𝒄𝒂𝒑𝒊́𝒕𝒖𝒍𝒐 𝟑𝟑 - 𝒈𝒓𝒂𝒗𝒂𝒕𝒂 𝒃𝒐𝒓𝒃𝒐𝒍𝒆𝒕𝒂

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Naomi's POV

Monte Carlo, Mônaco

Domingo: dia da corrida.

- Não acredito que me fez vir encharcada desse jeito - reclamei, descendo os olhos pela minha própria camiseta. - Eu tô fedendo, Felipe.

- É champanhe, não água de esgoto - o autor daquela lambança constatou de dentro do provador, rindo. - Não fede tanto assim. É o que dá quebrar o código de vestimenta monegasca da Aya - ele riu mais ainda, se referindo ao surto que minha melhor amiga teve ao me ver de jeans e camiseta no paddock mais cedo.

Mesmo que ele não pudesse ver, mostrei a língua em um gesto tão infantil quanto fora a cena do rapaz correndo em nossa direção e espirrando bebida para todos os lados. Gui ainda estava no pódio quando aconteceu (ele havia alcançado um maravilhoso terceiro lugar na corrida), mas Aya e Nyu acharam a maior diversão do mundo - e eu também, é claro, até o momento em que Drugovich começou a implorar para que eu o acompanhasse até a França para lhe ajudar na urgente missão de comprar um terno.

Calma, eu explico.

Ouvir que "the boy from Brazil wins once again" [o garoto do Brasil vence mais uma vez] estava praticamente virando rotina na Fórmula 2 e, naquele domingo, Felipe havia ganhado sua quinta corrida na temporada que liderava com ampla vantagem. Só que essa, é claro, era diferente: vencer em Mônaco era uma honra. Se o piloto fosse da Fórmula 1, então, a honra era maior ainda: a prova era uma das três corridas mais importantes dos monopostos, junto das 24h de Le Mans e das 500 milhas de Indianápolis.

De qualquer modo, Drugo não estava na Fórmula 1, mas a conquista ainda era digna de honrarias. Tão digna que me trouxe até outro país - a, acredite ou não, meia hora de carro - para ajudar o bonito a escolher o terno que usaria para jantar com o príncipe de Mônaco e os outros vencedores do fim de semana. "Eu preciso de opiniões, Naomi, pelo amor de Deus!", ele me puxava desesperado pelo paddock enquanto eu ainda relutava em ir. "Não achei que eu fosse vencer essa merda. É um jantar de gala com a família real e eu não tenho roupa!".

No final, depois de uma noite quase em claro repassando mentalmente tudo o que ouvi na praia, sair de perto do circuito estranhamente me fez bem. Felipe também tinha os próprios problemas para pensar, então em tese eu ganhei um bom tempo de silêncio para pensar em tudo com mais clareza - só que ainda não tinha ideia do que fazer. Por esse motivo, inclusive, eu virei as costas como uma perfeita pré-adolescente imatura quando Lucca acenou para mim no paddock, mais cedo.

Uma perfeita idiota, eu sei. É só que... Sei lá, eu ainda não sabia como fazer o que eu pretendia e, no português claro, fiquei com medo de cagar no pau. Falar do jeito errado. Magoar ele. Não sei.

Mas o que importa é que lá estava eu. Sentada no sofá de espera de uma loja de departamento francesa de gente fresca, cheirando à champanhe, enquanto um piloto lutava contra uma gravata borboleta dentro do provador. Por que minha vida às vezes se parece tanto com uma sitcom?

- Me diz que você sabe amarrar esse treco, por favor - ele saiu do provador quando eu amarrava meu cabelo em um coque mal-feito, e tinha a gola da camisa enfeitada pelo nó mais feio que eu já vi na vida. Me aproximei, rindo, e comecei a desfazer a arte. - Não era só dar um laço?

- Pois é, né? Pilota um carro a trezentos por hora, mas não dá o nó numa gravata. - Foi a vez dele rir, olhando o próprio reflexo no espelho atrás de mim e se mexendo mais do que deveria para ver como a roupa lhe caia. - Felipe!

- Desculpa, desculpa - ergueu as mãos, se rendendo antes de respirar fundo. - Tô nervoso, só isso. A maioria das pessoas lá são das Academias grandes, sabe? É importante.

FLYING LAP [HIATUS E REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora