—Atenção, suspeito se deslocando do bar! — comuniquei no rádio, para meus colegas se prepararem.
—Entendido — respondeu Rômulo, o investigador responsável pela operação, que estava dentro de uma van acompanhando tudo. — Pode seguir, não podemos perdê-lo de vista.
Dei mais um gole na cerveja e andei em direção a saída, fingindo estar procurando algo na bolsa.
Fazia três meses que estava me disfarçando para prender uma quadrilha de tráfico de drogas. Aquela organização criminosa estava num esquema gigantesco de produção de heroína e metanfetamina. E como se não bastasse vender no país, estavam exportando as drogas para outras fronteiras.
Um mês antes consegui conhecer o cabeça da facção através de um informante que estava infiltrado. Meu disfarce era de uma usuária que queria começar a trabalhar no ramo do crime. O chefe da organização, Alonso Brown, era conhecido por ter escapado de várias operações policiais. Por isso, estávamos tão empenhados. Falhar não era uma opção.
Toda quinta à noite ele vinha a esse bar beber sozinho. Como o lugar era sustentado pela sua organização, achava seguro suficiente para dispensar seus seguranças. Talvez esse tenha sido o seu maior erro.
Virei a esquina e o vi conversando com seu novo motorista, mal sabia ele que era o Alex, meu colega de trabalho e melhor amigo. Alex tinha uma paixão por corridas e esporte automotivo, isso deixou seu papel ainda mais interessante. Quando sumimos com o piloto de fuga do Alonso, movemos uns pauzinhos para que ele escolhesse Alex como seu novo motorista.
— Senhor Alonso! — Gritei como uma gazela saltitante enquanto acenava para ele — o senhor esqueceu algo!
Mesmo de longe o vi revirar os olhos, ele não gostava de ter seu nome gritado em público, fiz porque sabia que me esperaria para dar um sermão.
— É agora, Victória — o chefe falou em meu ouvido.
— Que caralho, sua idiota! Não grite meu nome! Quer comer terra ainda hoje? — Alonso Brown estava com uma veia saltando da testa. Me lançou um olhar mortal quando o alcancei.
— Desculpe, senhor — abaixei a cabeça vasculhando a bolsa.
—Tudo bem? — Alex saiu do carro e se posicionou estrategicamente ao lado da porta do motorista.
—Só um momento. Vamos, vagabunda! O que tanto procura nessa bolsa?
Senti meu coração acelerar e lutei para não estragar com a missão e estourar os miolos daquele idiota a minha frente. Saquei a minha pistola e apontei para seu rosto. Com uma satisfação indescritível.
—Alonso Brown, você está preso. Acredito que não preciso dizer o porquê, não é?
Ele tentou sacar sua arma também, mas congelou assim que sentiu o cano frio da Glock 40 de Alex, na nuca.
—Nem pense nisso — meu parceiro murmurou.
Peguei as algemas e comecei a falar o aviso de Miranda, enquanto fechava os metais nos pulsos de um dos homens mais perigosos do país.
—Você tem o direito de permanecer calado. Qualquer coisa que disser pode e será utilizado contra você em uma corte legal. Você tem o direito de falar com um advogado. Se não puder pagar, um será apontado para você. Entende esses direitos como eles foram lidos?
—Pro diabo, vagabunda.
Diversos carros, incluindo o de Rômulo, estacionaram ao nosso redor com as luzes acesas. Entreguei o suspeito para um dos colegas e respirei aliviada e agradecida por tudo ter acabado. Alex me deu dois tapinhas nas costas e eu sorri para ele.
—Você mandou muito bem, Vic. Nossa... não vejo a hora de voltar para minha cama, tomar banho na minha casa e comer uma comidinha gostosa — meu amigo fechou os olhos e lambeu os lábios, gemendo com a imaginação.
—Eu também, estou morrendo de saudades do Vicent — me encostei em um dos veículos.
Vincent, é uma das poucas coisas boas que meu pai fez nos últimos doze anos, meu irmão, que fora abandonado pela mãe e negligenciado por papai, é minha jóia mais valiosa.
Eu o tirei da casa maltrapilha e suja faz alguns anos, não aguentava ver meu irmãozinho sofrendo. O menino mal ia à escola, não comia bem e era exposto a bebida constantemente. Ele era apenas uma criança, e mesmo não passando tanto tempo em casa para cuidar dele, eu era sua melhor chance.
Hoje mora comigo em meu apartamento no centro de Richmond e tem tudo que uma criança da sua idade precisa. Exceto, claro, pais presentes.
—Imagino, vocês dois nunca ficaram tanto tempo separados, não é?
—Não. Só espero que ele tenha se comportado nesse tempo.
—Aposto que sim — meu amigo piscou o olho pra mim e se espreguiçou exageradamente.
Era um homem lindo. Já tive uma baita queda por ele quando nos conhecemos, há dez anos atrás, na academia de polícia. De início, o que mais me chamou atenção foram seus olhos verdes, depois seu jeito carinhoso me conquistou, mas acabamos criando um laço de amizade que perpetua até hoje.
Pelo meu histórico de relacionamentos, provavelmente nós acabaríamos nos odiando. Todos os meus namoros acabaram de uma forma ruim, devido a isso, desisti de me iludir com os homens. Agora, apenas os uso para meu prazer. E quando sinto que estou gostando mais do que deveria, dou um jeito de afastá-los. É mais simples assim.
—Lewis? — Rômulo se aproximou com um sorriso no rosto.
—Senhor?
Se não fosse por seu bigode grande e andar desengonçado, o acharia atraente. O investigador tinha por volta de cinquenta anos, mas seu porte atlético lhe deixava dez anos mais jovem.
—Bom trabalho. Você também, Alex. Já falei com as outras equipes, os demais criminosos estão sendo presos nesse exato momento.
—Que bom que deu tudo certo — Alex comentou.
—Sim, e vocês foram peças chaves pra isso. Falei agora com o delegado Erick e ele está muito satisfeito.
—Isso merece uma comemoração — Alex abriu um sorriso. — Aqui em Norfolk tem algum lugar interessante?
—Press 626 Wine Bar. — Rômulo respondeu animado — Atenção! Todos no Press 626 Wine Bar em uma hora! Por minha conta! — gritou para os policiais presentes.
Eu e Alex entramos no nosso veículo e partimos para o apartamento em que estávamos dividindo. Lá nos trocamos e seguimos para o bar.
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A minha vez, Victória Livro 4 Completo
RomanceVictória é uma mulher que vive a vida inten-samente. Acostumada a enfrentar desafios diários como policial, se vê dedicada a desistir do maior desafio da sua vida; encontrar um amor. O que ela não contava, era que o destino colocaria um homem tão in...