𝒄𝒂𝒑𝒊́𝒕𝒖𝒍𝒐 𝟏 - 𝒃𝒐𝒏𝒊𝒕𝒊𝒏𝒉𝒂, 𝒎𝒂𝒔 𝒐𝒓𝒅𝒊𝒏𝒂́𝒓𝒊𝒂.

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Lucca's POV

Sakhir, Bahrein.

Quinta-feira: dia de coletiva de imprensa.

- Eu não tenho paz nem na porra do Oriente Médio? - Murmurei, finalmente desviando o olhar da garota no fundo da sala.

Ao meu lado, Zhou franzia as sobrancelhas, silenciosamente me questionando o que eu havia dito em português e balancei a cabeça em negativa.

- A primeira pergunta - o segurança passou a mão pela abertura da pequena urna sobre a mesinha ao nosso lado. - Natalie Pirks, da BBC Reino Unido. Senhora Pirks, por favor, anuncie para quem será a pergunta antes de fazê-la.

A jornalista loira ao lado de Naomi se levantou, esticando o braço para pegar o microfone da mão de um dos seguranças antes de se virar para mim com um ar simpático.

- Lucca Fontana - ela anunciou, e assenti com certo frio na barriga. - O que você gostaria de fazer pelo time neste final de semana, e o que realmente espera que vai conseguir?

- Obrigado - agradeci a Zhou pelo microfone que ele passava para mim antes de responder à pergunta de Natalie. - Eu gostaria de liderar uma dobradinha, para ser bem sincero - alguns risos pipocaram pela sala enquanto os jornalistas faziam suas anotações -, mas marcar alguns pontos pela equipe já vai ser de bom tamanho e acho que é algo que está ao meu alcance.

- Um P4 para abrir a temporada, como o Lando no ano passado? - Ela continuou, esperançosa por uma manchete.

- Não vejo porquê não.

Em meio a alguns flashes, a britânica assentiu sorrindo por trás da máscara antes de se sentar novamente. A coletiva, então, se desenrolou normalmente e para minha felicidade, a minha presença parecia ser o objeto de menor interesse dos jornalistas - a volta de Magnussen à categoria era, sem dúvida alguma, o prato principal do dia. Por isso, vez ou outra eu me flagrava esticando o olhar novamente para o fundo da sala.

Alheia a tudo que não estivesse com um microfone na mão, a garota fazia anotações pontuais no pequeno bloquinho que tinha sobre o colo. "Bonitinha, mas ordinária", pensei. Esse, na verdade, era um ótimo rótulo para a jornalista de camiseta violeta em meio a tantas cores mais neutras. Competente, talvez. Petulante e indelicada, com certeza. E além de tudo, magnética - porque, de algum modo, eu não conseguia desviar o olhar daquela garota.

Não era difícil encarar os olhos castanhos de Naomi e esquecer das perguntas mais incisivas que já ouvi na vida - mas não dava para esquecer do efeito delas. Eu não sei nem explicar o tanto que aquele bloquinho rabiscado já me crucificou - e isso só na época em que ela escrevia em um blog no Twitter. Imagina agora, em rede nacional?

- Agora por último, mas não menos importante - o segurança anunciou bem-humorado, e um arrepio me correu pela espinha. Só uma jornalista ainda não havia sido chamada. - Naomi Couto, da Rede Bandeirantes, Brasil.

- Lucca Fontana - a voz feminina que meus ouvidos já conheciam anunciou enquanto ela se levantava. Naomi esticou a mão para pegar o microfone da mão de Natalie, a britânica, e ajeitou a postura antes de continuar. - Lucca, seu nome foi escalado para ser o reserva da McLaren no final de 2020. Mais de um ano depois, acha que ainda merece a vaga?

- Eu fui vice-campeão da Fórmula 2 naquele ano, então sim - respondi, categórico.

A garota soltou um riso breve e debochado antes de continuar:

- Ano passado você mal pisou em um pódio.

- Não tínhamos um carro tão competitivo.

- Seu vice-campeonato foi mérito do carro, não do piloto?

FLYING LAP [HIATUS E REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora