𝒄𝒂𝒑𝒊́𝒕𝒖𝒍𝒐 𝟐𝟔 - 𝑫𝒐𝒏𝒂 𝑭𝒂́𝒕𝒊𝒎𝒂

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Naomi's POV

Nápoles, Itália.

Sábado: dia de corrida em Barcelona.

Eu estava boquiaberta. Quer dizer, eu e metade do mundo, tenho certeza, e o motivo era o que o narrador anunciava empolgado:

- É inacreditável! A Williams largará entre os dez primeiros pela primeira vez na temporada! E quem está atrás do volante é um brasileiro, meus amigos! Lucca Fontana é o nome dele!

- Impossível - resmunguei enquanto andava de um lado para o outro do tapete. Confesso, falar com um copo de coca-cola vestindo um roupão que não estava em seus melhores dias me dava um certo ar de louca. - Vai largar em nono ou décimo, certeza. Ele não tem motor pra quarta fileira.

A Williams tinha o pior carro do grid, e havia quem dizia que aceitar pilotar por ela nesse fim de semana era um tiro no restinho de pé que Lucca ainda tinha, mas ele estava lá. E estava fazendo um milagre com aquela carroça.

Parei com os braços cruzados bem à frente da tabela de classificação no canto esquerdo da tela. Meus olhos alternavam entre o relógio que se aproximava do último minuto do treino e o tempo crescente da volta rápida de Lucca.

- Tá abaixando - constatei ao ver o segundo setor do gráfico ser pintado de verde, indicando que havia sido o seu melhor tempo naquele trecho. Olhei para a tabela novamente e... - Mas ele vai passar o Norris?

Franzi o cenho automaticamente, fazendo as contas com os números à minha frente. Ok, uma quarta fila não parecia mais impossível.

- Sexta posição! Sexta posição! Lucca Fontana larga na terceira fila!

Levei a mão livre ao cabelo ao ouvir aquilo - era absurdo, simplesmente absurdo. Inimaginável para dizer o mínimo. Terminei de ver o treino ali mesmo, de pé. Lucca não aparecia no vídeo da entrevista, mas sua comemoração ao abraçar Julie era tão intensa que a câmera demorou um pouquinho nos dois antes de focar nos três primeiros colocados.

Ainda sem acreditar, estava indo colocar o copo de refrigerante na pia quando senti o celular vibrando no bolso, e enfiei a mão para pegá-lo.

"Gui: Mimi, tudo certo pra Mônaco?"

"Com certeza", digitei sorrindo. "Te vejo semana que vem".

Ir assistir o Grande Prêmio de Mônaco foi um presentinho que eu mesma me dei quando fui promovida e descobri que não participaria do maior evento do automobilismo. Aya dispensou a hospedagem bancada pela empresa quando lhe contei dos planos, e a reserva em um hotel que por pouco não estourava o limite do nosso orçamento foi feita. Apesar do preço alto, eu tinha certeza de que valeria a pena - principalmente porque foi minha avó quem deu a ideia, e Dona Fátima nunca errava.

- Ai, puta merda! - Bati com uma das mãos na testa, lembrando que fazia alguns bons dias desde que vovó me pediu para ligar para ela assim que possível. - Meu Deus, eu sou a pior neta do mundo.

Assim que cheguei na sala novamente, deslizei o dedo sobre a tela até parar no contato com a foto da senhorinha com um bolo de cenoura simpático em mãos e apertei o botão da chamada de vídeo. Dei um sorriso automático encarando a imagem sorridente da minha avó enquanto ela não atendia - o que durou, mais ou menos, uns dois ou três toques.

Dona Fátima era uma senhora muito bem resolvida com tecnologias, obrigada. "Devagar e sempre" era o lema favorito dela nesse assunto.

- Lembrou que tem família? - A voz adorável saiu pelo alto-falante do meu celular, e meu peito se aqueceu no mesmo segundo. Sorri, sem graça pelo vacilo, e apoiei o celular sobre a mesinha da mesa antes de me sentar à sua frente sobre o tapete.

FLYING LAP [HIATUS E REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora