𝒄𝒂𝒑𝒊́𝒕𝒖𝒍𝒐 𝟑𝟓 - 𝒆𝒖 𝒕𝒆 𝒐𝒅𝒆𝒊𝒐

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Lucca's POV

Monte Carlo, Mônaco.

Domingo: dia de corrida.

Naomi apoiou as costas na parede escura da área externa da boate, e a imitei, obedecendo ao bom senso que me mandava ficar a alguns centímetros de distância da jornalista. Não sei exatamente por quanto tempo ficamos ali em silêncio, mas me parecia uma eternidade. Até que, pelo canto do olho, vi suas mãos tirarem um punhado de lenços de papel da bolsa que estava carregando e o trouxe até o rosto para assoar o nariz.

- Desculpa insistir, mas você tá bem mesmo? - Perguntei, virando o rosto para olhá-la depois de algum tempo em silêncio. Como meus pés estavam afastados da parede e ela se mantinha ereta, nossos olhos estavam praticamente na mesma altura. - Nunca sei o que fazer quando as pessoas choram. Eu posso chamar a Aya, se você quiser. Ou o Nyu. Só não chamo seu primo porque... Tipo, sei lá. Tá vendo? Não sei o que eu tô falando.

Ótimo. Eu estava tagarelando. E ela riu.

Espera, ela riu?

- Não quero a Aya - respondeu, se esticando para jogar o papel sujo no lixo que havia ali perto. Respirou fundo, deixando os ombros caírem. - E não tô chorando, Lucca. Precisa de um pouco mais do que um velho nojento pra me fazer chorar.

- Então...

- Já percebeu que a Aya me chama de Sniffs? - Ela ergueu os olhos castanhos para mim, sorrindo, e assenti com a cabeça. - É o som que meu nariz faz quando minha rinite ataca. Acho que foi o perfume do velho.

Não conseguindo segurar o riso, voltei a apoiar a cabeça na parede que havia atrás de nós. Ela me acompanhou, mas logo deixamos que o silêncio tomasse conta novamente. Estávamos próximos à saída e, como a Jimmy'z ficava abaixo do nível da rua, a área era iluminada somente pelo néon azul do letreiro luminoso no topo da escada ao nosso lado.

- Obrigada - ela disse, me trazendo de volta à nossa conversa. Tinha a voz baixa e sincera, principalmente quando virou a cabeça na minha direção. - De verdade.

- Não há de quê - dei de ombros, sorrindo, e percebi o quanto seu rosto estava hesitante pelo o que diria a seguir.

- E, Lucca, sobre ontem na praia...

- Não precisa - fechei os olhos com força, querendo evitar o fora iminente. - Eu te entendo, de verdade. É só que, bom, achei que você precisava saber e...

- Shiu, quietinho - me pegando de surpresa, a garota repetiu o que eu havia dito antes de começar a despejar todo o discurso sentimental pra cima dela. Franzi o cenho, olhando-a sorrir ao se desencostar da parede e andar até estar à minha frente. - Você disse o que queria dizer, agora é minha vez. Tô esperando a noite toda para arranjar coragem.

Assisti calado enquanto Naomi afastava as próprias pernas de leve para poder se aproximar de mim até que poucos centímetros separassem nossos corpos. Com o rosto na altura do meu, ela estava séria, parecendo concentrada até demais no que tinha a dizer. Correu os olhos pelo meu rosto devagar, parando-os na minha boca por algum tempo.

Sem pensar muito, quase que por instinto, levei a mão até a mecha castanha e ondulada que lhe escapava pelo rosto.

- Eu te odeio - declarou, por fim, e as únicas três palavras me impediram de me aproximar como eu gostaria de ter feito. Ela, no entanto, não se afastou. Manteve-se naquela mesma posição, nem ao menos desviou enquanto eu colocava a mecha teimosa para trás.

- Tô ouvindo - respondi, incentivando-a a continuar ao invés de interrompê-la. Por mais que eu preferisse receber meus foras do modo mais direto possível, Naomi não parecia fazer o tipo que dispensa sem dar explicações. Então, se fosse para doer, que doesse por completo para não me deixar dúvidas.

FLYING LAP [HIATUS E REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora