𝒄𝒂𝒑𝒊́𝒕𝒖𝒍𝒐 𝟑𝟔 - 𝒑𝒐𝒅𝒆 𝒙𝒊𝒏𝒈𝒂𝒓

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Naomi's POV

Monte Carlo, Mônaco

Domingo: dia da corrida.

- Naomi, eu juro por tudo que se fosse qualquer outra pessoa eu deixava quieto.

Lucca me colocou no chão, puxando meu rosto para um último selinho antes de começar a se afastar em direção à escada, e eu fiquei simplesmente sem reação. Depois de ouvir todos os "tem certeza que é urgente?", "mas foi tão ruim assim?" e "como ele tá?" no tom mais preocupado que eu já ouvi deixar sua boca, minha cabeça só conseguia trabalhar com as piores hipóteses possíveis - então, sem pensar muito, só me abaixei para pegar a bolsa que havia caído no chão em sabe-se lá qual momento e o segui escada acima.

- O que foi? - Perguntei, correndo atrás dele, e o piloto pareceu um tanto quanto surpreso em ver que eu o seguia, por isso diminuí um pouco o ritmo. - Posso ir junto ou...?

- Não, pode, claro - Lucca respondeu, e logo estávamos no nível da rua. Foi até o posto do manobrista da Jimmy'z e o tom apressado com que falava fez com que o Civic preto chegasse à porta da boate no segundo em que ele terminou de pagar pelo serviço. Entrei do lado do passageiro e ele, óbvio, no do motorista. - É sério, eu sinto muito, muito mesmo.

- Caralho, Lucca - o interrompi afivelando o cinto enquanto ele dava a partida. - Quem é? Onde é o incêndio?

- Certo, desculpa - virou o volante para alcançar a avenida à frente da boate. - O Drugo foi pra um jantar hoje, aquele...

- Da família real, sim, mas acabava bem mais tarde que isso, não?

- Isso - respirou fundo, alongando as costas para distensionar os músculos antes de continuar. - Pelo o que eu entendi, não foi a melhor noite do mundo e ele meio que voltou pro hotel entrou em crise.

Senti um aperto no peito enquanto o carro virava em uma das travessas de Monte Carlo. Eu jurava que daria tudo certo, mas imaginar o rapaz deslocado entre toda aquela gente importante me deu vontade de afundar aquele acelerador eu mesma para chegarmos mais rápido. Ao invés disso, claro, me limitei a olhar pela janela e tomei um leve susto ao ver o meu reflexo no vidro.

- Jesus Cristo - murmurei, puxando o para-sol para baixo pra poder ajeitar o cabelo mais bagunçado que eu havia visto em algum tempo. Lucca desviou o olhar para mim por um segundo, e ouvi uma risada contida deixando sua boca. - Culpa sua, isso aqui.

- Não posso dizer que me arrependo - respondeu, dando de ombros, e fez a curva da rua do meu próprio hotel que, por pouco tempo, eu esqueci que era o mesmo de Felipe. Estacionou à frente do lugar, desligando o carro na sequência. - Vamos?

- Só um minuto - eu ri ao ver que o canto da boca de Lucca carregava um pouquinho do vermelho do meu batom. Passei o polegar pela região, distraída, e tirei o excesso da mancha enquanto ele me acompanhava com o olhar.

Talvez fosse a luz da rua que entrava pelo parabrisa, ou a distância reduzida entre a gente, mas os olhos de Lucca estavam diferentes. O azul tinha um brilho diferente que vacilava entre a curiosidade e a admiração de um jeito que eu ainda não tinha visto. Acho que me perdi um pouco neles, porque quando me dei por mim, minha mão só repousava em seu rosto sem exercer mais qualquer papel.

Ele deu um sorriso rápido, me trazendo para a realidade.

- Prometo que te recompenso depois - se inclinou para me dar um último selinho antes de sairmos do carro e, assim que fechei a porta atrás de mim, o piloto já estava ao meu lado, me puxando pela mão para dentro do hotel.

Acabou que, por acaso do destino, o quarto de Felipe era exatamente na mesma posição que o meu, só que um andar acima, o que explicava bastante da confusão que Lucca fizera na sexta-feira. Ele bateu com os nós dos dedos à porta pintada de branco à nossa frente e, em pouquíssimo tempo, Aya a abriu para nós.

FLYING LAP [HIATUS E REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora