Na manhã seguinte, Amanda acordou cedo para o café da manhã. E assim como ela, os outros inquilinos que estavam em sua casa de praia decidiram fazer o mesmo, incluindo Nicolas e Camila, que estavam estranhamente grudados. Os dois trocavam olhares afetuosos, e Rachel sempre arrumava uma forma de derrubar algo em Camila, ou de insinuar algum insulto. Arthur e Samanta também estavam estranhamente harmonizados, e pela primeira vez em muito tempo, não estavam parecendo que queriam se matar.
Talvez fosse realmente melhor esquecer o Nicolas e tentar seguir em frente. Amanda olhou para Fábio, que tinha a linha da testa cruzada enquanto analisava um pão de queijo que parecia ter a velha idade de dois dias.
Será que Amanda conseguiria se apaixonar por ele?
E se conseguisse, será que valeria a pena se apaixonar por ele?
Amanda olhou mais uma vez de esguelha para o casal que estava do outro lado da mesa. Nicolas deixava beijos suaves aos lábios de Camila, que levou um pedaço de torrada á boca dele. Ele não lançou sequer um olhar na direção de Amanda.
- Eles parecem bem distraídos em... Seja lá o que estiverem fazendo.- Comentou Fábio, chamando a atenção dela.
- É...- Amanda suspirou fundo.- Acho que eu perdi meu tempo pensando que o Nic gostava de mim.
Fábio levou uma de suas mãos a apertar a mão dela com delicadeza.
Amanda ergueu os olhos para o topo da cabeça do outro rapaz, forçando um sorriso fraco.
- Eu sinto muito por te envolver nisso. Se não quiser mais fazer essa farsa...-
- Não, eu não quero mais fazer essa farsa.- Fábio a interrompeu, curvando seu corpo de modo a ficar poucos centímetros de distância do dela.- Eu quero que seja de verdade.-
Amanda chegou a abrir os lábios para falar algo, mas Fábio pousou o seu indicador no meio da boca dela.
- Eu sempre gostei de você, Amanda.- Ele tirou o dedo da boca da garota, capturando os lábios dela em um beijo suave.
Ao ouvirem o pigarrear de Hugo, o irmão do meio de Amanda, os dois foram obrigados a manterem uma distância respeitável.
- Se eu fosse vocês, não provocaria o Arthur dessa maneira.- Sugeriu Hugo.- A sorte é que ele está distraído demais com a Samanta.- Hugo entortou a cabeça para o lado com um quê de interrogação.
Os dois nunca foram amigos, e não era segredo para ninguém que haviam ficado uma única vez. Arthur era conhecido por não ficar com ninguém por mais de uma vez, já que tinha medo de dar falsas esperanças á alguém. Mas com Samanta...
Com Samanta, ele parecia outra pessoa. Não estava dando atenção a mais ninguém, ou prestando atenção em mais nada, que não fossem as amenidades que estavam conversando, ou ao sorriso que a moça esboçava quando ele dizia algo que ela considerasse engraçado.
E talvez o que ele estivesse falando não fosse nem tão engraçado, mas Samanta estava feliz demais para não sorrir. Ela sempre gostou dele, e ele sempre foi o seu amor platônico e impossível. Até pouco tempo ele nem sabia o seu nome direito, costumava chamá-la de Sabrina. Depois de ficarem pela primeira vez, Samanta já tinha perdido as esperanças quanto a gostar dele, mas parece que alguma coisa mudou.
Quando foi que ele começou a gostar dela? Isso, nem o próprio Arthur saberia responder. A melhor amiga da sua irmã era divertida, tinha uma conversa inteligente, era muito bonita, e o fazia sentir sensações que ele nunca provou na vida. Será que estava se apaixonando por ela? Será que justamente ele, que jurou veemente nunca se apaixonar por ninguém, estava completamente de quatro pela menina que até pouco tempo enxergava como uma criança?
Arthur acreditava que poderia, sim, ter se apaixonado por aquela mulher.
- O Arthur é um hipócrita.- Falou Amanda, contrariada.
- O que ele fez?- Perguntou Hugo.
- Nada que você fosse entender.- Ela respondeu secamente.
Hugo deu de ombros, sem dar a menor importância para os devaneios de sua irmã caçula.
- Essa seria uma ótima hora para vocês barganharem, se o meu primo... Bem...- Fábio pigarreou, tentando procurar a palavra certa.
- Se o seu primo se importasse. Se ele realmente gostasse de mim.- Amanda completou.
Fábio riu sem graça. Não era exatamente aquelas palavras que ele iria usar, mas também se encaixavam ao que ele estava pensando.
- Eu não quero te pressionar a nada. Mas espero que realmente pense no que eu disse.- Falou o Fábio, acariciando a bochecha da moça com o polegar.
...
Alguns dias depois ao final de semana na praia, Nicolas e Amanda continuavam se evitando, mas devido a forte amizade do rapaz com o irmão dela, ele não deixou de frequentar a sua casa. Nicolas se pegou tendo uma breve raiva de Arthur ao vê-lo ali, aos beijos com Samanta. Provavelmente aquela regra estúpida da amizade só se aplicava de Arthur para Nicolas, mas Arthur não parecia levar tão a sério quando era a sua vez de não se envolver com as amigas da irmã.
- Ei... E então?- Perguntou Arthur, ficando de pé.- Já recebeu o resultado do teste de paternidade?-
- Sim.- Nicolas responder em um tom amargurado.- Vou ter um filho com a Rachel.-
Samanta engoliu em seco. Ela estava verdadeiramente triste por sua melhor amiga ter que passar por uma decepção como aquela. O destino as vezes parecia gostar de aplicar uma facada bem nas costas das pessoas, porque justo naquele momento, Amanda entrou na sala de visitas de seu apartamento.
- Você vai ter mesmo um filho com a Rachel?- Perguntou Amanda, surpresa.
- Sim.- Ele cometeu o erro de olhá-la nos olhos.
Por que o simples fato de olhar para o rosto de Amanda fazia o seu coração disparar? Ele nunca sentiu aquilo por ninguém, o que o irritava tremendamente.
- Puxa...- Arthur coçou a cabeça.- E agora? O que vai fazer?-
- O que eu posso fazer?- Nicolas bufou.- Vou assumir o meu filho e ser um pai presente que acompanhará todas as etapas do crescimento dele.-
- Está certíssimo.- Concordou Arthur.- Acha que a Camila vai reagir bem a isso?-
- A Camila e eu não temos nada sério ainda, mas estamos saindo. Ela vem me apoiando muito com toda essa história, e disse que jamais que um filho seria um empecilho para evoluirmos nossa... Relação.-
- Ela parece ser uma boa mulher. Não a perca.- Comentou Arthur.
Amanda saiu silenciosamente da sala, e Samanta correu atrás dela.
- Eu não posso ter nada sério com a Camila, Arthur, e eu já disse isso á ela.-
- Você não gosta dela?-
- Gosto, mas não a amo.-
- E como você sabe? Talvez com o tempo...-
- Eu já amo alguém, Arthur. Mas não posso ficar com essa pessoa.- Nicolas deu de ombros, caminhando para fora da sala de visitas.
Arthur tentou perguntar quem era a pessoa que o seu amigo amava, e o porquê de não poder ficar com ela, mas Nicolas já havia ido embora.
Ele odiava ver o seu melhor amigo sofrendo, e faria até o impossível para ver a felicidade dele.
...
Amanda se jogou na sua cama, aos prantos. Samanta a acolheu em um caloroso abraço, pensando no que poderiam fazer para mudar aquela situação, mas Amanda parecia terrivelmente sem esperanças. A garota encolheu o corpo nos braços de sua amiga, permitindo se afundar no calor de carinho e proteção que ela emanava.
- Amanda...- Sussurrou Samanta.
- Tudo isso é culpa do Arthur... Daquele maldito hipócrita!- Explodiu Amanda.
- Respira fundo. Vamos achar uma solução para isso, eu posso conversar com o seu irmão e...-
- E o que?- Amanda ergueu a cabeça para olhar a amiga nos olhos.- Ele não vai ouvir você, Samanta. Quando o Arthur tem uma ideia fixa na cabeça, ninguém tira isso dele.-
- Eu não acho que seja assim. Eu acho que todo ser humano está disposto a tentar entender a pessoa que ama, e o seu irmão, apesar de estar errado, ele ama muito você.-
- Será que ama mesmo? O Arthur é um egoísta, só quer as pessoas para ele. Ele acha que tem o direito de manipular, de decidir a vida de todo mundo, mas ele não é ninguém para fazer isso!-
- De uma forma errônea, ele só quer te proteger.-
- Eu não pedi proteção! Eu não sou uma criança, Samanta, eu não preciso do Arthur para ficar me dizendo o que eu devo ou não fazer. Eu amo o Nicolas, e eu sei que ele sente o mesmo por mim, mas ao mesmo tempo não quer estragar a amizade com o Arthur.-
- Eu acho que o Nicolas foi um covarde. Ele preferiu fingir que nunca existiu nada entre vocês do que enfrentar o Arthur de frente.-
- Talvez ele não goste tanto de mim, quanto eu gosto dele. Mas já imaginou, Samanta? E se fosse eu a esperar um filho dele, ao invés da Rachel? O Arthur seria obrigado a aceitar, não seria?-
De repente, a porta do quarto que estava entreaberta, passa a ficar completamente aberta, revelando a imagem de Arthur, que estava parado na soleira.
- Você está grávida do Nicolas?- Perguntou ele, pálido como um papel, e muito trêmulo devido ao seu estado de nervos.
...
Arthur estava muito intrigado com o comportamento nada convencional de seu melhor amigo. Ele respeitou o momento que Nicolas precisaria ter consigo mesmo para digerir toda aquela história da gravidez de Rachel, então subiu as escadas de sua casa para procurar a Samanta, que provavelmente deveria estar com a Amanda. Ao chegar na metade do corredor, Arthur ouviu vozes alteradas, constatando que era a sua irmã que estava muito chorosa e por alguma razão desconhecida por ele.
- Tudo isso é culpa do Arthur... Daquele maldito hipócrita!-
Arthur piscou os olhos várias vezes, bastante confuso. Do que diabos ele tinha culpa? Por um breve momento tentou repensar em tudo que andou fazendo nos últimos dias, e tinha a mais absoluta certeza de que não fez nada para magoar a irmã.
- Respira fundo. Vamos achar uma solução para isso, eu posso conversar com o seu irmão e...-
Arthur colou o ouvido na porta, para assim ouvir a conversa com uma qualidade sonora melhor.
Ele ficou estarrecido ao ouvir todo o desabafo de sua irmã, e suas pernas tremiam tanto que ele não sabia como ainda estava se mantendo em pé. Por todo aquele tempo, sem o seu conhecimento, Nicolas e Amanda estavam juntos.
Nicolas, o seu melhor amigo desde a infância, era um maldito traidor que seduziu a irmãzinha dele. De repente, uma confissão de Amanda foi a punhalada final, e ele não poderia continuar de mãos atadas e sem fazer nada. Quando Arthur menos se deu conta, ele estava diante ás duas garotas, com o coração saindo pela boca.
- Você está grávida do Nicolas?- Foi tudo o que ele conseguiu dizer, admirado consigo mesmo pela voz não ter falhado.
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O melhor amigo do meu irmão
RomanceO que você faria se, de repente, um amor platônico pelo melhor amigo de seu irmão mais velho, virasse realidade? Desde pequena, Amanda suspirava por Nicolas, mas devido a diferença de idade, além do fato de Arthur, irmão de Amanda, ser extremamente...