𝒄𝒂𝒑𝒊́𝒕𝒖𝒍𝒐 𝟔 - 𝒐 𝒍𝒂𝒅𝒐 𝒇𝒆𝒊𝒐 𝒅𝒂 𝑭𝒐́𝒓𝒎𝒖𝒍𝒂 𝟏

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Naomi's POV

– Dia de treino classificatório, Jeddah –

Depois de uma reunião de duas horas e meia entre os vinte pilotos da categoria na noite de ontem, a Fórmula 1 resolveu que não suspenderia o Grande Prêmio da Arábia Saudita. O motivo? Diziam os boatos que rodeava entre dinheiro e uma ameaça velada do governo saudita, que alegou que só poderia proteger a saída do pessoal se a corrida acontecesse.

- O café tá acabando, Sniffs - Aya disse quando saí do nosso banheiro sem porta, depois de fazer a minha higiene matinal. Assim que ela entrou no meu campo de visão, cobriu o nariz com a própria mão, rindo - e se for pra ficar sem essa porta, a gente vai ter que comprar um Bom Ar.

Revirei os olhos, rindo, apesar de preocupada com o sistema de autodefesa da garota.

- Não me olha assim - ela pediu, percebendo a apreensão. - Nós temos bastante coisa pra comemorar hoje à noite e não vai ser um missilzinho de nada que vai parar a gente.

- Amiga, não precisa...

Todo o falso humor de Aya se desvaneceu quando ela levantou o dedo indicador fazendo um chiado rápido com a boca, pedindo para que eu ficasse quieta.

- Eu quero ir, me distrair. Ou eu vou surtar antes que a gente possa sair dessa cidade.

Assenti, em silêncio, desbloqueando o celular para procurar algum bar legal pela região e dando o assunto da crise como encerrado. Peguei uma caneca sobre a bancada, enchendo-a até o topo com o líquido preto e quente que salvaria o dia de todo mundo naquele paddock - até porque, ninguém conseguiu ir embora antes das duas da manhã, quando nos contaram o veredicto sobre o fim de semana.

- A gente só tem um problema, estamos na Arábia Saudita. Duas mulheres sozinhas à noite em um bar não vai soar muito bem. - Entortei a boca, desviando o olhar da tela do Google para o rosto frustrado de Aya - mas até anoitecer a gente dá um jeito.

Sentei à pequena mesinha redonda que havia em frente ao frigobar, pegando um pacote de bolacha recheada que havíamos comprado há alguns dias e abri o Twitter para ver, mais uma vez, como andava a repercussão da minha matéria da semana. Ainda parecia mentira pensar que a minha segunda publicação oficial bateu o recorde de engajamento da conta esportiva da emissora.

- Só comentário bom? - Aya perguntou, se sentando à minha frente, sem que eu precisasse contar o que estava na tela.

- A maioria - respondi, rolando a página. - Tem gente concordando, tem gente perguntando por onde anda Mariana Becker, pedindo doação pra cirurgia de cachorro e... nossa, me chamando de mal comida.

A garota cuspiu a bebida de volta à xícara, rindo.

- Responde aí, vai - ela ainda ria, apontando para o celular - "mal comido é o seu cu, porque eu mesma transei há" e fala aí o último dia em que você transou. Vai aparecer até na Hugo Gloss, você vai ver. A fama vem mais rápido do que a gente pensa.

Eu juro que tentei ficar séria, mas não tinha nem como fazer isso.

- Porra, mas se eu contar a última vez que eu transei só vai reiterar o argumento do "mal comida", amiga - retruquei enquanto ela enxugava uma lágrima que escorria de seu olho, tentando se recuperar.

- E quando foi?

- Não tenho nem ideia - eu já estava recuperando o controle da minha respiração quando comecei a fazer as contas. - Foi com aquele gringo que a gente encontrou no autódromo de Curitiba, eu acho.

Ayana me encarou incrédula, deixando a caneca sobre a mesa e tentando (em vão) esconder o sorriso que ainda estava em seu rosto.

- Naomi, aquilo faz sete meses. A menina aí embaixo já deve estar com teia de aranha.

FLYING LAP [HIATUS E REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora