𝒄𝒂𝒑𝒊́𝒕𝒖𝒍𝒐 𝟕 - 𝒏𝒂̃𝒐 𝒆́ 𝒑𝒓𝒐𝒃𝒍𝒆𝒎𝒂 𝒎𝒆𝒖

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Lucca's POV

Jeddah, Arábia Saudita.
Sábado: dia de treino classificatório.

Se meu desempenho no classificatório pela McLaren no Bahrein havia sido lamentável, o da Arábia Saudita era digno de encher a cara até não me lembrar do meu próprio nome. Parecia que a sorte e o azar só vinham em extremos para mim - a sorte absurda de ter sido o primeiro piloto reserva com a possibilidade de responder por três equipes, e o azar horroroso de ter pego as três com o pior motor da temporada.

Vale mencionar que o motor Mercedes tinha sido dominante por oito anos até eu chegar na Fórmula 1? Porque, se valer, leve isso em consideração para contabilizar o grau da feitiçaria que me mandaram. De qualquer modo, não adiantava reclamar - eu teria que fazer uma corrida de recuperação no domingo se quisesse me salvar.

Além de tudo, ainda teve o míssil do dia anterior. Toda vez que eu me olhava no espelho, o nome da "Aston Martin Cognizant Aramco F1 Team" parecia um alvo bordado no meu peito. Uma maré de azar absurda, e eu não vou nem mencionar o fiasco que foi a tentativa de me acertar com a Naomi.

Tudo indo de mal a pior, em resumo.

Com as entrevistas, protocolos e toda a reunião pós-treino com o pessoal da Aston, já passava das oito da noite quando entrei no quarto de hotel. Dei uma forçadinha na porta para fechá-la - a camareira já tinha me contado do truque, porque (acredite ou não) a maçaneta estava com defeito e não fechava tão fácil quanto as outras.

Joguei o celular sobre a cama, mas antes mesmo que ele pudesse se afundar no cobertor branco, a tela se acendeu com a foto de um rapaz orgulhoso exibindo um troféu. Deslizei o dedo pelo botão verde, atendendo-o:

- Senhoras e senhores - levei o aparelho até o ouvido, ouvindo uma batida eletrônica não muito alta ao fundo. - Eis o dono da pole position da Fórmula 2, etapa Arábia Saudita.

- Gostou? - Drugovich riu do outro lado da linha. - Tô tentando te ligar o dia inteiro. Desce aí, o pessoal tá aqui no salão do Rosewood.

- Ah - resmunguei, fazendo uma careta -, tô morto, de verdade.

- Agora que é da alta classe não se mistura mais com os meros mortais?

- Sério, mané, fica pra próxima.

- Vem me dar um oi, ou eu subo pra te buscar - ele insistiu, e levei uma das mãos à testa. - E eu não vou sozinho.

- Tô descendo - respondi, voltando a ajustar a máscara no nariz.

Quando Felipe Drugovich diz que não vai sozinho, não pense que ele traria mais uma ou duas pessoas. Ano passado, em Mônaco, eu inventei de não atender ao chamado do infeliz e ele apareceu no meu quarto com um batalhão para me levar para baixo - e só lembrar das minhas roupas sendo penduradas no ventilador já foi o suficiente para que eu me arrastasse até o elevador do hotel.

Assim que a cabine se abriu no salão de festas, no entanto, meus pés ficaram colados no chão. Não havia tanta gente quanto eu esperava, mas a cena que se formava diante dos meus olhos fez com que eu agradecesse mentalmente por ter colocado a máscara, ou não conseguiria disfarçar o queixo caído.

A alguns metros de mim, sob a meia-luz do salão, Naomi se ajoelhava no sofá bordô e rebolava discretamente sobre o colo de um rapaz que eu não reconhecia. O vestido branco perfeitamente colado ao seu corpo deixava as coxas grossas da garota expostas o suficiente para deixar qualquer um meio desnorteado, e os dois se agarravam com tanta vontade que parecia impossível determinar onde terminava um corpo e começava o outro.

FLYING LAP [HIATUS E REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora