6 - Carnaval.

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Continuando o capítulo anterior...

   Fico olhando nos olhos desse menino e tenho a impressão que já o conheço, só não sei de onde.
   - Tudo bem com você? - Ele me pergunta  quando percebe que eu estava olhando demais pra ele.
   - Estou sim. - digo e desvio o olhar.
   - Ah então que bom né. - ele diz e começamos a rir. - Olha lá o nosso metrô.
   - Até que enfim! Não vejo a hora de chegar em casa. - digo.
Quando entramos no metrô, sentamos no mesmo banco e começamos a conversar mais.
   - Então, você não me contou porque você estava cabisbaixo lá na estação. - diz o menino.
  - Me desculpe. Eu não te conheço e não sei se devo te contar o que aconteceu.
   - Pode contar. Claro se você quiser.
   - Você tem preconceito com homossexuais? - pergunto.
   - Como irei ter preconceito com os homossexuais se eu também sou um? - ele diz e me dá um sorriso.
   - Ah é sério? - digo e começo a rir. - Então sinto mais a vontade em te contar.
Começo a contar para ele tudo o que aconteceu na casa do Harison, e ele me dá um conselho.
   - Olha, vou te falar uma coisa. Você me disse que não ama ele e que sente apenas uma atração. Pelo o que me disse, vocês estão ficando a dois dias. Eu até que concordo com você. É a sua primeira vez e eu acho que antes de uma primeira vez é preciso viver um primeiro amor, é por isso que tem que ser com uma pessoa especial, entendeu? - ele me diz segurando minhas mãos. - E agora saiba que você tem um amigo, quando quiser conversar estarei aqui.
   - Muito obrigado! - digo e nos abraçamos.
   - E a sua família? Te aceitaram bem quando você disse quem você é?
   - Só minha mãe sabe. Meu pai e meu irmão são pessoas difíceis de lidar. Minha mãe descobriu quando eu estava no 6° ano na escola. Naquela época eu vigiava um menino e escrevia cartinhas pra ele, mas nunca tive coragem de entrega - las. Até que um dia minha mãe encontrou as cartinhas e leu.
   - Bom, comigo foi algo parecido. Quando eu estava no 6° ano eu fiquei sabendo que um menino ficava me vigiando. Às vezes até desconfiava. Eu comecei a sentir algo por ele e contei para o meu pai, que inclusive, aceitou muito bem essa situação e me ajudou muito a entender. Minha mãe foi me "aceitando" aos poucos e hoje toda minha família já sabem quem eu sou.
   - Queria uma família que me apoiasse também. - digo triste.
   - Vai dar certo e acredito que você vai vencer esse obstáculo. Se precisar de uma ajuda, estou aqui. - ele diz olhando no fundo dos meus olhos.
   - Obrigado! - digo.
Quando chegamos na Lapa, descemos do metrô e me ofereço para ajudar com as malas.
   - Quer que eu te ajude com as malas?
   - Não precisa não, obrigado.
   - Então vou indo nessa. Até mais, agora não sei quando irei te ver. - digo triste.
   - Pode ter certeza que ainda vamos nos encontrar bastante. - ele diz e vai embora.
   Quando chego em casa, está tudo em silêncio. Meu irmão e meu pai estão dormindo em seus quartos e minha mãe me esperava na sala.
   - Oi filho, chegou cedo. Ainda são 21hrs, pensei que ia chegar mais tarde.
   - Ah mãe eu... - digo e não termino de dizer, porque começo a chorar, sento ao lado de minha mãe e deito no seu colo.
   - O que foi que aconteceu filho. Me conta! - disse minha mãe acariciando minha cabeça.
   - Não aconteceu nada mãe e ainda bem que não aconteceu. O Harison não me entende. Mãe, eu nunca tive um relacionamento com ninguém, nunca avancei para a etapa do sexo. O Harison quer tudo rápido. Pensei que íamos ver um filme e conversar, conhecer um ao outro, mas ele queria outra coisa. Eu interrompi a situação e vim embora.
   - Você fez certo! Não fica assim não filho. Essa etapa das nossas vidas tem que ser com a pessoa certa. - diz minha mãe, quando penso que a pessoa que está no meu coração se foi a anos e que talvez não  vou voltar a vê - lo.
   Depois dessa conversa, vou pro quarto dormir. De madrugada, a insônia me atormenta e o motivo era o garoto do metrô. A semana passa e já é sexta-feira de carnaval.
   No primeiro dia de festa, eu e meus amigos combinamos de irmos até o Tendal da Lapa, que é um lugar onde tem teatros, dança e música. São 21hrs quando Pablo e Vinícius passam em minha casa para irmos todos juntos.
   Quando chegamos no Tendal, vejo lá Harison com Júnior e Micael, vejo Diegão e seus amigos otários, e praticamente quase todos da minha escola.
   - Oi Leandro. Você pode conversar comigo? - disse Harison que quando me viu chegar veio correndo para me perguntar.
   - Hoje não Harison, amanhã tá legal?
   - Então tá. - ele diz e volta para seus amigos.
   - Gente vamos pegar refrigerante lá na barraquinha. - disse Vinícius.
   - Vamos né fazer o quê! Aqui não vende bebidas pra menores, aff! - disse Letícia.
   - Eu compro pra vocês gente. Já tenho 18 lembram? Só não me coloquem em encrenca. - digo.
   - Gente olha lá! A retardada da Juliana tá beijando o Diegão. - disse Vinícius espantado.
   - Mais essa é burra mesmo. Ele praticamente estragou a festa dela e agora está beijando esse cara nojento. Ele deve ter dado droga pra ela, não é possível. - disse Letícia. - Sei que também estraguei a festa, mas o estrago dele foi maior.
   - Como assim Letícia? Você estragou como? - Pablo pergunta bem curioso.
   - Ah é, não contei pra vocês que sem querer, puxei a toalha da mesa e o bolo caiu no chão. - disse Letícia.
   - Sério? Não tô crendo Letícia. Cara você é muito desastrada. Que medo de ter te indicado lá na papelaria. - digo irritado.
   - Foi sem querer, eu não queria fazer isso.
   - A gente sabe que você não teve intenção Letícia, relaxa. - disse Pablo.
   Os cantores chegam e começa a festa. Eu e meus amigos bebemos demais. Vejo Letícia bêbada e rebolando horrores na ritmos sertanejo, vejo Vinícius tentando segurar o seu próprio corpo e por fim, vejo Pablo dançando de um jeito muito esquisito. O único que ficou sã fui eu, porém bebi muito mais não fiquei bêbado.
   Já são 23h30h, os cantores agradecem e encerra a festa. Os policiais começam a dizer para todos saírem do local, porém digo a meus amigos que vou ao banheiro e os bêbados me esperam no portão do Tendal.
   No portão, Juliana vem toda brava para falar com Letícia.
   - Ei Letícia, eu quero falar com você. - disse Juliana bem séria.
   - Oi Ju! Minha amiga, minha best, Pode falar. - disse toda bêbada Letícia.
   - Amiga o caramba! Você acabou com a minha festa. Eu vi as câmeras de segurança do salão. Meu pai pediu as câmeras para ver como a confusão começou. E você sua desgraçada, vadia, você acabou com o meu bolo. - disse Juliana gritando e todos se reúnem para ver.
   - Olha só Juliana, eu não tenho nada contra você, mais eu não vou deixar você falar assim com a minha amiga. - disse Vinícius.
   - Cala a sua boca seu viado, viadinho inútil. - grita Juliana.
   - Ei , Juliana! - grita Pablo. - Que isso cara? Quem você acha que é pra falar desse jeito. A culpa do estrago da sua festa não é da Letícia. Quem estragou a sua festa foi otário do Diegão, que inclusive, você estava a festa toda beijando ele, e outra, não fala assim com o Vinícius porque eu não vou deixar. Ele é meu amigo e eu exijo que você o respeite.- gritou Pablo.
   - Não entendi porque você anda com esses gays Pablo. - disse Juliana.
   - Você está com os olhos avermelhados Juliana. Me parece alterada. O que aconteceu? - pergunta Pablo.
    - Não te interessa. - responde Juliana. - Você me paga Letícia.
   - Me desculpa. Era isso que você queria ouvir? Agora me deixa em paz, vai lá com a sua amiguinha Marcela e me deixa. - disse Letícia bêbada que em seguida vomita na roupa da Juliana.
   - Olha o que você fez garota! - grita Juliana. - agora você me paga. Juliana parte pra cima da Letícia e as duas saem no tapa. As pessoas começam e gritar e eu escuto tudo de lá do banheiro. No banheiro, termino de fazer xixi e quando escuto a gritaria saio correndo. Chegando no portão, vejo os policiais separar a briga. Quando a briga termina, vamos todos embora e vejo a situação dos meus amigos. Letícia só chora e está com a cara cheia de arranhões. Vinícius faz um esforço enorme e Pablo anda torto. Quando chegamos na praça perto de casa Letícia diz.
   - Gente, eu estou com o rosto machucado e estou bêbada, mas olha lá. É o Harison beijando a Marcela ou eu estou imaginando coisas. - disse Letícia.
   Quando olho para essa cena, corro em direção a Harison. Meus amigos tentam me seguram mas não conseguem, também nem força para isso eles tem.
   - Tô atrapalhando alguma coisa? - pergunto e interrompo o beijo do Harison. - Leandro? - Harison diz e fica surpreso.
   - Então aquele papo de que você tinha sentimentos por mim era mentira. Quer dizer então que eu tinha razão. Eu era mais um na sua coleção. - digo em voz baixa encarando Harison.
   - Pera aí. Você estava namorando o Leandro, Harison? Eu sei que você é Bi e não me importo porque sempre quiz te beijar e até você sabe disso. Mas eu não quero acabar com o namoro de ninguém. - disse Marcela.
   - Ah então era aqui que você estava quando eu falei pra sua amiguinha ir te procurar. - disse Letícia.
   - Leandro, eu te chamei pra conversar lá no Tendal e você não quiz. Você brigou feio comigo ontem e eu pensei que o lance que tínhamos já tinha acabado cara. - disse Harison.
   - Não Harison, não tinha acabado. Mas agora, neste exato momento acabou. Não foi só o nosso lance que acabou. Acaba aqui tudo que eu estava começando a sentir por você, acaba aqui quando mudei de opinião sobre você e acaba aqui a nossa amizade. - digo com uma voz exaltada e saio andando.
   - Leandro espera aí! - grita Harison que corre atrás de mim e segura a minha mão. Dou um tapa na cara dele e ele fica espantado.
   - Que isso cara? - pergunta Harison com os olhos cheios de lágrimas.
   - Isso é um tapa. É uma atitude que combina muito bem com o sentimento que estou sentindo por você agora. - digo sério.
   Depois disso todos nós vamos pra casa. Levo Letícia para a sua casa e explico para seus pai, Dona Dalva e Seu Zé tudo o que aconteceu lá no Tendal. Em seguida chego em casa e todos estão dormindo. Entro no meu quarto, abraço meu travesseiro e começo a chorar.
   A Semana de carnaval acaba. Acabou na quarta-feira, porém a escola emendou o feriado até sexta. Passou o final de semana e chega segunda - feira estamos na última semana de Fevereiro. Vou para escola e na sala de aula Harison troca de lugar e se assenta longe de mim. A briga de Letícia com Juliana é o assunto da escola e várias pessoas andam comentando que Diegão deu droga para Juliana.
   Quando acaba a escola eu e Letícia nos despedimos de nossos amigos no portão e no caminho pra casa lembro ela que hoje começa o nossa trabalho na papelaria.
   Chegamos na papelaria às 13hrs. E depois que a Dona Ângela, que é a nova dona, me explica e apresenta a papelaria para Letícia e para mim , pergunto pra ela se ela sabe algo sobre os antigos donos, porque ainda estou pensando sobre o porque via no Nawyter entrar aqui todos os dias.
  - Bom Leandro vou te explicar tudo. - disse dona Ângela.
   - Ele é curioso assim mesmo tá Dona Ângela. - disse Letícia em tom de brincadeira.
   - Não tem problema, eu vou falar para vocês. - disse sorrindo dona Ângela.
   - Sou todo ouvidos. - digo.
   - Bom. Na verdade esse estabelecimento é do meu falecido Marido. A gente morava na roça com a nossa filha e nosso genro. Esta casa, que fica em cima da papelaria também é minha e do meu marido. Ele morreu de câncer no fígado. Quando morávamos todos na roça, alugamos a casa e este local que hoje é uma papelaria.          Quando nosso netinho nasceu, minha filha e meu genro moravam lá na roça, portanto, quando ele completou 12 anos, ela veio morar na cidade porque disse que a criança ia ter mais oportunidades para estudar. Então meu marido naquela época resolveu criar esta papelaria para ajudar minha filha. Não querendo me gabar, mas somos ricos. A gente tem na verdade uma fazenda linda, porém temos o costume de chamar de roça. Quando minha filha ganhou a papelaria, colocou o nome de Papelaria Ana e Paulo. E agora depois que o menino reprovou na escola, ela resolveu voltar a morar na fazenda e eu resolvi sair de lá para mudar um pouco minha vida pacata. A papelaria continuou depois que ela saiu, porém contratamos um gerente para tomar a frente. Semanas atrás, demiti o gerente e resolvi que eu mesma vou ficar a frente.
   - Entendi Dona Ângela. - disse balançando a cabeça. - Então o garoto que entrava aqui era seu neto!
   - E seu neto? Como chama? - pergunta Letícia olhando para mim , pois descobrimos que os antigos dono eram pais do Nawyter e Dona Ângela é avó. Porém perguntamos só para fingir demência.
   - Ele se chama... - disse Dona Ângela que não termina de falar, porque vê o neto saindo da sala da administração da papelaria. - Ah, olha ele aí. Nawyter Ferreira que ele se chama. Olho para atrás espantado e pergunto.
   - Não acredito! Você?
   - Olá menino do metrô! - disse Nawyter que sorri pra mim.
   - Tô Cho - ca - da. - disse Letícia espantada que coloca a mão na boca.





Em Busca da Felicidade (Finalizada)Onde histórias criam vida. Descubra agora