𝒄𝒂𝒑𝒊́𝒕𝒖𝒍𝒐 𝟒𝟎 - 𝒐 𝒔𝒖𝒑𝒆𝒓 𝒑𝒐𝒅𝒆𝒓 𝒅𝒐 𝒗𝒐̂𝒎𝒊𝒕𝒐

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Ayana's POV

Bacu, Azerbaijão.

Sexta-feira: dia de treinos livres.

Como é possível alguém sentir tanto enjoo de uma só vez?

Uma coisa é estar em casa, com Naomi do meu lado observando com um cuidado quase excessivo todo movimento que eu faço. Parece que eu sempre estou prestes a me esborrachar no chão e matar a mim, ao bebê e a ela, mas pelo menos a garota fica constantemente à postos para segurar meu cabelo no banheiro.

O que, para ser sincera, me dá uma pontada incômoda de culpa por não ter lhe dito antes.

Ou por não ter dito que essa criança foi, na verdade, concebida em Ímola, quando ela estava tão deprimida pela briga com Lucca que eu não me senti à vontade de contar que havia transado com Zhou. Até que Naomi possa ter o insight de fazer as contas e perceber que talvez meus enjoos tenham começado cedo demais, ela vai achar que aconteceu em Miami - quando desistimos de tentar manter em segredo.

Agora ela sabe, era o pensamento que me confortava quando via todos os esforços dela para que eu ficasse confortável - inclusive ligar para Giangi, o cinegrafista, e dizer que eu não me sentia bem o suficiente para pegar o vôo na quarta. Ele sugeriu que eu ficasse em casa, que conhecia um suíço que poderia me substituir, mas recusei a oferta. Depois de todo o protocolo para provar (somente à empresa) que eu não estava com Covid-19, entrei no avião na sexta de manhã para assegurar que suíço nenhum teria chance de ficar com a minha vaga.

Mas o ponto é que, ali no banheiro do aeroporto de Heydar Aliyev, o mais próximo da capital azerbaijã, eu estava sozinha, me questionando sobre a decisão da minha própria teimosia e percebendo que os cuidados excessivos da minha melhor amiga estavam fazendo muita, muita falta. Por um milagre, consegui prender o cabelo para dentro da blusa antes de me debruçar sobre a privada e evitar uma tragédia maior do que a necessária.

E, Dieu, eu não queria nem pensar sobre os próximos vinte quilômetros de carro até Bacu. E o translado na cidade. E o sol incômodo que batia naquele paddock. E os cafés da manhã, os almoços podres e rápidos e os jantares. E a volta até o aeroporto para, puta merda, subir em mais um avião. E tudo sozinha. Pensar nos próximos dias só contribuiu para uma segunda onda de vômito que descia pela descarga.

Alguém bateu à porta da cabine e perguntou algo em azerbaijão que eu não fazia ideia do que significava, mas pelo tom preocupado, entreguei a resposta em inglês que me parecia mais óbvia:

- Estou bem, obrigada - e tome-lhe uma terceira onda.

Limpei a boca com as costas da mão, engolindo o choro, quando ouvi o som de notificações que me fez levar a mão até o celular que descansava em cima da mala.

"Zhou Guanyu: Amor? Você vem esse fim de semana?"

"Zhou Guanyu: Tô ficando preocupado"

"Zhou Guanyu: Me liga quando aterrissar"

"Zhou Guanyu: Quer dizer, isso se você vier"

"Zhou Guanyu: Faz quase uma semana que você não me responde"

"Zhou Guanyu: Vou estar hospedado no Sahil Inn"

"Zhou Guanyu: Eu fiz alguma coisa?"

A impressão que eu tinha era de que essa criança, que ainda não era maior que um grão de feijão, criava uma perninha espiritual e atlética para dar uma bicuda no meu coração a cada vez que o nome dele piscava na minha tela. Eu ia bloqueá-lo, juro que ia, mas não consegui. O máximo que tive forças para fazer foi mudar o contato de "Nyu" para o nome completo, e sem o coração roxo de sempre.

FLYING LAP [HIATUS E REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora