| Capítulo 29 |

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Saudade
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Aurora Henderson:
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    Ele engoliu o pão, embora parecesse que iria vomitar em cima da mesa a qualquer momento. Os olhos de Matthew ainda esbugalhados desceram até a minha barriga nua, que estou em pé em sua frente. Seus lábios abertos e o sangue em qualquer lugar, menos em seu rosto. Depois ele encarou meu pai, então voltou a mim, esperando uma resposta, atônito.

— Um bebê? Meu bebê? — Sondou sem disfarçar ou se recuperar do seu estado de choque.

    Assenti com a cabeça devagar e coloquei as mãos na barriga. Ele fechou os punhos em cima da mesa e se levantou, ficou congelado em pé, encarando e estudando a minha barriga como se fosse possível ver alguma coisa dentro dela. Matthew soltou o ar que estava preso em seu pulmão e afastou a cadeira, dando as costas e saindo dali aturdido. Observei ele se afastar, indo em direção a sala de estar e depois o rangido da porta se abrindo. Minhas pernas fraquejaram e meus olhos arderam. Me sentei de volta na minha cadeira e respirei fundo passando as mãos no cabelo.

— Sinceramente, não me lembrava de você ser tão língua grande… — encaro o meu pai com raiva.

— Aurora, foi sem querer, eu…

— Seja lá qual for o trauma dele, o que assombra ele, o senhor sabe mais do que ninguém e sabe que ele não reagiria bem mesmo que escutasse isso com cuidado. E em um momento desse o senhor simplesmente joga a notícia na cara dele? — Discurso.

— Ah, por favor, Aurora. A notícia foi jogada na sua cara do mesmo jeito e você já aceitou. Já aceitou e está gostando da ideia de ter um bebê mesmo tão jovem. Matthew é adulto, já devia saber enfrentar certas coisas como um. — Meu pai se irritou por eu ter o defendido.

— Pai eu não tenho traumas, eu não… ok, eu perdi vocês, mas antes disso tive um grande exemplo. Tive exemplo de como ser uma mãe, tive exemplo de um pai incrível que você foi. E ele? O que tanto assombra ele que ele tem tanto medo disso? — Sondei exasperada.
    Meu pai não soube o que me responder, se recusa a me contar o que o Matthew esconde do passado.

— Você está certa. Desculpe. Mas ele não tem o direito de fugir, Aurora, não tem. — Ressaltou.
    Ponderei encarando o prato e me levantei, não teria mais estômago para comer agora.

— Perdi a fome, vou pro meu quarto. — Saí da sala de jantar.

    Ele não tem o direito de ir embora, mas tem livre arbítrio para fazer tal coisa. Ele não tem o direito de me deixar com um filho dele na barriga aqui, no entanto, é o Matthew, e ainda que seja muito previsível em algumas situações, nunca sei o que esperar do Matthew.

    Entrei no quarto e para não ficar pensando besteira, peguei um caderno da faculdade e me sentei na mesa em frente a janela para revisar as matérias que ando perdendo. Mas quando olhei para o jardim vi Matthew sentado na grama, com os braços apoiados nos joelhos dobrados perto do peito e o blazer jogado ao seu lado.

    Me levantei, saí do quarto e desci as escadas. Talvez fosse bom deixar ele sozinho um pouco, todavia, precisamos conversar, eu preciso saber o que ele acha de tudo isso. Minhas pernas estavam tremendo como as de uma criança que recebe gritos de um pai bravo quando me aproximei dele e me sentei na grama ao seu lado.

    Ele continuou com o olhar fixo no muro de plantas na nossa frente. As bochechas molhadas de lágrimas e os olhos vermelhos. Os dedos brincando com as gramas que ele arrancou do chão, inquieto. Os cabelos bagunçados como se ele estivesse esfregado a mão neles, a gravata folgada e os botões da camisa social abertos.

Meu Destino Em Suas Mãos Onde histórias criam vida. Descubra agora