, ela caiu imediatamente de volta, percebendo pouco tempo depois que os seus pés estavam presos por duas correntes muito fortes.
  Aquilo era fruto de sua imaginação? Ou fazia parte apenas de um pesadelo terrível? Seja lá o que fosse, a dor da corrente marcando os seus pés era real, assim como a vermelhidão - que se formou devido à pressão- em sua pele.
  Outro fator muito real foi o barulho que a porta fez quando a maçaneta girou. Através da parede, Amanda conseguiu ver o formato curvilíneo e baixo do corpo feminino que se aproximava. Um frio começou a subir por sua espinha e se espalhar até o dedo mindinho de seu pé, ela estava apavorada. Por que estava toda amarrada em um lugar desconhecido? Por que não lembrava de mais nada depois do seu encontro com Nicolas?
  Por mais que esforçasse a sua mente a pensar, não conseguiu chegar muito longe.
  - Uma reunião familiar diferenciada, não acha?- Perguntou a mulher que recém entrou no quarto ocupado por Amanda.
  Aquela voz.
  Amanda arregalou os olhos involuntariamente.
  Aquela voz lhe era familiar.
  - Aonde estou? Como vim parar aqui?- Perguntou Amanda de uma só vez.
  - São perguntas demais, minha cara.- Falou Priscila, se apresentando de frente para Amanda.
  - Priscila?- Disse Amanda horrorizada.
  Por mais que reconhecesse a voz, se recusava a acreditar que sua prima tinha algo a ver com aquilo.
  Não era Rachel, a psicótica obsessiva.
  Não era Daphne, a invejosa.
  E nem a Camila, a garota rejeitada que não soube lidar com a perda.
  Mas sim a sua prima, aquela que conhecia desde que se entendia por gente, embora nunca tivessem se dado bem. Mesmo com todas as suas diferenças, Amanda jamais sequer imaginou que Priscila chegaria a tanto.
  - Acho que realmente fizeram um estrago na sua cabeça, não?- Perguntou a sequestradora, se aproximando mais de sua vítima e analisando o enorme coágulo que se formava na cabeça, próximo á nuca.- A culpa foi minha, admito, pedi que batessem com muita força, por causa da sua cabeça dura.-
  Então foi isso!
  As lembranças começaram a clarear na mente de Amanda logo após ouvir as palavras de sua prima. Os acontecimentos passaram em sua cabeça como um filme antigo e em preto e branco. Ela deu um beijo de despedida em seu namorado e virou de costas para entrar no prédio em que morava. De repente, por trás, alguém acertou uma coronhada em sua cabeça, a fazendo cair inconsciente no chão. Amanda não conseguiu ver os rostos, mas lembra de ter percebido dois homens em uma moto no breve momento em que trocou algumas palavras com seu irmão e com Nicolas.
  Agora tudo fazia sentido. Ela foi sequestrada pelos meliantes, por ordens de sua prima.
  - Aonde eu estou e por que estou aqui?- Amanda repetiu a pergunta, trincando os dentes.
  - Você está no inferno e veio até aqui para morrer.- Respondeu Priscila, segurando violentamente o maxilar da outra.- Mas não se preocupe, te darei torturantes horas de desespero antes de finalmente chegar a sua hora.-
  - Você não está nada bem, Priscila. Por quê? Por que tanto odio contra mim? O que eu te fiz?-
  - Você nasceu, Amanda. Sempre te detestei desde que me entendo por gente, e você existe apenas para dificultar a minha vida! Você roubou a minha felicidade.-
  - Isso não faz o menor sentido. Nunca fiz nada para te prejudicar, ao contrário de você, que sempre conspirava coisas contra mim!- Rebateu Amanda.
  - Você sempre teve tudo, Amanda. As melhores escolas, cursos, viagens... Uma família bem estruturada, bons amigos... Enquanto eu sempre fiquei com as suas migalhas. As roupas doadas pela Amanda, uma escola mais barata por caridade da mãe da Amanda, amigos medíocres que não têm nada a ver comigo, porque você fez as suas amigas me odiarem!- Priscila enumerava os fatos nos próprios dedos a medida que falava.
  - Isso é mentira. As pessoas não tem antipatia por você por minha causa, Priscila. Tudo isso que vem acontecendo é você colhendo o que plantou. Sempre fez questão de ser desagradável com as pessoas que fazem parte da minha vida, como espera que reajam diferente?-
  - Vão reagir diferente... Depois que você morrer! Quando você deixar de existir a minha existência será mais tranquila... E feliz.- Priscila esboçou um sorriso psicótico, segurando uma das mechas castanhas do cabelo de Amanda, enrolando-a em seus dedos.
  - Precisa de ajuda, é claro que precisa. Isso é doentio, Priscila. Percebe que passou toda a sua vida me odiando? Você vem intoxicando a si mesma ao longo desses anos, como espera poder ser feliz assim? Me matar não vai fazer com que se sinta melhor, porque o sentimento de ódio vai continuar existindo dentro de si mesma.-
  - Sabia que eu deveria ter sido rica ao invés de você? Sim, deveria, se sua mãe não tivesse roubado o seu pai da minha mãe!- Priscila mudou de assunto de repente.
  - Que loucura é essa? Meu pai nunca se interessou por sua mãe.-
  - Eles se conheceram primeiro!- Priscila gritou, interrompendo abruptamente a outra.- Se sua mãe não tivesse atrapalhado tudo, eles teriam ficado juntos.-
  - Minha mãe não precisava do meu pai para ser rica, Priscila. Eles se amavam de verdade, e não teria como isso ser diferente. Não pode me culpar pelas más decisões da sua mãe.-
  Priscila reagiu às palavras de sua prima da forma esperada por uma pessoa que não tem palavras á altura para debater. Aproveitando os pés e mãos acorrentados da outra, para lhe disferir um forte tapa no rosto. Amanda titubeou devido a força da pancada, mas se manteve em pé. Lançou um olhar furioso e gélido para a sua prima.
  - Covarde... Duvido que faria isso se eu estivesse solta.- Falou Amanda.- Eu juro que não vou tentar mais ser compreensiva com você, Priscila. Eu não sei como, mas vou arrumar a forma de sair daqui e vou te fazer sofrer por cada minuto de sua vida miserável.-
  - Então vamos ver se consegue se soltar. Mesmo que escape de mim, não escapará dos meus amigos que estão do lado de fora.-
  - Como conseguiu dinheiro para pagar amigos?- Amanda disferiu um sorriso psicótico, divertindo-se com a expressão amargurada da outra.
  Priscila, que já estava muito próxima de Amanda, manteve sua expressão inescrutável, como se aquilo não a tivesse abalado.
  - Devido a sua grosseria, ficará sem jantar e sem café da manhã, para pensar bem no que fez.- Priscila caminhou para a saída após suas palavras, tornando a trancar a porta.
  ...
  Como o combinado, logo cedo, Nicolas foi até a casa de Amanda buscá-la para ir a praia. Ao tocar a campainha, a porta foi aberta por Arthur, que ficou carrancudo ao constatar que era o seu ex melhor amigo bem diante de si. Não fazia sentido continuar com aquele sentimento - até mesmo porque ele também está namorando a melhor amiga de sua irmã-, mas algo naquilo tudo incomodava muito o Arthur, e a sensação de traição era muito forte.
  - O que faz aqui?- Perguntou Arthur, sem convidá-lo para entrar.
  - Aqui é a casa da minha namorada.- Rebateu Nicolas com o mesmo tom de voz seco.- E costumava ser a casa do meu melhor amigo.-
  - Essa deixou de ser a casa do seu melhor amigo, a partir do momento que você começou a dormir com a irmã dele. A propósito, diga para Amanda que avise a nossa mãe quando decidir dormir na sua casa, ela ainda não é dona do próprio nariz para dormir onde bem entender sem dar satisfações.-
  - A Amanda não dormiu na minha casa. A deixei aqui ontem á noite, e você lembra disso, porque nos encontrou.-
  A expressão seca e inescrupulosa de Arthur se transformou em uma expressão preocupada. Para onde sua irmã pode ter ido?
  - Ela não chegou a subir. Eu fiquei por muito tempo na sala assim que voltei para casa, e eram cinco da manhã quando fui dormir.- Disse Arthur, afastando-se da porta e deixando-a aberta.
  Nicolas adentrou a casa mesmo sem ser convidado.
  - Ela pode ter ido para a casa de uma das meninas.- Sugeriu Nicolas.
  - Com a Samanta não está, estive falando com ela até agora e não comentou nada. Inclusive está vindo para cá.- Disse Arthur, tratando de comunicar a sua namorada o ocorrido.
  - Vou mandar mensagem para a Letícia e para a Ingrid.- Nicolas também providenciou a sua parte.
  - Nada... A Samanta não sabe de nada.- Falou Arthur, frustrado com a resposta.- E quanto a você? O que achou?-
  - Nada.- Respondeu Nicolas, cabisbaixo.
  O interfone da casa tocou, chamando a atenção dos homens. Arthur correu até a cozinha, se agarrando aos últimos fiapos de esperança de encontrar o paradeiro de sua irmã. Nicolas foi logo atrás, permanecendo logo atrás de seu amigo quando ele atendeu o interfone.
  A ligação foi breve, mas Arthur parecía mais pálido do que antes.
  - O que houve?- Perguntou Nicolas.
  - É da segurança do prédio. Pediram que descêssemos. Tem uma gravação de ontem à noite, da minha irmã.- Falou Arthur.
  Os dois homens não perderam tempo e correram em disparada para fora da casa.
 

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