𝒄𝒂𝒑𝒊́𝒕𝒖𝒍𝒐 𝟏𝟎 - 𝒑𝒆𝒒𝒖𝒆𝒏𝒂𝒔 𝒗𝒊𝒕𝒐́𝒓𝒊𝒂𝒔

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Lucca's POV

Melbourne, Austrália.

Sexta-feira: dia de treinos livres.

Mesmo que o Sol estivesse quase se pondo, o calor daquele lado do mundo ainda era suficiente para fazer com que uma gota de suor escorresse pela minha têmpora. Apesar de não estar onde eu deveria - dentro do carro -, preciso dizer que acompanhar os treinos livres ao lado do chefe de equipe não era nada mal. Claro, havia muito mais telemetria e engenheirês do que a adrenalina e o frio na barriga que eu queria, mas já era alguma coisa.

- Que isso? - Andreas me perguntou, franzindo o cenho por trás do óculos para o líquido vermelho e borbulhante que havia dentro do meu copo.

Dei de ombros, fingindo estar muito menos empolgado com o nome da bebida do que eu realmente estava.

- Foi indicação do garçom. Ele chamou de refrigerante de laranja sangrenta, se não me engano.

Inclinei o copo na direção do chefe, oferecendo um pouco, e o vi estender a mão com um sorriso hesitante no rosto. Levou o canudo à boca e, ao puxar o líquido para si, ergueu as sobrancelhas em aprovação.

- Cara, por nada, não - ele deu mais um gole -, mas posso ficar com esse aqui?

- Claro - eu ri, aliviado por ter conseguido agradá-lo de algum jeito.

Andreas Seidl não era o rosto mais popular aos olhos do público, mas eu acreditava piamente que a fama de "grande família" que a McLaren carregava era de responsabilidade sua. Era impossível ficar deslocado ao lado dele. Ele impunha respeito, é claro, como exigia o seu cargo - mas isso não o impedia de comemorar cada pequena vitória do time como se fosse um título mundial.

Acho que era isso que o diferenciava dos demais. No fim de semana que passei com a Aston Martin, em Jeddah, a equipe papaya conquistou seus dois primeiros pontos da temporada, e eu ouvia de longe a comemoração puxada pelo alemão.

Assistir um treino livre ao lado de Seidl era uma honra, mas funcionava como uma faca de dois gumes para mim. Sempre que eu o pegava me observando, inevitavelmente me lembrava de que ainda não tinha lhe dado nenhum motivo para celebrar, e provavelmente não o daria tão cedo. Afinal, era esse o mal do piloto reserva, não? Ter poucas oportunidades para mostrar do que é capaz.

Eu estava bastante ciente desse risco quando aceitei o cargo, mas qualquer posição na Fórmula 1 já era melhor do que ficar de fora. Só não imaginava que teria (assim, logo de cara) duas oportunidades de mostrar meu potencial para duas equipes diferentes, e que não marcaria ponto algum. Era frustrante, pra dizer o mínimo - e eu não era o único a saber disso. As equipes sabiam, os chefes sabiam, e o pior: a imprensa sabia. Naomi sabia.

Só que por alguma razão, ela não usou isso contra mim na sua última matéria.

Na verdade, mal mencionou meu nome - só algo relacionado ao decepcionante carro da Aston. Assim que o texto foi publicado, Julie faltou estourar um champagne pelo fato de não ter nenhuma crítica destrutiva sobre Lucca Fontana naquela semana. "É uma puta evolução!", ela gritou pela chamada de vídeo. Comemorar pequenas vitórias, pelo jeito, estava virando uma mania naquele paddock.

Assim que o relógio indicou o fim dos treinos, deixei os fones de ouvido sobre a mesa e me virei, distraído, para observar Lando e Daniel voltando para a garagem. De repente, um assobio forte chamou a minha atenção para o andar acima da garagem, na parte do paddock reservada aos fãs. Lá, apoiando o corpo esguio na grade, estava a mulher de cabelo ruivo acenando energicamente para que eu a seguisse. Pulei do banquinho, me despedindo de Andreas, e corri até encontrá-la no meio do caminho entre o paddock e a garagem.

FLYING LAP [HIATUS E REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora