Capítulo 38

4.1K 222 4
                                    

  - Essa é a sua ideia de transporte? Um táxi que eu precisei empurrar até a metade da rua para conseguir tirar do lugar.- Rosnou Arthur, com os braços cruzados e sentado no banco do carona.
  - Não reclame. Até mesmo porque você só empurrou um metro e resmungando como um velho de noventa anos. Os outros dezenove metros quem empurrou fui eu.- Nicolas pisou com um pouco mais de força na embreagem quando precisou estacionar o carro no primeiro sinal.
  - E esse sinal? Pelo amor de Deus, homem. Não tem ninguém na rua.-
  - Não, mas pode passar alguém e eu não estou com disposição de atropelar ninguém com exceção á você, que não para de reclamar.- Rebateu Nicolas, já perdendo o último fio de paciência. O sinal abriu, e Nicolas deu partida, acelerando o máximo permitido dentro dos limites da segurança.
  - Precisamos montar uma estratégia. Não tem como chegar lá e recuperar a Amanda sem montar uma estratégia.- Arthur quase bateu a cabeça quando Nicolas fez uma curva brusca demais, e olhou de cara f.e.i.a para o outro quando recuperou o equilíbrio.- Eu já teria pensado em algo se a Samanta não tivesse feito um interrogatório policial antes de sairmos.-
  - E sinceramente? Não sei como ela engoliu essa história de trocar de carro. Não estávamos olhando um na cara do outro, por que d.i.a.b.o.s eu te chamaria para me ajudar a escolher um carro? Do jeito que você é vingativo, me faria escolher um no ferro velho, com o motor danificado e pintado de amarelo.-
  - Eu gosto de amarelo.- Arthur deu de ombros.- E a Samanta deve ter ficado tão feliz por termos feito as pazes, que não quis pensar nos pormenores.-
  - Eu acho que você está subestimando a sagacidade da sua namorada.- Nicolas olhou discretamente para trás ao ouvir um barulho estranho vindo do banco de trás, assim que precisou fazer outra curva brusca.- Ouviu isso?-
  - Está falando dos estalos? Estou ouvindo desde que entrei, e não tem como ser diferente em um carro caindo aos pedaços.-
  - Prefere ir com o seu carro ou com o meu? Assim aquele canalha do ex namorado da sua prima nos reconhece e leva a sua irmã para outro lugar. É isso que quer?- Perguntou Nicolas irritado.
  - Não, é claro que não é isso que ele quer.- Uma voz feminina conhecida veio do banco detrás, e Nicolas quase chocou o carro em um poste pelo susto que tomou.- Ah, Nicolas, por favor, vá mais devagar com essas curvas. Se continuar assim, quando chegarmos no casebre eu estarei com a cabeça desmontada do pescoço.- Samanta suspirou aliviada, acomodando-se no assento. Olhou de um homem para o outro com a sobrancelha erguida.- Vão ficar me olhando com essas caras de paspalhos?-
  - O-O-O que.- Arthur chacoalhou a cabeça, sentindo dificuldade de formular uma frase após o choque. Ainda estava perplexo.- Como você entrou aí?-
  - " Como" é o de menos. Não é fácil enganar vocês dois. Só precisei fazer o alarme do seu carro disparar.- Samanta deu de ombros.
  - Você não estava com a Ingrid e com a Letícia?- Perguntou Nicolas, tão perplexo quanto o amigo.
  - Correção... Eu estou.- Samanta ergueu o indicador, olhando para a parte debaixo dos assentos.- Podem sair daí, meninas.-
  - Finalmente, estava me perguntando quando seria a deixa.- Falou Leticia, ajeitando os fios loiros e desalinhados dos cabelos, após se levantar na companhia de Ingrid.
  - Isso só pode ser uma brincadeira de mau gosto.- Resmungou Arthur.
  - Acharam mesmo que iam resgatar a nossa amiga sem a nossa presença? Vocês não teriam como fazer isso por própria conta e risco.- Provocou Ingrid.
  - Estamos indo muito bem até agora.- Rebateu Nicolas.
  - Sem saber a diferença entre estalos de um carro velho e corpos se chocando contra o assento? Acho que não.- Disse Leticia com ironia.
  - Viu? Eu sabia que o táxi não era tão velho.- Falou Nicolas.
  - Será que agora que perceberam que não têm chances de resolverem isso sem nós, podemos começar a montar as estratégias do resgate?- Samanta analisou as próprias unhas, esperando uma confirmação dos rapazes.
  Eles respiraram fundo, e acabaram cedendo. Porque permitindo ou não, elas continuariam a falar.
  ...
  Amanda já estava a beira dos nervos quando checou a tela do celular e viu que quinze minutos haviam passado. Precisou acertar a cabeça da Priscila quando ela estava prestes a acordar do enforcamento, e achou que seria mais seguro prendê-la com as correntes para evitar futuras surpresas. Ouviu um barulho de moto, e como o localizador enviado por Nicolas mostrava que eles ainda estavam a alguns minutos de distância, o primeiro que se passou por sua cabeça foi a necessidade de se esconder. Com certeza era o instinto de sobrevivência falando mais alto, já que há poucos minutos Amanda se viu a beira da morte. A garota olhou a janela de relance, e passou as duas pernas para o outro lado. Caminhou pelo espaço estreito que daria de frente para uma árvore, e com dificuldade, se agarrou no tronco para se esconder por entre os galhos. Fred, o ex namorado de Priscila, empalideceu quando viu a garota errada amarrada no lugar de Amanda. Ele ficou enfurecido, disferindo um chute na cadeira que tinha no cômodo. Amanda cautelosamente tentou descer pelos galhos sem fazer barulho, e estava dando certo, até pisar em falso em um tronco cheio de musgo, escorregando, e caindo diretamente na grama. O baque estrondoso chamou a atenção de Fred, que ao olhar pela janela, viu sua refém estatelada no chão. Amanda sentiu uma dor aguda no quadril, e se levantou com dificuldade quando viu Fred colocar a cabeça na janela e sumir magicamente logo depois.
  - Você precisa ser esperta, Amanda.- Disse para si mesma.- Na força física obviamente você não vai ganhar, ainda mais com um quadril fraturado.- Desesperadamente, ela varreu os olhos pelo ambiente, e tudo o que encontrou foi uma pá muito pesada ao lado do lixeiro. A garota manquejou na direção do objeto, mas não teve a sorte de ter reflexos tão rápidos para segurar a pá, quando Fred a agarrou por trás.
  - Sua ratinha miserável. Agora eu mesmo vou ficar de olho em você.- Falou Fred.
  Talvez sua perna não estivesse tão boa, e correr poderia até estar fora de cogitação, mas isso não significa que não existiam outros meios de lutar. Amanda jogou a cabeça para trás com toda a força que conseguia, acertando o nariz de Fred. O homem titubeou, com o nariz sangrando, e por mais que tivesse precisando de meio minuto para se recompor, ainda estava de pé. Ele tornou a tentar alcançar a Amanda, mas ela já tinha conseguido segurar a pá, acertando-o sem que o mesmo esperasse. Amanda bateu com a pá por mais uma vez na cabeça de Fred, certificando-se de que ele permaneceria no chão por mais tempo, inconsciente. Ela soltou a pá no chão, e correu para longe dali. Olhou a tela do celular, verificando que o carro de Nicolas só precisava dobrar a rua para chegar até a casa que estava. Amanda correu pelo gramado verde até o lado de fora da casa. Ultrapassou o cercado, sentindo o coração quase sair pela boca ao avistar um táxi, com uma mão para o lado de fora da janela acenando para ela. Conseguiu ver os rostos de Arthur e Nicolas, inclusive, viu nitidamente a expressão de medo que os dois de repente fizeram, obrigando-a a olhar para trás. Rachel, aliada com Fred e Priscila, estava prestes a encomendar a morte de Amanda. Apontava uma pistola na direção da garota, com um sorriso psicótico no rosto.
  - Ah como é satisfatório essa sua carinha de surpresa e frustração.- Disse Rachel.
  - Rachel.- Disse Amanda com perplexidade.- Claro, tinha que ter um dedo seu nisso.
  - Sim, querida. Eu sou o elemento surpresa. E a surpresa principal será a festa que mandarei fazer no seu enterro.- Rachel encostou o dedo no gatilho, provocando um suspense proposital para farejar lentamente o medo e a ansiedade de sua oponente.- Quais são suas últimas palavras?-

O melhor amigo do meu irmão Onde histórias criam vida. Descubra agora