𝒄𝒂𝒑𝒊́𝒕𝒖𝒍𝒐 𝟑𝟕 - 𝒎𝒐𝒗𝒆𝒓 𝒂 𝒎𝒐𝒏𝒕𝒂𝒏𝒉𝒂

135 35 19
                                    


Naomi's POV

Nápoles, Itália.
Quarta-feira.

Está aí um assunto que as gerações anteriores nunca entenderiam.

Sabe quando você começa a conversar com alguém por mensagem e descobre que, sei lá, ele escreve tudo com H no final ao invés de colocar acentos, ou nunca usa a vírgula quando você é a neurótica da seca com relação a elas, e do nada a internet faz aquela pessoa começar a perder um pouco do brilho que tinha pessoalmente?

Com Lucca não foi assim.

Mesmo depois de anos sem trocar mais de meia dúzia de mensagens com aquele garoto, ele ainda era o "senhor certinho das vírgulas" de quando tínhamos dezessete anos. Ainda assassinava a gramática em alguns momentos - como, pelo amor de Deus, trocar o "mas" pelo "mais" inúmeras vezes -, só que nossos assuntos se emendavam um ao outro com tanta facilidade que isso (quase) não me incomodava.

A maior prova é que fazia pouco mais de quarenta e oito horas desde que nos despedimos com um beijinho ridículo no rosto no aeroporto de Mônaco, e eu já não podia contar quantas mensagens havíamos enviado um ao outro a partir do simples "odeio aviões" que Lucca me mandou inicialmente. Depois disso, a conversa foi flutuando entre os melhores filmes no catálogo da companhia aérea, o melhor jeito de se fazer um chocolate quente - ele cismou que se mistura leite em pó ao normal - e se perdeu em algum ponto do caminho até chegar no tópico "morar sozinho", que era o que estava em pauta naquela noite de quarta-feira.


"Lucca: é legal, mais meio solitário?"

"Lucca: não sei explicar"


"Nessa parte eu não posso opinar", digitei sentada em uma das banquetas do balcão da cozinha. "Aya e eu dividimos o aluguel, então meio que só fico sozinha quando ela tá trabalhando in loco e eu não". Saí do WhatsApp, bloqueando a tela, e me levantei para finalmente fazer o que me levou até ali - mas, é claro, o celular vibrando com a resposta roubou minha atenção mais uma vez, e quando me dei conta já estava debruçada sobre o balcão novamente.


"Lucca: aí fica mais fácil"

"Lucca: o apartamento é grande, então?"


"Mais ou menos", fiz uma careta que ele não podia ver. Passei os olhos pelo imóvel que agora nós duas chamávamos de casa e, realmente, estava longe de ser classificado como algo "grande". "É confortável", enviei depois de pensar um pouco em como classificá-lo. "Dois quartos, sala, banheiro, cozinha e uma vista legalzinha".


"Lucca: não é melhor que a minha"


"Duvido", respondi. A minha varanda era preenchida por uma paisagem razoavelmente comum - uma rua com prédios residenciais parecidos com o meu: velhos, mas até que charmosos. Principalmente no fim da tarde, como descobri nas semanas em que Diana me "substituiu" no paddock. Tinha uma hora específica, lá pelas cinco e meia, em que o pôr do sol entrava pelo fim da rua e refletia só nas janelas que estavam abertas. Durava pouco tempo e em alguns dias nem haviam vidros suficientes para formar aquele mosaico alaranjado, mas ainda assim... Valia a pena ver.

Eu nem havia reparado que estava encarando a porta da varanda ao imaginar aquela cena, mas quando me dei por mim voltei a olhar para o celular, vi que ele ainda não havia respondido e aquilo me soou como uma boa desculpa para deixar a tecnologia de lado pela primeira vez em algumas horas.

FLYING LAP [HIATUS E REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora