41 - Tudo poderia ser diferente. - parte 2

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continuando...

  Quando entro na casa dos pais do Nawyter e vejo minha mãe, os pais e a avó dele, entro em estado de choque. Fico imaginando, como o ser humano tem coragem de fazer tanto mal para as pessoas. Olho para minha mãe, seu olhar me transmitia medo, suas lágrimas escorriam muito e suas pernas tremiam de tanto medo.
  - Pois bem, estou aqui. Não era eu que você queria? - digo com uma vontade de partir para a ignorância, mas me contive.
  - Quem diria... Meu filhinho veio visitar o papai. - diz Ernesto com sarcasmo e gargalhadas.
  - Deixa o seu sarcasmo e as suas brincadeiras de lado, e vamos logo ao que interessa. - digo.
  - Olha filhinho, respeita o papai, ai ai ai... - disse Ernesto debochando da situação.
-.  Pra que você me chamou pra entrar aqui? Vai me matar?
  - Até que não seria uma má ideia. - Ernesto novamente é sarcástico.
  - Meu filho vai embora! - disse mamãe desesperada.
  - Diego, tranca a matraca da Rose. - Diego coloca a mordaça em todas as vítimas.
Enquanto isso do lado de fora da casa, os policias ficam a postos para algo que possa acontecer. Nawyter fica andando de um lado para o outro, Letícia está a roer unhas e Sr. Harison conversa com o delegado.
Ernesto está decidido a colocar um ponto final nesta história, está decidido. Quem diria que depois de tanto tempo sem nos encontrarmos, hoje estamos aqui, cara a cara. Por mais que ele me fez mal, eu ainda não consigo odia - lo com todas as forças. Eu queria tanto que ele percebesse o quão preconceituoso ele é, e tenho tanto desejo que ele se transforme em uma pessoa melhor. Claro, nossa relação nunca será de pai e filho, porém, só dele reconhecer o erro, ser uma pessoa do bem e me aceitar, já é um bom começo. Tudo poderia ser diferente.
  Dentro da casa, fico olhando de um lado para o outro, observando tudo a minha volta. A casa está suja. Muitos objetos quebrados no chão. Cadeiras quebradas, panos rasgados, obviamente para fazer as mordaças que todos os sequestrados estão usando. Por fim, digo para Ernesto ir logo ao ponto.
  - Vamos Ernesto, me diz o que você quer?
  - Pra começar, quero que você me chame de pai. - diz ele rodando a pistola com os dedos.
  - Ih alá, essa até eu quero ver. - disse Diego debochando da situação.
  - Sem chances. Você deixou de ser meu pai... Aliás, nunca foi. - digo.
  - Porque está dizendo isso? - ele diz com uma voz mais calma.
  - Você nunca teve para comigo uma demonstração de afeto. Nunca me olhou nos olhos pra dizer o quanto me amava. - Meus olhos enche de lágrimas e me aproximo um pouco dele. - Você nunca me disse " Eu te amo", pai você nunca falou. - digo, gritando.
  - Você acabou de me chamar de pai. E foi espontâneo. Você acha mesmo que eu nunca te amei? Acha mesmo meu filho que eu nunca gostei de você de verdade? Poxa Leandro!
  - Pelas suas atitudes, não da pra acreditar que você tem amor.
- Mais eu tenho meu filho, acredite, eu tenho.
  - Tem? Que amor é esse, que odeia, que briga, que não aceita e que provoca? Isso não é amor. O senhor ainda não conheceu o amor, pai.
  - Então me mostra, me mostra esse amor. - diz ele em um tom alterado.
Não posso. Você não deixa. - As lágrimas em meus olhos começam a cair. - Eu te juro pai, juro que o que eu mais quero, é que você aprenda a amar e a me amar de verdade. Me aceitar como eu sou, aceitar meu namorado e o modo de como eu vivo a minha vida.
  - Nunca, você ouviu bem? Nunca! - diz Ernesto aos berros. - Lá fora, Letícia escutou esses gritos e fica apavorada.
  - Gente, o Ernesto está gritando. Meu Deus! O que está acontecendo lá dentro, que aflição!
  - Calma Letícia, não me apavora. - disse Naw todo preocupado.
  - Delegado, eles estão gritando. O que pode ser feito agora? - questionou Sr. Harison.
  - Calma Harison, é melhor a gente ainda não interferir. - aconselhou o Delegado.
Ernesto se aproxima de mim, ele coloca suas mãos em minha cabeça e aproxima sua testa da minha. Fico sem entender a reação e o motivo. Ele começa a chorar.
  - Eu não era assim filho, não era. Mais eu não posso aceitar a sua maneira de viver. - ele retira as mãos da minha cabeça e me encara. - O que você é, é errado ser. As vezes fico pensando, se esse negocio de ser gay é uma coisa da sua cabeça. Acho que você quer chamar a minha atenção. Parabéns, conseguiu. Agora chega, chega filho.
   - Não é pai, não é coisa da minha cabeça. Ser gay não é uma escolha.
  - Se não é uma escolha, então é uma forma que Deus achou para punir os pais ruins.
  - Não é. Em primeiro lugar, Deus não se vinga de ninguém, ele ensina. Em segundo lugar, é a vida, é o destino. E em terceiro lugar sou eu, que decidir viver a minha sexualidade. - Ernesto desamarra minha mãe e re tira a mordaça.
  - Vem, quero que você participe dessa conversa também. - diz Ernesto que pega minha mãe pelos braços.
  - Diz a ele Rose, diz o quanto eu o amava. - disse Ernesto. Ele se mantém a todo momento com a arma na mão. O silêncio paira no ambiente.
  - Seu pai nunca foi desse jeito. Quando o seu irmão nasceu, foi a nossa maior alegria. A gente era muito grato pela vida sabe. Mário foi responsável por unir a nossa família de novo. Seus tios e tias, seus avós, todos, foram até a nossa casa para nos visitar. A família tava sempre por perto. Anos depois, o meu casamento com seu pai estava ficando desgastado. Estávamos brigando muito, discutindo toda hora e se afastando cada vez mais do nosso amor. Porém no meio dessa turbulência toda, descobrimos que eu estava gravida de você. Filho, foi a nossa felicidade. Você foi responsável por unir o seu pai e a sua mãe novamente. Mais eu não sei o que aconteceu com seu pai. De uns tempos pra cá, começou a ficar rude, machista, mal educado e nojento. Tudo isso porque ele não te aceita.
  - Eu te amei muito filho, muito. Mais eu não posso aceitar ter um desgosto tão grande na família. - Ernesto se aproxima de mim novamente. - Esquece quem você é, deixa seu namorado pra lá e vamos viver bem novamente como era antes.
  - Não, você não entendeu. - digo.
  - Você que não entendeu! - Esbravejou Ernesto. Ele me deu um tapa na cara.
  - Não bate no meu filho! - gritou furiosa minha mãe. Ela vai pra cima do meu pai, porém ele a empurra e ela cai no chão.
  - A surra que você não recebeu quando criança, vai receber agora. Bom que aprende a virar homem de vez. - Gritou Ernesto. Minha mãe levanta correndo, pega um vaso de flor da mesa de centro e quebra na cabeça de Ernesto. Ele cai no chão com muita dor na cabeça.
  - Leandro meu filho, desamarra os outros. - diz mamãe eufórica.
  - Não vai desamarrar ninguém aqui. - diz Diego coma arma apontado pra mim.
  - Diego por favor! - disse mamãe.
  - Cala a boca tia, fica sussa em.
  - Leandro, tia Rose! - gritava Letícia desesperada do lado de fora.
  - Olha só quem ta lá fora, a gatinha da Letícia. Sabia que fui eu que fiz o fake, e pedi as fotinhas pelada dela? Ah, e mostrei pra escola toda, lembra? - disse Diego.
  - Seu desgraçado, desgraçado! - gritei com toda força. Corro em direção a Diego e começamos a brigar.
  - Meninos, meninos, parem!!! - minha mãe fica desesperada. - Socorro!!! - gritava mamãe atordoada. - Os policias faziam força para arrombar a porta. Ernesto deitado no chão, estica a mão para pegar a arma um pouco distante dele. Quando por fim ele consegue...
  - Leandro! - gritou. - Diego e eu paramos de brigar, e todos no ambiente voltamos nossos olhos para Ernesto. Olho fixamente para os olhos dele, que por sinal, escorrem lágrimas.
  - Chega, vamos por um fim nesta história. Nunca vou te aceitar, mais me perdoa filho, me perdoa! - Ele dispara a arma. Um barulho forte paira no ambiente.

CONTINUA...



Em Busca da Felicidade (Finalizada)Onde histórias criam vida. Descubra agora