𝒄𝒂𝒑𝒊́𝒕𝒖𝒍𝒐 𝟐𝟖 - 𝒇𝒐𝒓𝒂 𝒅𝒐 𝒕𝒓𝒂𝒄̧𝒂𝒅𝒐

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Lucca's POV

Barcelona, Espanha.

Domingo: dia da corrida.

Não sei quem quase derrubou quem, mas sei que quase fomos ao chão. Também não sei quem estava falando mais alto, ou quantas pessoas estavam nos mandando à merda mentalmente por tanto barulho naquele corredor abaixo do pódio. Só sei que era o melhor fim de semana do mundo para Felipe Drugovich, que me abraçava ensopado de champanhe sem álcool.

- O primeiro! - Exclamei, afastando-o de mim pelos ombros e rindo alto. - O primeiro piloto da história da Fórmula 2 a ganhar as duas corridas do fim de semana! Você tem noção, seu filho da puta?!

- Não - ele admitiu, também rindo, com o grande troféu ainda em mãos. - Acho que ainda não tenho, para falar a verdade. É absurdo, não é?

Felipe se virou para cumprimentar alguns membros da sua equipe que passavam por ali em êxtase, admirando a taça prateada como se fosse o objeto mais lindo que já haviam visto na vida - e, contando com tudo o que ela representava, era capaz de ser, mesmo. Com a vitória dupla em Barcelona, ele estava quase trinta pontos à frente do segundo colocado do campeonato, o que lhe garantiria a liderança por pelo menos mais um mês sem qualquer risco.

Enquanto ele cumprimentava mais algumas pessoas, um movimento no final do corredor chamou minha atenção e virei a cabeça para ver dois homens engravatados que nos observavam do lado de fora do prédio. Ou melhor, observavam o Drugo. Estavam conversando em um tom mínimo que me impedia de ouvir qualquer coisa, mas os olhares admirados e os crachás pendurados no pescoço com o símbolo da Fórmula 1 exalavam o cheiro doce de um patrocinador em potencial.

E, acredite, se esses caras são importantes para a F1, nas categorias de base eles são ainda mais essenciais. São quem te mantém correndo, em resumo.

- Mas me conta, como é a sensação de chamar a atenção de gente grande? - Perguntei com um sorriso no canto da boca quando nos vimos sozinhos novamente, e Felipe virou o rosto para seguir o meu olhar, só então reparando na presença ilustre dos dois senhores.

- Ótima - ele riu, dando de ombros antes de colar a ponta do indicador contra o meu peito. - E você vai saber disso daqui a poucas horas. Vai conseguir logo um pódio pela Williams.

Eu ri, rolando os olhos. Minha classificação havia sido muito boa, sim - a melhor da equipe na temporada, diga-se de passagem -, mas nós dois sabíamos que não era para tanto. Querendo ou não, eu ainda era só o reserva e a equipe, apesar de tradicional, não tinha carro para me levar a uma posição de pódio. De qualquer modo, era legal da parte dele tentar inflar meu ego.

- Espera, vai largar na oitava? - O rapaz franziu o cenho e acenei com a cabeça, afirmando e tentando entender o sorriso que crescia em seu rosto. - A sorte tá sorrindo ao seu favor, então. O P8 hoje foi do Vips, e ele sempre dá uma derrapada na largada. Hoje mesmo, ele praticamente tatuou o asfalto.

- Tá emborrachada - constatei, mais para mim do que para ele, e Felipe concordou murmurando.

- Mas agora preciso ir, cara - ele apertou minha mão, me puxando para um abraço rápido e se afastando para apontar para o macacão encharcado de bebida. - O pessoal da equipe disse que queria tirar uma foto dessa lambança toda. Boa sorte, hoje.

Drugo se virou de costas, acenando, e senti o bolso da calça jeans vibrando com o celular. Enfiei a mão para pegá-lo, e assim que a tela se acendeu, sorri automaticamente.

"Jost Capito: Pronto, garoto?"

"Nasci pra isso", digitei, confiante. E não era nenhum tipo de fachada: eu estava realmente com a sensação de que daria certo. Acho que era toda a atmosfera que me cercava. Largar de uma posição boa. A confiança inabalável de Julie. Os sorrisos de "viu onde a gente tá?" que a Williams inteira dava pelo paddock - não tinha como não ficar seguro em meio a tudo aquilo, nem como evitar o frio na barriga.

FLYING LAP [HIATUS E REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora